quinta-feira, 9 de julho de 2020

651 - PAINÉIS, PERSPECTIVA E OBJECTIVA ...


Quando no recuado ano de 1851 Wagner compôs a sua célebre Cavalgada das Valquírias, ou em 1964 The Animals lançaram um celebérrimo álbum contendo a popular canção The House Of Rising Sun, ou ainda quando em 1969 os CCR Creedence Clearwater Revival lançaram a feroz critica Fortunate Son não imaginavam que essas canções, e músicas, excepção para Fortunate Son, uma música de protesto criticando o envolvimento americano na Guerra do Vietnam e os privilégios dados aos filhos da "elite" que não eram mandados para o combate, dizia eu não imaginavam que tais canções, uma vez retiradas do contexto em que foram concebidas e integradas num outro mudariam por completo a nossa percepção dessas mesmas composições cujo sentido ao ouvi-las num diferente ambiente muda completamente.

Foi assim que Wagner se viu conotado com a ideologia Nazi, tendo sido acusado de com essa sua composição glorificar em especial a dominadora blitzkrieg, uma cavalgada rápida e eficaz que em pouco tempo dominou a Europa, ainda que rapidamente essa cavalgada viesse a sucumbir debaixo das forças democráticas do resto do mundo. Essa reposição ou recomposição democrática não se fez sem custos, mas os milhões que por nós morreram parecem ter agora sido esquecidos, confirmando que o mundo está pejado de pobres (de espírito) e de mal agradecidos.

Essas músicas, e muitas outras, tornaram-se arma apontada, músicas de intervenção porque intervieram, mudaram o mundo e, parafraseando um poeta e cantor que não recordo agora, a canção é uma arma. Em vez de um fotógrafo, que de acordo com a perspectiva que deseja captar assim manobra ou manipula a objectiva da sua máquina, o seu olho de boi, o seu olhar, para que precisamente vejamos o que nos quer mostrar e nos alheemos de quaisquer outros contextos, o músico, a música, a canção centra-nos no alvo ao qual aponta a sua mira, num alvo pré determinado.


Até eu sou sensível a estas aparentemente pequenas coisas que só a psicologia parece explicar, a erudita ou a de massas, tendo sido assim que passei a detestar Penny Lane dos Beatles, 1967, por a ela estar associada detestável lembrança e, depois da Tessa me ter deixado a ver navios e sozinho enquanto ela se punha a milhas com um paraquedista prenhe de tatuagens, desporto que pela mesma razão passei a abominar. Foi disco que nunca mais ouvi nem a minha vista dele sequer jamais se acercou.

Muda o contexto muda a perspectiva, ou muda a perspectiva conforme o contexto, isto é conforme a música assim será a dança, o que parecendo a mesma coisa não o é. Embora parecendo a mesma coisa não é a mesma coisa, parece não haver nunca duas coisas nem duas situações iguais a não ser nas palavras do ilustre professor doutor Francisco Ramos da Universidade de Évora, meu saudoso mestre de antropologia, e que uma vez me atirou à cara por o tentar ludibriar com um trabalho, ou melhor gritou para mim:

- Baião, a mesma coisa é meter dois dedos no cu e cheirá-los ao mesmo tempo percebe ? E quanto a esse trabalho (de antropologia) estamos conversados.

E lá tive que fazer outro trabalho, à pressa diga-se, por acaso óptimo e que veio a merecer uma nota que nem imaginam um vinte !

Dito isto imaginem o que é a vontade de regressar a casa do soldado que está no Vietname ou do filho que está no Iraque, a canção ou as canções e as próprias letras tomam nesses casos, nesses contextos, um novo sentido apesar de serem as mesmas ganhando uma dimensão gigantesca e avassaladora, como aconteceu especialmente com a canção The House Of the Rising Sun.

De Penny Lane esqueci-me com o tempo, até por ter passado a preferir a filosofia e Trafalgar Square, ou o jardim e a pedra, digo Speaker’s Corners* ou Recanto do Orador, 1855. Não a filosofia nem a Pedra Filosofal** devida a António Gedeão, uma canção de que é difícil não gostar, mas a pedra em cima da qual todos falam ou podem falar se o quiserem, ou orar, discursar, praguejar, contestar, vociferar contra tudo e contra todos e, prova de veracidade e idade da democracia da velha Albion, essa pedra designada por Speaker’s Corner é tão respeitada quanto é garantido o respeito por uma ainda mais velha tradição, A Magna Carta*** 1215, outra peculiaridade inglesa.


