Em
boa verdade teremos que admitir encerrar a preposição que titula este texto
muita autenticidade e, exemplificando de modo claro quantos subterfúgios ou dissimulações,
mais que boas intenções, podem acoitar-se ou albergar-se nela. Não a traria à
colação não tivesse ela sido objecto de exaltação à mesa da nossa tertúlia de
café, a qual desta vez terminou mal, com um desfecho que nos envergonhou a
todos, pois nos sentimos vítimas dos réprobos olhares de quem não pôde deixar
de dar-nos atenção, e especial atenção a pormenores que distraído nem
acompanhei cabalmente mas que levaram a Mara a levantar-se de supetão e,
estendendo a mão e o dedo do meio atirou a quem a quis ouvir:
-
Ora tomem ! A mesma coisa é meter dois dedos no cu e cheirá-los ao mesmo tempo,
isso sim é a mesma coisa !
E
abalou encalhando em tudo e todos, barafustando, não sem ter derrubado uma ou
duas cadeiras na precipitação de nos voltar as costas e batido com as portas do
café. A questão que tanto a azucrinou parece ter sido o móbil das coisas ou das
pessoas, o que as faz moverem-se por uma causa, o altruísmo ou o interesse,
defendendo ela que sem interesse na coisa, e interesseiros, o mundo jamais
avançaria, enquanto outros de nós, mais condescendentes, conciliadores,
contemporizadores ou tolerantes (e parvos, segundo ela) aceitavam que muito boa
gente, muitas pessoas, agiriam de boa-fé, e não por interesse.
Mais
tarde, em casa, e a propósito da tertúlia do café volto a deparar-me casualmente
com a mesma questão, o que move as pessoas ? O altruísmo desinteressado, boa
fé, boa vontade ou o interesse pessoal ou de grupo ? Desta vez suscitou-me verdadeira curiosidade o facto de
os jornais e alguns folhetos na caixa do correio, numa simultaneidade
premeditada e articulada com SMS e e-mails, me forçarem a dar conta de umas
quaisquer eleições no meu partido, meu quer-se dizer-se, não pago quotas há bem
mais de uma dúzia de anos, mas isso não foi obstáculo que tivesse obstado ao
bombardeamento abusivo de que fui alvo, com intromissões forçadas na minha
privacidade, talvez por me ter sido prometido despudoradamente um desconto de
90% no pagamento das cotas em falta (quotas ou cotas é a mesma coisa), ainda
que eu seja mais do tipo ou tudo ou nada percebem ? Melhor fazer rezet e recomeçar, como quando o
PC pifa… mas enfim, “em frente que atrás vem gente”, como diria uma velha amiga
minha que até era bastante nova… era e
é.
Altruísmo
ou interesse material ou outro ? E não serão o altruísmo e a bondade movidos
por interesse ? Tão pertinente questão, ou dilema, foi há muitos anos
cientificamente provado por George Price, que tão bem o explicou através de uma
fórmula matemática que nos deixou uma equação e cuja preposição (ou proposição,
neste caso?) nunca falha e o tornou conhecido primeiro e famoso depois precisamente
por isso, essa equação acabaria por levar ao teorema que tem o seu nome. Mas,
alinhavava eu, foi o aparente desinteresse e o excesso de voluntarismo e a
propaganda a essas eleições no meu partido que me deitaram para cima a levar-me à observação do muito interesse ou tanto desinteresse demonstrado ou
camuflado nelas.
Nem
sei bem para que eram as eleições, não aprofundei suficientemente o negócio, por
mera falta de interesse fruto do desinteresse que o conhecimento antecipado
destas habilidades provoca, ainda que desta vez os candidatos tivessem sido
dois, dois dá um ar mais democrático à coisa e sempre disfarça o unanimismo
vigente e doentio evitando resultados similares aos da Coreia do Norte. Uma boa
jogada. Pena ficarmo-nos pelas percentagens, outra ilusão, que muito bem
esconde quantas vezes só Deus sabe os vinte ou trinta que votaram… ou nem isso…
mas enfim, sejam vinte sejam trinta perfazem sempre os 100% .
Êxito total portanto…
Êxito total portanto…
Depois
de lidos com atenção os comunicados pelos quais sempre me desinteressei diria
que andou ali o céu, o inferno e até o purgatório terá metido uma mãozinha. Uma
alminha caída do céu, plena de virtudes e apoiada pela tutela, tutela que nunca
aparece nem dá a cara mas toda a gente conhece e que tudo decide até antes de
começar. Uma alminha do céu dizia eu, bateu-se contra uma outra alminha,
ingénua e sentimental, destinada ingloriamente a morrer no inferno, mas a quem
como habitualmente fora autorizado ou consentido satisfazer os interesses e as
jogadas de quem pode tê-los e fazê-las.
