domingo, 19 de julho de 2015

255 - FRAGRÂNCIAS DE ONTEM E DE HOJE ...…..

              
             Parei a mota no lugar a elas destinado e, ao levantar a cabeça p’ra retirar o capacete quedei-me pasmado, olhando a loja em frente, a fachada e o fundo, um sorriso empático dançando numa boca tinta de vermelho e, assim como que pisando alfombra ou levitando numa nuvem, senti a ilusória frescura do jardim de Hespérides enquanto na minha mente um filme antigo era rebobinado e o passado lembrado como caindo a conta-gotas.

... «Kermesse de France, Phragrancias de Europa para a mulher ideal, assim mesmo, com ph, montra em vidro negro biselado a dourado, decerto da mesma idade,  Paris, loucura, anos vinte, Casa phundada em 1927, ... ta explicada a coisa, a coisa e o estilizado novecentista de uns lábios e de umas pernas no vidro da montra e cujo significado demorei  séculos a entender, ... os lábios retintos de vermelho da velhinha, teria sido bailarina ? aprumada, arranjada, linda, já não há velhinhas assim, um dia plof e a loja para trespasse, mais uma…» * ...

Rejubilei, e quando acordei mirei tudo com redobrada atenção, já que assistia in vivo à ressurreição de um passado, agora sem os limos nem as cores esverdeadas que os náufragos e os mortos invariavelmente arrastam ou trazem agarrados a si.

Depeniquei-me propositadamente p’ra me confirmar acordado, pois se tratava de caso único nos anais do esoterismo, cujo karma decerto atrevidamente me convocara para lhe testemunhar a aura e lhe espalhar a palavra, o conhecimento e a luz delas emanadas. Saibam portanto os eborenses e outros habitantes deste mundo que a “Kermesse de France” * não morreu, está viva, vivinha da Silva, ou da Costa, mais linda que nunca e recomenda-se, passai palavra ou copiai e partilhai este edital.

«Kermesse de France, Phragrancias de Europa para a mulher ideal» * Não tem já a singeleza dos antigos dizeres, ou biselados dourados, mas mantém as prateleiras preenchidas de aromas de encantar, filhos dos mais famosos narizes do mundo, segundo tive ocasião de constatar.

Não fora convidado mas não me fiz esperar, de capacete na mão, c’a boca aberta de deslumbramento, deixei-me levar, deixei-me entrar, recordar, mirar, medir, comparar, embevecer e conquistar. Há menos folhetos agora, menos desperdício de papel, logo mais árvores e mais natureza, há modernos telefones, computadores, programas, tábua de Excel e formação. Há ali muito marketing e muito profissionalismo, sites, forte presença nas redes sociais, campanhas, equipamentos, demonstrações, vendas, agressividade, produtividade. Nada parece ter sido deixado ao acaso.

Enquanto a cidade continua afundando-se, na gruta de Trofônio, ali assiste-se à ressurreição dos mortos, ao pulsar da vida, latejando, lutando, persistindo. A loja mudou de donos, compreensivelmente de marcas, mas não mudou de ramo, provavelmente nem de clientes, certamente dentro de poucos anos poderá dar-se ao luxo de comemorar o seu centenário.

Encostado ao balcão eu remirava tudo, uma cliente foi simpática, longa e exemplarmente atendida pela Marléne de France que, debitando conselhos, olhando o PC advertia-a para a vantagem das campanhas, atenciosa, solicita, paciente. Tudo isso eu vi, numa inusitada deferência de onde somente me restou ajuizar do conhecimento personalizado tido da cliente, que amavelmente foi convidada a visitar e a voltar à loja, e da enorme preparação exigida por tão paciente quão profissional atendimento.