Ouvi quando muito jovem uma banda ou uma canção, ou música, não me lembro bem, nem de quem mas alguém cantava essa canção intitulada Magna Carta. Recordo-vos porém que com o tempo a perspectiva de quem detém o mando passa a ser outra, a objectividade talvez seja a mesma, mas o objectivo muda, hoje nada de modas como a de Speaker’s Cornner nem de imprensa livre, mas sim uma imprensa subsidiada, vendida, comprada, amordaçada, domada, manipulada. Verdade que o palrar e o ensino se democratizaram, quer dizer massificaram-se, estupidificaram-se. Hoje a escola é uma máquina trituradora que produz estupidez e estúpidos a granel, mas democraticamente iguais, democraticamente estúpidos, democraticamente parvos.

Razão tinham os Pink Floyd já há umas décadas quando escreveram ou compuseram o álbum Another Brick in The Wall, de 1979, ou Stanley Kuprik com a Laranja Mecânica, um filme de 1971, o filme e o CD, ou antes o vinil e o LP, isto para não ir mais atrás a Orson Welles, Nietzsche,  a Kafka a Muzil,  a George Orwell, a Kundera e outros do mesmo jaez que muito gritaram mas a quem ninguém deu ouvidos, por isso hoje temos a parvoíce elevada à condição máxima e a governar o mundo.

Andava eu matutando nestas coisas quando da estante tirei à sorte O APELO DA TRIBO de Mário Vargas Llosa, Nobel 2010 e de quem já li outras belíssimas obras, como A CIVILIZAÇÃO DO ESPECTÁCULO e outras. Este novo titulo, O APELO DA TRIBO, que adquiri há tempos na FONTE DE LETRAS aguardava vez para ser lido, como outros continuam aguardando, porém conseguiu prender-me desde o primeiro momento e a sua leitura está a tornar-se-me viciante. É sem a menor sombra de dúvida a melhor leitura que eu podia ter encontrado nos conturbados tempos que atravessamos, parecendo ter sido escrita para eles, não foi, mas a aposta ou o prognóstico do escritor saiu acertado. Talvez Vargas Llosa, como Kundera, nalgumas das suas obras tenham tido uma premonição ou estivessem ambos melhor preparados para, partindo de indícios aparentemente inócuos e aleatórios, estabelecerem conexões, avançarem projecções e formularem deduções.


Vinha eu meditando nisto quando o comboio que me trazia do Porto pára finalmente na estação de Évora, inaugurada em 1863. Porém foi remodelada há cerca de dez anos e a CP passou a disponibilizar quatro comboios diários Intercidades na ligação entre Lisboa e Évora, com um tempo de trânsito inferior a 90 minutos. As obras iniciaram-se em 2010. A nossa linda estação, agora renovada, mantém felizmente a sua antiquíssima, riquíssima e belíssima azulejaria. Todavia foi com desgosto que há uma semana reparei pela enésima vez em catorze placards publicitários estrategicamente espalhados ao longo dos cais, painéis duplos, de dupla face, portanto vinte e oito, eternamente vazios, parecendo mesmo estarem ainda por estrear.

Enquanto noutras estações e noutras cidades a publicidade enxameia e é rainha, aqui o fenómeno é precisamente o contrário. Fenómeno, epifenómeno, curiosidade, aberração ? Adivinhe quem souber, puder ou for capaz, mas é assaz curioso que ninguém, nunca, tenha apostado um cêntimo em publicidade na estação de Évora. Receio de que o investimento não tenha retorno ? Será o número potencial de consumidores que não justifica o investimento ? O nível de rendimentos e de vida da população do concelho não aconselha gastos em publicidade ? O índice de desemprego é tal que o investimento é de todo desaconselhado ?

Passaram dez anos desde as obras de remodelação da estação, os vinte e oito painéis mantêm-se vazios já há dez anos porque a situação no concelho não melhorou ? Porque piorou mesmo ? Devo deduzir que do ponto de vista do Investidor publicitário e das marcas dominantes Évora não interessa a ninguém ? Nem sequer ao menino Jesus ? Há coisas que me deixam a pensar, a matutar, a remoer, em boa verdade não só agora, já ando ruminando interrogações há mais de 40 anos, e não encontro respostas para elas.

Ou encontro, mas recuso-me a aceitar o absurdo.










