Mostrar mensagens com a etiqueta seio. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta seio. Mostrar todas as mensagens

domingo, 11 de agosto de 2013

157 - .................. PANAVISION DREAM .....................




Por trás das pilhas e dos milhares de fardos de aparas de cortiça, debaixo de um alpendre mal enjorcado, o calhambeque. Nunca soube porquê mas só a buzina funcionava, roufenha, soando bem alto mas roufenha. O calhambeque só pó. Mesmo por dentro só pó. Uma D. Elvira sempre presente enquanto eu, brincando ao Zorro e ao Tonto, esporeava Silver na pradaria do quintalão, onde as pilhas e os fardos as montanhas rochosas…

 

Naquele Verão escolhera um chapéu de fita verde por me parecer mais fresca a cor, no início de cada ano a mãezinha comprava-me um chapéu de palha novo na loja do senhor Acácio. Eram milhares de chapéus de palha em pilhas, cada uma com sua forma cor feitio e número de chapéu, número, largura de cabeça, de criança a adulto, pilhas de vinte trinta chapéus e eu sentindo ainda o cheiro da palha nova, o cheiro da tinta nas fitas,

 

o cheiro a naftalina da roupa da cama arredada para baixo por ser Verão, um cheiro que se sentia intensamente por causa das portadas fechadas para evitar a luz e o calor e, embora as portadas fechadas e a penumbra, eu não dormia, cumpria a penitência da hora da sesta mas não dormia nunca, enquanto lá fora a esturrina queimava as montanhas rochosas e eu em cima de Silver perscrutando o horizonte, até que ela chegou,

 

pé ante pé, um dedo nos lábios outro nos meus, um silencio quente, abafado, nem o pregão dos negociantes de cortiça se ouvia, estariam na taberna onde hoje o Restaurante Flor da Pradaria, perdão, da Planície, e

 

nem o resfolgar das maquinas estendendo alcatrão nas ruas da vila se escutava, somente a respiração ofegante dela metendo-se na cama, colando-se a mim na penumbra silenciosa e tropical do quarto, eu fechando finalmente os olhos, não para dormir mas aspirando sem o menor ruído o perfume dela, o cheiro dela e o perfume que jamais esqueci, nunca mais, nos últimos quarenta anos de vida entrei em todas as perfumarias do mundo e nunca mais,

 

o cheiro sim, às vezes, muitas vezes, mas o perfume jamais, e sempre que na lembrança aquele odor no mesmo instante na memória ela, os seios fartos, redondos e cheios, túrgidos, os biquinhos duros e salientes, as auréolas grandes com sabor às da mãezinha quando eu pequenino, e, quando queria montar o Silver e abalar à desfilada pela pradaria e ir embora, ela

 

vais já, tá quietinho, quando acabarmos vais, e se fosse a mãezinha decerto me tinha logo dado soltura para ir brincar, ao principio tive medo e fiquei calado, mas depois, pelos dias fora já gostei, e ficava quietinho e caladinho até ao fim, ainda hoje se baixo as persianas e a penumbra no quarto ouço o arfar acelerado dela, sinto os beijos as mãos e os carinhos dela, eu crescendo em mim sem saber e depois já sabia, e

ao terceiro dia ainda ela se não esgueirara para a minha cama e já eu esquecera o Zorro, e o Tonto, e o Silver e as montanhas rochosas, a aventura aprendida e já tão desejada era outra por eu já a adorar e lhe conhecer os sítios onde ela se rendia e ofegava e tremia, e depois de tremer o abraço dela, o cheiro intenso dela, eu já não brincando nas montanhas rochosas mas brincando nas montanhas dela até conhecer de cor e salteado cada curva cada canto cada reentrância,

 

com o tempo aprendi onde tocar, a mão dela guiando a minha, mete aqui, faz assim, não pares, mais, faz mais, mais depressa, não pares agora, e em vez de matar índios e bandidos empenhava-me em cumprir o que dizia o xerife porque o xerife era ela e eu gostava fazê-la sentir-se bem comigo, primeiro, de sentir-me bem com ela depois,

 

porque depois também eu ofegando, também eu numa agitação em crescendo, também eu guiando a mão dela, também eu que embora não dissesse pensava faz assim, e ela fazia, não pares, e ela não parava, mais, e ela fazia mais, faz mais, e ela fazia muito mais, mais depressa, e ela mais e cada vez mais depressa, não pares agora, e ela sabendo sempre onde parar porque se não parasse a brincadeira acabaria,

 

e ao invés de matar índios e bandidos empenhava-me em cumprir bem o ordenado pelo xerife por gostar de fazê-la sentir-se bem comigo, primeiro, de me sentir bem com ela depois, porque ela me ensinou a parar,

 

jamais esqueci o cheiro dela, nem o meu cheiro, nem o perfume que jamais encontrei, e cada vez que um biquinho, uma auréola,

 

recordo-me dela, recordo aquelas férias e aquele Verão, aquele em que deixei de brincar ao Zorro e ao Tonto embora nunca mais esquecesse as centenas de pilhas de fardos de aparas de cortiça, o calhambeque cheio de poeira escondido na sombra do telheiro enjorcado, com a buzina roufenha e, ainda hoje se no tumulto do clamor do trânsito de qualquer grande cidade uma buzina roufenha

 

logo o pensamento na aldeia, naquele verão, nela, nas camionetas dos Farinhas, no cheiro a alfarroba, na relva fresca e na terra molhada do jardim nos fins de tarde e nas amenas e estreladas noites em que, contemplando-a mudo,

 

descobri que me fizera homem e, ainda hoje, de dedo nos lábios em sinal de silencio ou não, aprendi a guardar para mim todos os pensamentos todos os segredos, todas as memórias…

 ...