Ao fundo dessa loja outra abelha obreira mexia e completava a larga gama de ofertas da colmeia, enquanto eu, esquecido da exposição do José Cachatra onde inicialmente a intenção me levara naquela manhã, ali jazia embasbacado, de máquina fotográfica na mão, preparado pra captar a alquimia do presente, olhando a sorridente Marléne de France, parecidíssima com a velhinha guardada nas minhas velhinhas memórias precisamente quando eu um catraio e ela velhinha coisa nenhuma … «ainda hoje recordo tudo menos a mulher ideal, que nunca conheci, se me gravou na mente quando do meu exame de acesso à escola preparatória e nunca mais, ... casei com uma santa mas a mulher ideal nunca, ainda hoje sonho conhecê-la, não passa de um sonho, já nessa época a Europa só sonhos, e a única verdade que lembro é a mesma senhorinha linda que desde esse exame segurava  o leme ao balcão da loja, magra como um fuso e elegante que nem bailarina de can-can» *

E eu esperando o alinhamento dos chacras a fim de disparar a máquina e aprisionar para a posteridade o espírito, a essência da coisa, coisa de que afinal me esquecia, tão enfronhado quão distraído estava de mim e da coisa em si que quando acordei pedi à Cátia de France um perfume, “Jardim de Évora”, somente para dar à minha presença maior peso e solenidade, tndo todavia recebido um serviço completo e, hoje sei que tal perfume encerra essências alentejanas e mediterrânicas , nasceu em Chartres, França, a capital do perfume, tendo sido lançado após geminação das duas cidades.

Meia hora mais tarde, conversando com alguém que encontrara à saída da exposição do Cachatra, era-me dito ter a cidade concorrido a verbas dos Fundos Comunitários Europeus, ou da Fundação Luso Americana Para o Desenvolvimento, c’o fito de levantar e reparar o piso de quase todas as calçadas e ruas da velha urbe, velhas de séculos e, mais coisa menos coisa obra para uns dez anos ou mais. A fonte era suspeita, mas a minha esperança na recuperação do nosso querido burgo levou-me a acreditar. Secalhando nada acontece aleatoriamente ou por acaso, secalhando terei mesmo razões para crer no inacreditável.

Na mudança do século os astros parecem ter-se conjugado de modo especialmente desfavorável para Évora, a cidade definhou abrupta e visivelmente com más vibrações desde então. Alimento esperanças que a ressurreição esteja aí, para que, tal como quando eu gaiato, possa rejubilar como no passado e voltar a ver em cada dia novas lojas e empresas florescendo como cogumelos. Agora encerram diariamente a um ritmo alucinante, e não é nenhuma miragem.

Recordo ainda a abertura das oficina do Xico dos Pombos e do Espingardeiro, até a do Pássaro Gago, numa ruela apertada e que depois foi passada ao Picaró, como lembro o tugúrio na rua do Muro de que o Z.L. Zurzica (infelizmente deixou-nos há bem pouco) transformou numa empresa de eleição, ali mesmo ao lado estava o industrial mais simpático que conheci, Varela Tenório de sua graça e pessoa nos antípodas do correctíssimo senhor Abêbora, em cuja oficina no Lº. de S. Domingos andávamos de patins, tão comprida era.

Secalhando será verdade que, de cinquenta em cinquenta anos o alinhamento dos planetas oferece, ou permite que tal conjugação seja a espoleta de mudanças nesse sentido, e secalhando a morrinha que tomou conta da cidade principie cedendo e aquela loja seja o primeiro sinal de mudança, de regeneração, de resiliência.

Dantes vinha gente de Lisboa apostar aqui, o Graça, o Guerra, que com ajuda do Fernando Maudslay e do Carreira deram mais vida àquela empresa que ritmo hoje presenciamos numa feira. Depois, mais abaixo, o Rodrigues e o sô Manel mais o Tremezinho deram um empurrão valente na ajuda à agricultura, e não só eles, os irmãos Silva atingiram a órbita sideral por esses dias, lançaram-se nos tractores Hanomag, furgões comerciais, ceifeiras Laverda, tal como o Peleiro (a quem muitos por ouvirem mal chamavam Poleiro), que desposou o Liberato e em vez de peles se puseram a vender Toyotas a toda a gente. 

Raro era o dia em que meia dúzia de novas empresas não fossem inauguradas, alguém que o tente agora e verá os trabalhos em que se mete, pagamentos por conta, taxas, taxinhas, derramas e regulamentos, não há Município que não caia em cima do desgraçado, até o Estado, que já não vive à custa de quem pode, agora complica a vidinha a toda a gente sem excepção, é mais democrático. E dentro dele a constelação ASAE, um estado dentro do estado. Tornámo-nos um país enleado nas suas próprias leis e contradições, de tal modo que a iniciativa em vez de aplaudida acaba por ser combatida.