HOUSE OF THE RISING SUN
The Animals
Há uma casa em Nova Orleans
There is a house in New Orleans

Eles chamam o Sol Nascente
They call the Rising Sun

E tem sido a ruína de muitos meninos pobres
And it's been the ruin of many a poor boy

E Deus, eu sei que sou um
And God I know I'm one
Minha mãe era alfaiate
My mother was a tailor

Ela costurou meu novo jeans azul
She sewed my new blue jeans

Meu pai era um homem de jogo
My father was a gamblin' man

Em Nova Orleans
Down in New Orleans
Agora, a única coisa que um jogador precisa
Now the only thing a gambler needs

É uma mala e um porta-malas
Is a suitcase and trunk

E a única vez que ele está satisfeito
And the only time he's satisfied

É quando ele está todo bêbado
Is when he's all drunk
Oh mãe, conte aos seus filhos
Oh mother tell your children

Não fazer o que eu fiz
Not to do what I have done

Passe suas vidas em pecado e miséria
Spend your lives in sin and misery

Na Casa do Sol Nascente
In the House of the Rising Sun
Bem, eu tenho um pé na plataforma
Well, I got one foot on the platform

O outro pé no trem
The other foot on the train

Vou voltar para Nova Orleans
I'm goin' back to New Orleans

Para usar essa bola e corrente
To wear that ball and chain
Bem, há uma casa em Nova Orleans
Well, there is a house in New Orleans

Eles chamam o Sol Nascente
They call the Rising Sun

E tem sido a ruína de muitos meninos pobres
And it's been the ruin of many a poor boy

E Deus, eu sei que sou um
And God I know I'm one
Fonte: LyricFind
Compositores: Alan Price
Letras de House of the Rising Sun © Universal Music Publishing Group, Kobalt Music Publishing Ltd.


FORTUNATE SON
Creedence Clearwater Revival
Algumas pessoas nascem feitas para balançar a bandeira
Some folks are born made to wave the flag

Ooh, eles são vermelhos, brancos e azuis
Ooh, they're red, white and blue

E quando a banda toca "Hail to the chief"
And when the band plays "Hail to the chief"

Ooh, eles apontam o canhão para você, Senhor
Ooh, they point the cannon at you, Lord

Não sou eu, não sou eu, não sou filho de senador, filho
It ain't me, it ain't me, I ain't no senator's son, son

Não sou eu, não sou eu, não sou um afortunado, não
It ain't me, it ain't me, I ain't no fortunate one, no
Algumas pessoas nascem colher de prata na mão
Some folks are born silver spoon in hand

Senhor, eles não se ajudam, oh
Lord, don't they help themselves, oh

Mas quando o contribuinte chega à porta
But when the taxman comes to the door

Senhor, a casa parece uma venda de remédios, sim
Lord, the house looks like a rummage sale, yes
Não sou eu, não sou eu, não sou filho de milionário, não
It ain't me, it ain't me, I ain't no millionaire's son, no

Não sou eu, não sou eu, não sou um afortunado, não
It ain't me, it ain't me, I ain't no fortunate one, no
Algumas pessoas herdam os olhos estrelados da estrela
Some folks inherit star spangled eyes

Ooh, eles te mandam para a guerra, Senhor
Ooh, they send you down to war, Lord

E quando você pergunta a eles: "Quanto devemos dar?"
And when you ask them, "How much should we give?"

Ooh, eles apenas respondem "Mais! Mais! Mais!"
Ooh, they only answer "More! More! More!"

yoh
yoh
Não sou eu, não sou eu, não sou filho militar, filho
It ain't me, it ain't me, I ain't no military son, son

Não sou eu, não sou eu, não sou um afortunado, um
It ain't me, it ain't me, I ain't no fortunate one, one
Não sou eu, não sou eu, não tenho sorte, não não não
It ain't me, it ain't me, I ain't no fortunate one, no no no

Não sou eu, não sou eu, não sou filho de sorte, não, não, não
It ain't me, it ain't me, I ain't no fortunate son, no no no
Fonte: LyricFind
Compositores: John C Fogerty
Letras de Fortunate Son © The Bicycle Music Company


ANOTHER BRICK IN THE WALL
Pink Floyd
Nós não precisamos de educação
We don't need no education

Não precisamos de controle de pensamento
We don't need no thought control

Nada de sarcasmo na sala de aula
No dark sarcasm in the classroom

Professores deixam crianças sozinhas
Teachers leave them kids alone

Ei professores, deixe as crianças em paz
Hey, teachers, leave them kids alone

Em suma, é apenas mais um tijolo na parede
All in all it's just another brick in the wall

Em suma, você é apenas mais um tijolo na parede
All in all you're just another brick in the wall
Nós não precisamos de educação
We don't need no education

Não precisamos de controle de pensamento
We don't need no thought control

Nada de sarcasmo na sala de aula
No dark sarcasm in the classroom

Os professores deixam essas crianças em paz
Teachers leave those kids alone

Ei professores, deixem essas crianças em paz
Hey teachers, leave those kids alone

Em suma, você é apenas mais um tijolo na parede
All in all you're just another brick in the wall

Em suma, você é apenas mais um tijolo na parede
All in all you're just another brick in the wall
"Errado, faça de novo! Errado, faça de novo!"
"Wrong, do it again! Wrong, do it again!"