Pois
essa alminha ingénua a quem o inferno estava predestinado tentou, ainda que a
inteligência não tivesse ajudado, tentou e melhor pregou mas, o gene
recessivo estava lá e sem querer trouxe ao cimo a cadeia de ADN, perdão de
interesses, sem tão pouco ter reparado que todo o discurso enfermava de vicio
de forma imperdoável nos tempos que correm, o colocar à frente de tudo os
interesses do partido, do aparelho, a nível local neste caso, aparecendo os
interesses dos militantes dos alentejanos e dos portugueses no fim da lista de
prioridades a satisfazer, inqualificável mas demonstrativo do amadorismo e
ignorância de quem delineou a estratégia dessa lista na qual, a menos que
fossemos militantes ferrenhos e crédulos jamais embarcaríamos. Enfim, cumpriu,
cumpriu as ordens e os desígnios de alguém, satisfez os interesses de pessoa ou
grupo indeterminado, não oficial e nunca oficializado mas que está lá, nos
bastidores, sempre, e manobrando os cordelinhos dos bonecos que atira para a
boca de cena, os bonecos uteis.
No
outro extremo da oferta um digno representante da tutela e que se classificava
a si mesmo como a personalidade mais bem preparada para ocupar o lugar, ao que
eu sorri e pensei que, dado o lugar que as aldeias, vilas, cidades, o próprio
Alentejo e Portugal ocupam no fim da lista de desenvolvimento da Europa essa
seria precisamente a faceta a esconder, ao invés de a gabar, de que se gabará ?
De um Alentejo em perda por todos os lados e domínios ? Um Alentejo que definha
e morre em todos os aspectos há quarenta anos às mãos de incompetentes,
inclusive das suas não deveria orgulhá-lo, contudo há que defender os
interesses do grupo e cá estão uma vez mais os interesses disfarçados de
altruísmo, porque não se trata já de um grupo ideológico mas de grupo de amigos
ou se quiserem de um grupo de interesses ou de negócios e que tem feito o que
se sabe ao longo de quarenta anos, tantas tem pintado que nem vê quanto a manta
está curta e que se a puxa para tapar os ombros se lhe destapam os pés…
George
Price, que criticou construtivamente o célebre William Hamilton, e a quem
todavia deve o apoio que teve e o elevou à fama, sabia do que falava. Também
neste caso apareceu talvez vinda do purgatório uma outra alminha que, heresia
das heresias, se atreveu e tentou demonstrar por A mais B, publicamente, nos
jornais, o que estaria errado e o quanto haveria de injusto naquela justa, tentando que do mal o menos, mas
foi tarde e sobretudo inútil o seu puro sacrilégio, palpita-me que dentro de
algum tempo se irá sujeitar ao que quis evitar e afastar-se desiludido, é o que
costuma surtir a coerência e a unanimidade se excessiva e cultivada, ou
manipulada, é como a endogamia, onde os filhos começam a nascer cegos…
Estas
coisas do desinteresse escondido pelo interesse disfarçado não são bem a mesma
coisa e foi isso que perturbara tanto a amiga Mara, estas coisas não passam de gato
escondido com rabo de fora é o que é, porém apresentam-se-nos tão subtis que nem
George Price acreditou no teorema infalível que ele próprio criara. Morreu
pobre tentando desmentir ser o puro interesse que nos torna ricos, e de
agnóstico, ou ateu, passou a crente, talvez por crer (de acreditar) que só
mesmo Deus consegue fazer com que o “homem”, nado e criado à Sua imagem,
comungue de tanta perfídia, cultive supina ignorância e seja capaz de tanto
oportunismo demonstrando tamanho desprezo à custa e pelos que diz defender,
... os Seus desígnios são realmente insondáveis…
... os Seus desígnios são realmente insondáveis…
Quanto
ao resto da querela ou justa nobre e cientifica entre os dois sábios citados,
George R. Price e William D. Hamilton, deixo-vos todos os links possíveis no
fim do texto para que possam inteirar-se, informar-se e cultivar-se, pois eu
explicações somente com vez marcada e pagas à hora, e na hora que a vidinha ta
difícil…