Antigamente qualquer um amealhava uns tostões, aventurava-se por sua conta e abria uma empresa, agora mal ganhará para comer quanto mais para juntar poupanças, isto se não estiver dependente da sopa dos pobres… Ganhámos, em Portugal acabámos com todos os capitalistas, agora mendigamos investimento a estrangeiros e qualquer dia seremos todos metecos deles. Os que “matámos“ eram certamente capitalistas, mas eram os nossos capitalistas. Não imagino, mas será que ser escravo do capital estrangeiro é um outro luxo ?…

Deve ser verdade que a democracia nos fica curta nas mangas, o pior é que está a matar-nos, mas ao contrário do que eu mesmo imaginara, esta loja sobreviveu à hecatombe que sobre este país se abateu, é que, sabem, nasceu há mais de cem anos sob um outro astral…











254 - ARRANJA-SE EMPREGO * Parte 2 ……..….


Parte 2
As linhas apresentadas no texto anterior* são, modo geral, as directrizes que balizam e possibilitam a formação de um profissional independente, de resto, a vontade de adquirir um talento, e ser senhor de si mesmo, ou senhora de si mesma, dependerá de ti, é uma especialização destinada a altos voos, largamente remunerada e garantida, pelo que abraçar ou não uma carreira free lancer de elevado potencial como os publicitários costumam dizer e exagerando até, pois tantas vezes se referem a um qualquer lugar de caixeiro-viajante, o que nem é o nosso caso. Caixeiros-viajantes aqui, só se for “A Morte de Um Caixeiro Viajante”, de Arthur Miller, que aliás te aconselho vivamente a ler, como distracção.

Por falar em ler, terás que ler algumas coisinhas, não te assustes que não te recomendarei o Eça de Queirós, até por pressupor que já o tenhas lido. A bibliografia recomendada ser-te-à a seu tempo indicada, não é muita, nem fácil de obter ou arranjar. Alguém anda evitando que de um qualquer modo adquiras formação nesta área, penso já te ter confessado ser o segredo a alma do negócio. A lista andará à volta de dez obras essenciais (estou a puxar pela cabeça), sendo que o primeiro que poderás adquirir e encetar já, é de Pierre Joseph Proudhon, “O Que É a Propriedade”, e te abrirá imenso os olhos, a Editorial Estampa editou em tempos um livrinho que nem chega aos dez euros e encontrarás facilmente na WOOK, na FNAC ou em qualquer alfarrabista. É um livro rico, cheio de conteúdo e estimulará os teus princípios morais, detesto gente mal formada ou inculta, banal, e já agora deixa-me avisar-te, nunca me venhas com citações de Paulo Coelho, Rui Zink, Miguel Esteves Cardoso ou Pedro Chagas Freitas por favor. Há mais alguns como o Walter Hugo Mãe o Tordo, o Lucas Pires ou o Peixoto, mas a seu tempo saberás quais abomino.

O Capital, de Marx, e leituras de David Ricardo, Keynes e Adam Smith também farão parte da bibliografia recomendada para as matérias teóricas, se te digo tudo isto é para que avalies já um pouco as coisas e faças as tuas contas, este aviso tem-me poupado dissabores e a aturar gente que nem aprecia ler e aprecia ainda menos o saber, enfim, gente sem estofo para uma formação desta envergadura e que acabou por reclamar de mim avenças já pagas, o que naturalmente gerou atritos, me fez perder tempo e paciência, e só por não haver cheques passados nem recibos não me fez perder dinheiro. Nos tempos que correm todo o cuidado é pouco, quando aldrabões chegam a ministros já podemos fazer uma pequena ideia de como se “estará cá fora na selva”…

Nunca será demais insistir na ideia de que todo o valor que me seja pago será investimento a recuperar 10, 20, 50, ou mil vezes, tanto mais que se trata de um sector dinâmico e dos que, na nossa economia têm registado um crescimento exponencial, ainda que haja gente já instalada há espaço para gente melhor, ou bem preparada para fazer face à concorrência. No nosso mercado o que abunda é sobretudo a iniciativa desorganizada, baseada no improviso, muito à maneira portuguesa e que nem precisamos abater, funcionam noutra escala, num patamar muito abaixo daquele em que pretendo introduzir-te, pelo que se te esforçares e aplicares, guindar-te-ás a uma altura onde pura e simplesmente a concorrência nem sequer existe, ou conseguiu chegar.