"Se você não come carne, não pode comer pudim
"If you don't eat yer meat, you can't have any pudding

Como você pode comer pudim se não come carne? "
How can you have any pudding if you don't eat yer meat?"

"Você, sim, você atrás dos galpões da bicicleta, fique parado, laddy"
"You, yes, you behind the bike sheds, stand still, laddy"
Fonte: LyricFind
Compositores: Roger Waters
Letras de Another Brick in the Wall © BMG Rights Management

PENNY LANE
Os Beatles
Em Penny Lane, há um barbeiro mostrando fotografias
In Penny Lane, there is a barber showing photographs

De todas as cabeças que ele teve o prazer de conhecer
Of every head he's had the pleasure to know

E todas as pessoas que vêm e vão
And all the people that come and go

Pare e diga: "Olá"
Stop and say, "Hello"
Na esquina é um banqueiro com um automóvel
On the corner is a banker with a motorcar

E crianças riem dele pelas costas
And little children laugh at him behind his back

E o banqueiro nunca usa um mac
And the banker never wears a mac

Na chuva, muito estranho
In the pouring rain, very strange
Penny Lane está nos meus ouvidos e nos meus olhos
Penny Lane is in my ears and in my eyes

Lá embaixo do céu suburbano azul
There beneath the blue suburban skies

Eu sento e, enquanto isso, volto
I sit, and meanwhile back

Em Penny Lane, há um bombeiro com uma ampulheta
In Penny Lane there is a fireman with an hourglass

E no bolso está um retrato da rainha
And in his pocket is a portrait of the Queen

Ele gosta de manter o carro de bombeiros limpo
He likes to keep his fire engine clean

É uma máquina limpa
It's a clean machine
Penny Lane está nos meus ouvidos e nos meus olhos
Penny Lane is in my ears and in my eyes

Quatro tortas de peixe e dedo
A four of fish and finger pies

No verão, enquanto isso de volta
In summer, meanwhile back

Atrás do abrigo no meio da rotatória
Behind the shelter in the middle of the roundabout

A enfermeira bonita está vendendo papoilas de uma bandeja
The pretty nurse is selling poppies from a tray

E embora ela se sinta como se estivesse em uma peça de teatro
And though she feels as if she's in a play

Ela é assim mesmo
She is anyway
Em Penny Lane, o barbeiro depila outro cliente
In Penny Lane, the barber shaves another customer

Vemos o banqueiro sentado esperando por uma guarnição
We see the banker sitting waiting for a trim

E então o bombeiro corre
And then the fireman rushes in

Da chuva, muito estranho
From the pouring rain, very strange
Penny Lane está nos meus ouvidos e nos meus olhos
Penny Lane is in my ears and in my eyes

Lá embaixo do céu suburbano azul
There beneath the blue suburban skies

Eu sento e, enquanto isso, volto
I sit, and meanwhile back

Penny Lane está nos meus ouvidos e nos meus olhos
Penny Lane is in my ears and in my eyes

Lá embaixo do céu suburbano azul
There beneath the blue suburban skies

Penny Lane!
PENNY LANE!
Fonte: LyricFind
Compositores: John Lennon / Paul McCartney
Letras de Penny Lane © Sony/ATV Music Publishing LLC



sábado, 20 de junho de 2020

650 - CHEGA - TROPAS DE COMBATE OU CARNE P'RA CANHÃO * ............

               


Tenho observado o CHEGA desde que apareceu. Surgiu rápido e crescendo depressa, creio não me enganar se lhe prognosticar uma votação considerável no próximo acto eleitoral.

Portanto o CHEGA chegou, encontrou o seu lugar entre uma abstenção composta maioritariamente por desiludidos com os partidos do sistema, os tais partidos instalados, acomodados e incapazes de mudar, um nicho de eleitores considerável, perto dos cinquenta por cento do eleitorado. Mas será o CHEGA capaz de crescer, de os convencer e manter a todos ?

Surripiando votos quer aos desiludidos, quer aos partidos instalados, quer aos abstencionistas convictos e descrentes, o CHEGA cresceu depressa e mais depressa ainda subiu nas sondagens mas, há sempre um mas, quantos mais desses eleitores virá com o tempo a conquistar, a convencer, a fidelizar ou a perder ?



É certo que cresceu depressa, mas as pressas por vezes dão em vagar, o CHEGA por mor dessa pressa com que se guindou à celebridade cresceu desorganizadamente, atabalhoadamente, pisando muitas vezes os princípios que diz defender e não cuidando de acautelar a democracia interna, democracia que portas fora diz querer vender-nos. Tenho observado cuidadosa e acauteladamente o seu percurso, o caminho trilhado e, neste momento diria que o meu prognóstico apontaria para o arame, para a balança ou seja quanto a mim o CHEGA é neste momento mera atracção circense balanceando perigosamente no arame e alvo de potentes holofotes.
  
Manipulando causas fortes e fracturantes de grande efeito mediático, mobiliza as suas hostes mas não toca fundo nos reais problemas do país, ou se toca fá-lo pela rama, nem sempre apresentando as melhores soluções, como no caso da TAP acerca da qual afirmo há muitos anos que dada, oferecida, seria cara para quem ficasse com ela e, se assim já era há anos, o tempo confirmou o dito. O recém-chegado CHEGA não pode limitar-se a perseguir, secundarizando e secundarizando-se, a agenda conjuntural do governo, dos mídia, da esquerda ou da direita e atiçar-lhes os cães danados, o CHEGA tem que propor medidas estruturais de vanguarda e solução para os problemas que compõem o desastre da nação.



Nem o CHEGA pode ser o partido de um homem só, André Ventura e o CHEGA são inseparáveis e indispensáveis mas não chega, o CHEGA não pode ser um partido de breve crescimento e breve existência, como aconteceu com o PRD de Hermínio Martinho, o CHEGA tem que chegar longe porque lhe cabe uma missão quase impossível, pelo menos jamais possível de ser levada a cabo pelos partidos do sistema que à saciedade nos demonstraram não estar interessados em fazê-lo mas somente neles mesmos apostarem ou por eles mesmo fazerem.

Agora corre o CHEGA atrás da inútil causa da esquerda, da agenda da esquerda e do racismo, tendo convocado para dia 27 uma manifestação a decorrer debaixo desse tema. É uma causa perdida, não há racismo em Portugal, nunca houve, isso é coisa dos States e da África do Sul, nós temos focos de violência rácica pontuais, choques localizados, não existe entre nós uma doutrina ou prática racista generalizada e, queixas apresentadas por pretos são-no igualmente por brancos, são problemas do país, radicam no caminho para a miséria que trilhamos, pretos e brancos, e não em quaisquer animosidades de cor contra cor ou de raça contra raça.

Quanto a uma estratégia de crescimento sustentado do CHEGA diria que tarda em chegar, os sound bites lançados até agora têm mobilizado o seu eleitorado básico e instintivo, de revoltados a desiludidos, têm sobretudo apelado à classe baixa, a que mais sofre com os males da desgovernação que há décadas tomou conta do governo da nação. Não vejo o CHEGA preocupado com os problemas estruturais do país e que possam mobilizar a classe média e alta, sabido não podermos sobreviver sem elas, sabido quão elas têm sido também cilindradas pela estupidez que tomou assento no parlamento, nos ministérios, direcções gerais e tutti quanti nos desgoverna.



O percurso apressado do CHEGA não está a construir alicerces ou a prometê-los, está a acicatar as tropas de combate, carne para canhão que lhe garantirá uma vitória ou duas, dois ou três anos de sucesso, mas nunca lhe conferirá solidez para se manter confortável nas sondagens e no poder, criando mesmo um risco acrescido de, entre classe média, média alta e alta, cavar ainda mais fundo a generalizada descrença nelas existente.

A fasquia terá que ser colocada mais alta ou o CHEGA não passará da colheita do breve benefício do populismo que não de todo erradamente tem vindo a ser acusado. Sobretudo não pode continuar sendo o partido de um homem só, terá que convencer, não aliciar mas convencer intelectuais, artistas, académicos, cientistas, investigadores, professores, enfermeiros, carpinteiros, serralheiros, empresários, quadros médios e superiores, e não pode acudir automaticamente a todas as causas pontuais mas dedicar-se sim a problemas globais, estruturais, dando de si uma imagem sólida, eficiente, capaz, responsável, íntegra, e gerar confiança, no futuro, nos portugueses, em Portugal. Nem tão pouco deve acudir ou lamentar a falta de autoridade mas exercê-la, sem medo, quem tem medo compra um cão, e exercê-la é fazê-la cumprir, nem que para isso tenha que distribuir bastonadas à direita e à esquerda, seja sobre pretos ou sobre brancos.  