De vez em quando é-me confidenciado por este ou por aquela já ter enviado, 100, 200, 500 currículos, e penso que uma até enviou mil ! Estará tudo doido ? Pensem ! Desistam de mendigar, criem a vossa própria oportunidade e tornem-se independentes de sucesso, atirem o desemprego para trás das costas. Libertem-se de salários mínimos ou de 500 euros, libertem-se de contratos, tornem-se empreendedores e inovadores de elevado potencial. Em vez de semearem currículos disfrutem dum mercado de trabalho amplo e à espera dos melhores, giram a vossa própria carreira, concentrdem-se em experiencias relevantes para a função, tornem-se profissionais qualificados (as) de low profile. Prestem contas somente a vocês mesmos. (garantido que nem ao fisco as prestarão).

Mas por falar em potencial, potencia, força, capacidade, agilidade, como vai a tua forma física ? “Mente sã em corpo são”, nunca ouviste dizer ? Fumas ? Chutas na veia ? Cheiras cola ? É bom que não, porque tudo isso, por junto ou separado, te impedirá de passares do meio da tabela adiante e sem isso não há diploma p’ra ninguém. Não é disciplina da minha lavra, mas é-o a apreciação e classificação, que não descuro. Toma nota e providencia se necessário.

Várias vezes aludi aqui ao cultivo de um low profile, pois não será despiciendo que a par da tua formação adquiras o bom hábito, repito bom hábito, de não dar nas vistas e passares despercebido (a). Isto não é um casting nem uma passagem de modelos, neste caso concreto passar anónimo (a) na multidão será uma mais-valia considerável. Deverás apresentar um ar limpo, nem demasiado asséptico nem enxovalhado, usar cores discretas, que não chamem a atenção nem pela cor nem pela forma. Um dia ajuizarás da vantagem de não ser visto nem lembrado. Idem para algum carro que tenhas, porque uma mota que não nos envergonhe dará sempre nas vistas. Pergunta-me, ou pergunta ao Varoufakis… 

A parte da formação que me cabe é, naturalmente, toda a área teórica, e já nem é pouco, porém não te assustes, corre a par uma parte prática cuja responsabilidade, não sendo minha, eu não tenho condições para leccionar, nem a nível de conhecimentos práticos nem de equipamento ou de materiais, todavia em momento algum descurarei o teu acompanhamento e progressão, até porque uma parte, sem a outra, nem faria sentido.

Penso já ter abordado a bibliografia, fi-lo de um modo geral, e, para sermos mais explícitos, adiantarei que terás que te debruçar, estudar, os rudimentos da Psicologia, da Sociologia, da Economia, o estudo da arte e dos materiais nobres, seria uma pena que, por ignorância, um dia te visses com muito dinheiro e alguém te aldrabasse com uma filigrana de pechisbeque ou te vendesse gato por lebre, uma qualquer falsificação por um Picasso. Mas não desesperes, nessa área sou entendido e fá-lo-emos com facilidade e como distracção. 

                Todo este trabalho te dou porque se não passares de um grunho (a) por muito bonito (a) que sejas, nunca facturarás nada de jeito, e até por haver necessidade de entenderes o mundo em que te moves e que, ao contrário do que pensas, concluirás nunca ter visto. Diria que se adapta perfeitamente às circunstâncias aquele velho aforismo popular “vícios privados, públicas virtudes”, terás que ser exemplar, sem dar nas vistas ou chamar a atenção sobre ti, um camaleão.

(continuará num próximo texto)  





sábado, 18 de julho de 2015

253 - ARRANJA-SE EMPREGO * ……….....…...……


Parte 1
A crise tem arrasado o emprego, os especialistas consideram terem-se perdido 300 mil empregos durante os últimos anos de Sócrates e outros tantos depois do novo e inexperiente governo ter entrado em funções. Os milhentos cursos existentes e sem qualquer interesse também não ajudam a equilibrar a procura e a oferta...