Abracei o CHEGA mas, em demasiadas situações não me sinto identificado com as suas posições nem com algumas atitudes de militantes seus, de topo e de base, deixando-me por vezes mesmo desconfortável, diria que envergonhado pois quanto a mim o ser humano há muito abandonou as cavernas e, se o adjectivo sapiens que caracteriza hoje o homo significa alguma coisa, é tempo do CHEGA demonstrar a todos que essa sapiência é também uma sua particularidade, quando não será mero epifenómeno e daqui a meia dúzia de anos esquecido para ser meramente lembrado a título de anedota.

Por favor, chega, não me envergonhem, dêem-me causas nobres pelas quais combater, causas pelas quais valha a pena bater-me, batermo-nos, causas que devamos defender, basta de pão e circo, chega de jogos de coliseu.  


* NOTA: Sob o lema CHEGA  ler também os textos, 648, 647, 646, 644, 643, 639a  O CHEGA E A MÁSCARA DO ZORRO... , 635, 631, 630a  CHEGA, O RENASCER DA FÉNIX ...  e outros ....

domingo, 14 de junho de 2020

ARRASTAR MULTIDÕES, OU ARRASTAR OS PÉS * inédito, por Maria Luísa Baião



Desde que em 73 ou 74, ano em que obteve algum sucesso com o aluguer de um monte a um grupo de escravos da colónia que a vida lhe sorria. De tal modo que, sem dar nas vistas e mantendo embora a mesma casinha simplória que alugara quando aqui assentara arraiais, mandou erguer no meio da serra um monte nada modesto que hoje não venderia a ninguém por menos de cinquenta ou setenta mil.

Foi o primeiro agente imobiliário que a terra conheceu, alugar o monte abrira-lhe horizontes conhecimentos e contactos que nunca pensara vir a abarcar, tanto que se dá mal com o protocolo e nunca se sentiu à vontade entre gente normal. Os recalcados complexos de inferioridade com que aqui chegou depressa lhe passaram, só não reparou que o rodeavam tolos que o incensaram mas que agora lhe não são capazes de acudir.

A favela estava carente, fez umas gracinhas e brilhou, tendo caído no goto de quem nunca soube o que querer e ainda não sabe, embora tenha passado tanto tempo que já lhe chamam avô. Foi apostando sempre no imobiliário, sempre devagar, que os excessos de oferta nunca foram bons para o negócio e é sabido que a procura é mais mansa se não tiver muito por onde se afirmar. A par dos negócios que ia controlando com mão de ferro fazia umas obrinhas de melhoramentos na favela, o que fez com que, para onde quer que fosse, arrastasse invariavelmente atrás de si uma multidão agradecida, ainda que cada vez mais empobrecida.

Depois descobriu acidentalmente que essas multidões estavam ávidas, há muito ávidas de consideração, coisa banal barata mesmo, que começou por distribuir parcimoniosamente, ainda que a baixo preço e hoje dissipa por altos valores. Negócio é negócio mas as coisas não vão bem. A turba é ingrata e a horda não lhe sai já nada barata. Uns exigem cada vez mais obras, a consideração passou de moda e atingiu uma cotação que anda pelas ruas da amargura, outros já não vão lá por menos e só lhe gritam;

- Fiquemos !

Ou uns ou outros diremos, não vai já decerto contentar ambiciosos há trinta anos desejosos e muito menos os gananciosos que lhe apertam o cerco, lhe tolhem o passo, roubam o espaço e dele tentam fazer um palhaço. Não deixa nem se queixa, vai andando, mirrando, a consciência não lhe pesa, a coerência ! Ah! A coerência ! Essa sim que coincidência ! Que ambivalência ! É um homem de sucesso a quem o processo avilta, mas em qualquer entrevista, se pelo progresso lhe perguntam, não hesita;

- Ah ! O progresso ! Não seria má ideia não !

E por aí se fica.

Amealhou um capital nada desprezível durante todos estes anos, pena que o ande a desbaratar em atitudes senis que já não convencem ninguém. Morrerá pobre se por este caminho teimar, pobre e sem glória, já que vassalos, gonçalos e outros que tais, mais dados aos vis metais, dele fizeram o bezerro de oiro que uns tolos adoram e outros ignoram. Como deus não terá grande sucesso neste mundo de mitos, como fetiche acredito mesmo que venha a ser empalhado ou melhor, embalsamado, se no entretanto não ficar emparedado.