Não é um panorama animador, e espelha a incompetência e incapacidade de prever, acautelar e enfrentar os problemas com que nos debatemos desde o 25A, problemas que todos tornearam, ou empurraram com a barriga, sem resolver. Aberta a inadiável crise os números estão aí para o comprovar e, com taxas de crescimento ridículas, que nem tão pouco se aproximam dos 2%, quanto mais dos 4% mínimos necessários para que algum emprego tímido se crie, só mesmo gente oportunista e demagoga achará que o desemprego está a descer. Eu diria antes flutuar ao sabor de mais ou menos estágios que o governo financia como estratégia para o camuflar. Somente parvos acreditarão numa recuperação que nem daqui a vinte anos virá, e no entretanto, uma, duas ou três gerações, nada mais conseguirão na vida que criar calo no cu, como os macacos.

Com o advento da democracia e o abandono dos cursos profissionais cometeu-se um erro crasso, há cursos a que somente agora, passados quarenta anos estamos a voltar. Em simultâneo, e em contraste com o que os governos apregoam à boca cheia, investir e criar a própria empresa tornou-se quase proibitivo, dadas as dificuldades financeiras, fiscais, legais e burocráticas a tornear, areias movediças onde contudo alguns papalvos se aventuram.

 Apesar do ensino profissional ter voltado em força, embora tarde e a más horas, deixa todavia lacunas em determinadas áreas altamente rentáveis, que não foram contempladas com um único curso. São áreas em que ninguém parece disposto a apostar, a pegar, ou a promover. De minha livre iniciativa irei, (n.b. fui professor, estou aposentado), em dois ou três textos, procurar ajudar quem estiver interessado em ajudar-se nesta adaptação ao mundo do trabalho e na escolha de um inovador ramo profissional. A formação, que no caso é muito especifíca, tem sido até aqui completamente descurada e a sua ausência tem diariamente colocado a ridículo quem, devido à sua falta ou a má preparação, exerce neste âmbito alguma actividade. 

Alertarei para as vantagens, desvantagens e enquadramento legal deste tipo de ocupação, atendendo a que a profissão será professada, ou exercida, num país altamente disfuncional como é o nosso caso, e frisando desde já não me considerar minimamente responsável por quem assuma o mister, tanto mais não se tratar de uma brincadeira de crianças ou de coisa para menores.

Trata-se de uma profissão que deve ser abraçada com sinceridade para ter sucesso, não escondo exigir algum trabalho, qualquer licenciatura de merda o exigirá, e não trará de retorno um milésimo da compensação, também não escondo que exige um caracter forte e uma personalidade vincada. Se és dos que preferem a papinha feita vai para arrumador de prateleiras ou caixa de um hipermercado e não percas tempo, nem mo faças perder a mim que me fartei de aturar gaiatos e já cá tenho minha dose.

Como ia dizendo trata-se de uma opção muito compensadora, e o low profile que exige casa bem com o facto de sobre ela serem divulgadas pouquíssimas ou nenhumas informações, sobretudo no que concerne aos rendimentos auferidos, ou obtidos.

Dir-te-ei, a título meramente facultativo, estarmos perante uma área que alimenta vastos sectores da economia, dos seguros à investigação de ponta, da electrónica aos recursos humanos, à construção metalomecânica, e presente desde o mais modesto e baratucho carrito à residência mais luxuosa.

Exigirá de ti um leque de conhecimentos muito particulares que nada têm a ver com as generalidades que enchem os currículos de quaisquer cursos universitários, saber este que só informalmente poderás adquirir, reclamará de ti uma entrega total, sangue, suor e lágrimas, mas em contrapartida compensar-te-á principescamente. É garantido. Terás que aprender a ser controlado, contido, comedido, a raciocinar rapidamente, a ponderar decisões, a ver, a observar, a deduzir e intuir, e a cultivar o sangue frio e a arte da paciência. Confesso-te ser para mim que meramente ensino algumas matérias, altamente absorvente, motivador e aliciante.

Depois de todo o palavreado que debitarei durante os 3 ou 4 textos prometidos, poderás solicitar junto de mim informações sobre a formação, custos, horários, preços, propinas, jóias, sinais, adiantamentos, reclamações, devoluções, etc. etc. etc... Logo que terminados os textos abrirei em simultâneo as pré inscrições, pelas razões que a seu tempo compreenderás só aceitarei um (a) aluno (a) de cada vez. Cada um de vocês desconhecerá os restantes, e cuidarei de acautelar que nem tão pouco se cruzarão à entrada ou à saída. O sigilo é a alma do negócio, até os agentes secretos de maior sucesso são os que ninguém conhece, ou conheceu, nem tão pouco alguma vez se soube o que faziam, ou fazem.