É este profano que querem consagrar quem fica mais pequeno a cada dia que passa, em simultâneo passam-se os dias, acumulam-se os dias em que nada se passa, há-de até chegar o dia em que nesta cidade virtuosa, nem uma passa, o que não deve demorar muito até que aconteça, visto que todos se afadigam para que nada se faça, mas tudo pareça. Dos tempos de rapaz ficou-lhe o hábito de andarilho ou não tivesse ele corrido meio mundo para aqui chegar, por isso está velho dizem uns, que não dizem outros, está apenas gasto por baixo de tanto andarilhar, e a gente sem saber no que acreditar.

No entanto quando passa deixa já no ar um excessivo cheiro a naftalina, enquanto as criancinhas, somente as criancinhas ou outros inocentes, divisam já em seu redor seráficos querubins, anunciando o abandono da alma, gulosa de ascender à eternidade e posar desnuda nos frescos da abobada que o espera, que a todos espera.

Já não arrasta multidões, um fenómeno sociológico que a economia o desenvolvimento e o progresso futuros hão-de explicar para o ano faz com que já não arraste multidões. Vagarosa e penosamente arrasta os pés por estas calçadas que esventrou e só as crianças lembrarão um dia aquele andarilho que por aqui passou.


* NOTA: Vasculhando uma pouco usada gaveta dei com um nítido primeiro rascunho deste inédito de Maria Luísa Baião, impresso numa folha A4 já amarelecida pelo tempo, não datado e entalado entre dois livros que em tempos idos agitaram a urbe, ambos do mesmo autor ainda que separados cronologicamente por dúzia e meia de anos, ESTA CIDADE E EU do ano 2000 um deles, e UM PROJECTO PARA O FUTURO o outro, de 2016. Atendendo ao lugar em que o rascunho se encontrava diria que o mesmo reportará alegadamente ao autor das obras mencionadas. Tive o cuidado de nada alterar, cuidei somente da pontuação e de um ou outro pormenor de somenos importância. Eu próprio que com ela privei ignoro o sentido de alguns parágrafos, talvez o leitor faça deles uma leitura mais completa que a minha, por esse motivo impunha-se que o texto fosse minimamente remexido por mim, facto que respeitei em memória e respeito pela sua autora.A seu tempo darei a minha opinião sobre este pequeno livro que somente agora comecei a ler.

quarta-feira, 10 de junho de 2020

647 - CHEGA ! SOMOS TODOS CAPITÃES ! ! !


Naquela linda madrugada os militares depositaram de bandeja nas mãos de cada partido nado-vivo e aparecido um quinhão de democracia. Sem que nada tivessem feito para isso cada um deles foi levado em braços e sentado numa cadeira, a cadeira do poder.

Hoje, ciosos do que lhes foi dado, negam aos demais o que, respaldados nesse cadeirão, julgam exclusiva e eternamente seu. Não é, e como disse Salgueiro Maia, esta democracia é de todos, somos todos capitães. Surgem portanto como ridículas abusivas e falhas de base moral todas as tropelias e acusações vomitadas e vociferadas contra o CHEGA, contra o recém-chegado CHEGA, que tem tanto direito à sua quota quanto os demais.

 Melhor seria que se aprofundassem as razões que catapultaram o aparecimento do CHEGA, que propiciaram a sua génese e que mobilizaram em pouco tempo tantos e tantos portugueses a julgar pelas sondagens e a comprovar no próximo acto eleitoral. Paulatinamente o CHEGA tem vindo a morder um pouco o eleitorado de todos os partidos, isso explica a aversão ao novel e recém-chegado participante da festa da democracia.

Tenho para mim que o CHEGA dará voz e contará com os votos perdidos maioritariamente para a abstenção, o que significa que tem programa, ideias e promessas em que os portugueses crêem e das quais sentem necessidade, ou seja o CHEGA tem o que os outros não têm, o CHEGA oferece o que os outros guardam só para si, o CHEGA é aquilo que os outros não são, e sabemos como os partidos do sistema se viraram exclusivamente para os seus interesses, os seus militantes, os seus afilhados, amigalhaços e familiares, arvorando-se em detentores de verdades nas quais já ninguém acredita a não ser eles mesmos e os seus fanáticos ou lunáticos militantes.

Mais do que reformado este país precisa ser arrasado, dou-vos um exemplo, eu que nunca morri de amores por Pedro Passos Coelho bati-lhe palmas quando pretendeu limitar e reduzir as reformas mais altas para beneficiar as mais baixas quando da crise em que tão tristemente pontificou. O seu reinado, acudindo a mais um desastre provocado pelo PS, foi um completo desastre, ficámos sem anéis e sem dedos, mas as várias medidas positivas que tentou implementar em favor dos mais desfavorecidos foram travadas pela Constituição da República Portuguesa.