Adiante, ou antes em frente que atrás vem gente, como diria uma amiga que tive e morreu de impaciência. * (continuará num próximo texto)

Nota- Para as senhoras, porque se dedicam mais e exigem menos de mim, haverá um desconto substancial que deverão considerar.




terça-feira, 14 de julho de 2015

252 - A PRIMA DO RIBATEJO ....................................


 A insistência com que fora convidado surtira efeito e não apareci. Na verdade são raras as vezes que, em ocasiões semelhantes apareço, e se lá sou visto podem crer que somente por nada haver de mais interessante com que me entreter. Detesto fingimentos e falsas homenagens, tanto quanto ambientes mórbidos, mais a mais dois meses atrás estivera com ela.

Uma marca de vinhos da terra e uma cervejeira muito conhecida, tinham apoiado amplamente um churrasco organizado pelo moto clube local, como não podia deixar de ser fui incapaz de decepcionar os amigos e lá estive de corpo e alma, que ao fim do dia mais pareciam Procústeo tentando à força conciliar o impossível, todavia mantiveram a simbiose.

O Galhardas foi visitar o padrinho, eu aproveitei a boleia e atrelei-me a ele, foi lá que falei com ela, a quem já não via há uns bons anos e de quem só guardo gratas recordações. Reconheceu-me mal me viu a silhueta entre portas e de imediato largou um dos seus sorrisos mais francos, daqueles que eu sempre tomara por inocência e ingenuidade puras. Os seus olhos e o seu sorriso eram inigualáveis e bastava-me olhá-los para me sentir de novo amado, acarinhado, mimado, criança.

O carinho dela cavara mais fundo em mim que qualquer outro e as muitas semanas e por vezes meses que passáramos juntos jamais foram apagados pela distância dos anos. Ela estava sentada, melhor, refastelada num dos sofás da sala e eu puxara uma cadeira para a sua beira. Agarrara-lhe as mãos, que até ao fim da conversa, ou antes da visita, não larguei. Estavam extremamente macias, extremamente leves, extremamente magras, era contudo o mesmo o calor do seu toque, um calor de que nunca me esquecerei.

Falámos de imensas coisas, da vida, do passado, do presente e do futuro, tomámos consciência do natural que seria não voltarmos a ver-nos, pelo que o melhor seria fazer naquele momento as espedidas. Jurei-lhe que mulher alguma me acarinhara como ela, e que nem o seu colo esquecera. Rimo-nos de quando ouvíamos juntos, por motivos diferentes, as radionovelas raianas, ela por querer saber se Dolores e Marianito cumpririam os laços, eu porque aquele linguajar estranho e contudo parecido me absorvia com a música do seu palrar, foi quando ela, entre gargalhadas e sorrisos me confidenciou que se apaixonara pelo tio Domingos por o ter achado desde sempre muito parecido com aquele Mariano da radionovela.

- Enganei-me querido, o tio Domingos saiu-me muito diferente e bem melhor que o tal Mariano.

Vieram-me as lagrimas aos olhos e calei-me, esperando oportunidade para mudar o azimute à conversa.

- A verdade filho é que, continuou, eu sonhara amiúde com esse Mariano apesar de nunca o ter visto, porém um dia fui a um funeral e bem a meu lado lá estava ele, o tal Mariano sonhado, bem mais alto que eu o sonhara. Agradeci a Deus ter dado corpo ao meu sonho e ideal de homem perfeito, e durante o resto do velório nunca deixei de o prendar com o sorriso dos meus olhos, que aspergiram sobre ele todas as promessas que o Senhor, na sua infinita sabedoria, me aconselhou e consentiu. 

- Foi um milagre filho, menos de quinze dias depois estávamos vivendo juntos e nunca eu imaginara que tal homem viesse a fazer-me tão feliz. O Senhor Deus tenha bem guardada a sua alma. Verdade que não conheci muitos, mas também nunca conheci nenhum como o teu tio Domingos.