É caso para perguntar ao serviço de quem está esta constituição, ao serviço de que interesses, é caso para afirmar que também ela precisa ser arrasada, reformada, refeita, feita de novo. E como ela muitos mecanismos e situações que por serem tão gritantemente injustas envergonham o país e os portugueses de bom senso.

Há que instituir o mérito no preenchimento de lugares, há que proibir negócios com familiares, há que impedir que os familiares negoceiem com o estado ou ocupem lugares nos governos, nos ministérios, nas edilidades, nas empresas públicas, etc etc etc …

Só desta forma o país avançará e se regenerará, sendo este um dos principais pontos do programa do CHEGA que tanto faz temer e tremer a burguesia instalada e corrupta que nos desgoverna. O compadrio, o parasitismo, o facciosismo, o partidarismo e o amiguismo não podem continuar a ser o alfa e o ómega deste país.

Por isso o CHEGA precisa de ti, da tua força, da tua vontade, do teu voto, só juntos podemos alterar esta situação de podridão em que Portugal caiu e nos arrasta para a miséria e o drama a cada dia que passa.

Vota CHEGA em todos os actos eleitorais que se aproximam, tu precisas do CHEGA o CHEGA precisa de ti, temos que mostrar a nossa força, a força para acudir aos dramas diários que nos caem em cima, a força que nos pode acudir, a força que fará a diferença, a força que está interessada em que tu venças !

VOTA CHEGA !!!


MADRUGADA

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo


Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen


domingo, 7 de junho de 2020

646 HÁ FOME NO ALENTEJO, NÃO HÁ FUTURO...


No Alentejo e especialmente em Évora caro amigo que me estás lendo, caro eborense, este texto é para ti que tens a cabeça cheia do sucesso que propagandeiam mas sofres na pele o drama da miséria em que o país cai sem que ninguém te ouça. Sofres calado e sem esperança há demasiado tempo, o país e os nossos governantes com tudo se preocupam menos com a vida dos portugueses, com a tua, com a minha, com a de todos. Como tu sei muito bem que a crise não é de agora, vem muito de trás... Como tu sinto na pele haver reformas que deveriam ter sido feitas há 40 anos e continuam na gaveta... Em 25 de Abril no exacto momento em que acabou o autoritarismo do antigo regime começou a estagnação do novo... A estagnação e o oportunismo...  *

Essa mudança tem sido bem feita, demorámos quarenta anos a dar por ela, contudo todavia mas porém não estamos melhor, todo o país definha e já nada é nosso, dantes tudo era deles, de uns poucos, agora não é de ninguém, foi vendido à estranja... Lastimo que unicamente os aspectos negativos tenham ficado para nós. A actual escolaridade média é um bluff, o INE afirma que o período de maior crescimento de economia portuguesa foi entre 1953 e 1974... Foi preciso a liberdade e a democracia para que a libertinagem em que se entrou e se lhe seguiu deitar tudo por terra... Dantes éramos pobres, agora caminhamos para miseráveis... Dantes o país que crescia a uma média de 10% ao ano, cresce agora a 1,2% ou 1,3% e fazem-te acreditar estares a participar numa via de progresso e de sucesso.
  

Antes de Abril o país evoluía e preparava-se para um progresso sustentado e com profissionais à altura do desafio que enfrentava, com o 25 Abril o país e a escolaridade tornaram-se um bluff, agora o país não produz, não cria emprego mas cria dívida, não cria oportunidades mas inventa impostos e os estudantes saem das escolas analfabetos, verdadeiros estúpidos funcionais... iletrados... ignorantes...
  
Verdade que o CHEGA precisa de ti, mas tu também precisas do CHEGA, juntos criaremos a força necessária para deitar abaixo parasitas e oportunistas, juntos criaremos a força necessária à mudança, uma mudança que olhe para ti, que olhe por ti, por mim, por nós. Sem ti o CHEGA não chegará a lado algum, sem o CHEGA tu nunca verás reposta nem a democracia, nem a igualdade, precisamos do CHEGA para cilindrar a desigualdade, a iniquidade, a injustiça.
  
Divulga e partilha esta página junto de amigos e conhecidos, junto de zangados e ofendidos, junto de empobrecidos e desempregados, doravante esta página será o nosso ponto de reunião, de união, o nosso estandarte, a nossa bandeira no Alentejo, divulga-a junto de eborenses e alentejanos, a nossa terra tem futuro, tem futuro connosco, nunca terá futuro sem nós.



* VER TAMBÉM O TEXTO 643 -