- Isso não é nada tia. Também eu tenho uma experiência que nunca contei a ninguém. Há cerca de quatro anos sonhei duas noites seguidas com uma mulher que nunca vira na vida. O ano passado fui a um funeral de uma prima em terceiro grau, que morava no Ribatejo. Quando o corpo desceu à terra olhei em frente e lá estava a tal mulher, sorridente, que vim a saber ser amiga da minha falecida prima, e muito rica, riquíssima. Um primo deu-me uma cotovelada e segredou-me; ainda te hei-de ver casado com aquele pedaço Baião... Então não é que era precisamente no que eu estava a pensar ? Explicações, não tenho. Levei a "coisa" para a brincadeira, mas a verdade é que depois disso tenho sonhado imensas vezes estar ao lado dela num altar. O cérebro é uma máquina que ainda não conhecemos na totalidade tia, nem nunca conheceremos...

- Eu nunca gostei de funerais filho, para ser sincera não gostar é pouco, sempre os detestei, do ambiente de meia-luz ao cheiro das velas, ao convívio artificial, à incongruência dos presentes. Já viram num velório dizer de qualquer morto o filho de puta que ele era ? Espero nem te ver lá quando chegar a minha vez querido. 

Mais que uma despedida, ou uma última homenagem aos mortos, parece-me tia que a reunião e presença num funeral é mera catarse aos vivos, a homenagem seria quando muito dedicada aos familiares mais próximos, como se fosse medalha atribuída a título póstumo ao falecido, coisa que a maioria não merecerá. O consolo será pois ágape a repartir entre os lamurientos presentes, e a nossa presença isso mesmo, isso e uma atenção, ou consideração, ora sucede que não tenho por hábito consolar qualquer um ou distinguir com a minha presença e consideração quaisquer que a reclamem, isso é assunto de minha lavra, e que concedo a bem poucos.

Mas despedimo-nos ali, porque noutra qualquer ocasião o mais certo seria que não pudéssemos fazê-lo, por isso lhe disse ter sido uma mulher muito importante e marcante na minha vida, a primeira que amara sem que nada a isso me tivesse obrigado, nem o sentimento nem o dever, apenas o coração. Senti que tentava apertar nas suas as minhas mãos, senti faltar-lhe a força para tal. Abracei-a, mais para esconder as lágrimas que para retribuir-lhe essa sua carinhosa intenção e segredei-lhe que jamais havia de esquecê-la.

Saí de óculos de sol para disfarçar os olhos lacrimejantes e avermelhados depois de lhe ter jurado quanto a tinha amado e amava ainda.

- És alto como o tio Domingos filho.

Eu correspondi com um piscar de olhos e ela ficou sorrindo até que deixei de a ver.

Durou pouco mais de dois meses.  


 




domingo, 12 de julho de 2015

251 - COM UMA BOLA NA MÃO...............................


" COM UMA BOLA NA MÃO "

Sobre a inocência da criança
A ordália cai, dogmática, serena
Contrariando ingenuidade, confiança
Forçando-a ao carreiro de formiga, à ordem terrena.

Plêiades cessam instantaneamente de brincar
Surpreendidas por tão … rigida paz celestial …
Quedam-se suas mãos mármoreas de ordenar
Que atrevimento, irrequietude e curiosidade sejam capital

Se o jogar, o rir e a alegria lhe tirais Senhor
Esvaziada a alma, aprisionado o coração,
Em que resta crer que lhes alimente o esplendor
Se caracter, personalidade, livre arbítrio, não ?

Deixai que saltite entre as mãos delas e a bola
A curiosidade suprema, a inocência a verdade,
E o caminho e o devir do homem serão a mola
Incapaz de suster nelas existência proba, humanidade.

Recusai foçar-lhes os caminhos
Deixai que sejam elas a trilhá-los
Mostrai-lhes somente balizas, pergaminhos
Escondei auto retratos, permiti-lhes somente olhá-los.

Escolhas, selecções, preferências,
Certa e empiricamente ela aprenderá
Travai, contei, ou envergonhai-vos das vossas reticências
É livre o céu, abri a gaiola, ela certamente voará...

O voo é livre, é possível, é ciência
Só Ícaro desconhecia os seus princípios
Cera, vaidade, fingimento, incoerências
Jamais voaram mais alto que fundos precipícios.

Aprendei a ser, e a estar ...
Também a repartir, discutir ou conversar,
Altivez, sensaboria, ignorância ou presunção,
Nunca levaram ao pódio do bom senso um campeão…

Humberto Baião, Évora 11 de Julho de 2015