quarta-feira, 19 de agosto de 2015

268 - GRANDE E BESTIAL !!!!! ..................................

               
       
“ Bom dia, é tudo verdade, mas podias ser mais humilde, assim pareces uma besta … tu és sempre embirrante  “ Em 16-08-2015 8:09…

- Mas eu sou uma besta, respondi, e bem embirrante.

Foi exactamente nestes termos que uma das minhas amizades (pela idade podia ser minha filha) tentou sensibilizar-me a que abandone o ar algo prosaico e coloquial com que me dirijo a vós. Este é um exemplo de muitos, e ela um exemplo das e dos que o fazem pela calada. Esta ao menos conheço-a pessoalmente. A algumas amizades nem isso, a essas sou mais lesto a ripostar, tal como fiz desta, a esta, apesar de se tratar de uma senhora e a quem elegantemente mandei à merda, tendo ouvido de resposta fazer eu tudo, ou parecer tudo fazer para ser embirrante. 

Ora eu não quero parecer embirrante a essa gente, eu quero mesmo ser embirrante, faço gala em sê-lo pois há gente que não merece outro qualquer lado meu, ou perspectiva minha. E por falar nisso lembrei uma amiga que tive que não se cansava de me mostrar o que ela designava como o seu melhor ângulo, mas isso são coisas de rapazes, ela já faleceu há uns anos, quero respeitar a sua memória e relembrá-la com saudade.

A outras dou com o pau e depois mostro a cenoura (outras amizades), para que reconheçam não ser eu mau tipo de todo, ou, como no caso da esquerdista acima, gabar-lhe a vivacidade mas lamentar-me não ter já fôlego para ela que entrou na ternura dos quarenta enquanto eu, daqui a meia dúzia de anos estarei com sessenta, e não vou aguentando já com uma gata pelo rabo, quanto mais aguentar tudo que cobiço, há coisas que para mim vão ficando verdes, não prestam, e os dentes, apesar de pagos, não trincam já tudo o que me faz salivar.

Mas não nos desviemos da questão, e essa era o facto de eu ser comummente apodado de besta e de embirrante, escuso-me evidentemente a citar epítetos piores, somente por não pensar ou ajuizar de modo formatado, esquecendo essa gentalha insignificante ser na espontaneidade, na originalidade e na franqueza que reside toda a minha genuinidade. (não confundir com ingenuidade).

Ser genuíno não é para todos, é para quem pode, para quem não teme sobretudo para quem não esteja condicionado por chefes ou patrões, ou controleiros de partidos (há-os em todos e em muito maior número que no tempo da execrável PIDE). A única condicionante que me limita é o respeito que todos (as) vós me mereceis, inclusive as e os merdosos que permanentemente me azucrinam a cabeça, dos quais nem daria conta se não os ignorasse. Com o tempo cansam-se, e com alguns até acabei por fazer amizade. Algumas dessas amizades nasceram assim e consolidaram-se, daí que até quando calha mandá-las à merda o faça com elegância, diplomacia, gentileza e respeito.

Não haveria problema algum não se desse o caso de, nestas justas (para os mais lé-lés da cuca, justas=lutas), verdade e ignorância primarem pela ausência, mas não, a primeira acaba sendo regularmente torpedeada e a segunda pairando ostensivamente sobre tudo e todos.

Há uns meses estive vai-não-vai para, com uma cotovelada, meter os dentes para dentro ao meu amigo Desidério quando, à mesa do café, atribui- a ao acaso, ao destino, à sorte e à sina, a desdita de dois operários que, empoleirados num bem alto cesto da gávea, de uma grua telescópica enquanto podavam umas árvores a dez metros de altura num pátio de jogos da universidade, terem tombado com ela, grua, falecendo um de imediato, ficando outro ferido com gravidade e um terceiro com ligeiras escoriações.   

Eu admito a maledicência ainda que não a pratique, sei que existe e é uma realidade, melhor contar com ela… admito até uma conduta aviltante, mas que se falte à verdade e defenda, apregoe e pratique a ignorância deixa-me fora de mim.

Safou-se o Desidério da cotovelada porque é amputado, ainda anda pagando os dentes, e é maricas, não batendo eu em senhoras, nunca bati. Porém no dia seguinte gastei quatro euros mas preguei-lhe uma partida, despejei uma bisnaga de Cyanolit no sapato da prótese e nesse dia teve que ir descalço para casa, enquanto a malta toda ria a bandeiras despregadas e eu me defendia aludindo a qualquer pastilha elástica que lhe grudara o sapato ao empedrado.

Tudo porque na TV a reitora da Universidade, parecendo nada mais importante ter que fazer, perorava sobre o acidente, alegando estarem sendo cumpridas todas as normas de segurança, «…Na primeira reacção ao acidente, a reitora da Universidade de Évora rejeita que a segurança no local não estivesse acautelada… "Teoricamente tínhamos um serviço de poda normal, cuja área estava concessionada com uma máquina que é alugada" disse, “as autoridades ainda não sabem o que se passou”. A mesma responsável frisou que a instituição tinha requisitado um serviço de poda normal, numa área que está concessionada. “Não há nada falhas de segurança no que diz respeito ao equipamento com que eles estavam a funcionar. A máquina caiu e vamos, agora, apurar a razão disto ter acontecido” evidenciou que “a polícia não sabe, a Autoridade de Segurança do Trabalho, que também esteve no local, não sabe"...»

O habitual, ninguém sabia nada de nada, e tudo isto enquanto a câmara de Tv mostrava a grua, que laborara num plano inclinado na descida para esse dito pátio, apoiando o rasto num murete baixo (que cedeu ao peso da máquina), numa situação periclitante, arriscada, desequilibrada, instável, desaconselhada, e que terá estado na origem do acidente, contrariando a imagem tudo quanto a senhora dizia. Ignorância ? Má fé ? Parvoíce ? Falta de senso ? Só não foi mostrado ao telespectador o testemunho de um qualquer responsável pela “Higiene e Segurança no Trabalho” elemento que quer a universidade quer a empresa que aceitara a missão teriam que ter nos seus quadros e na obra.

Como teria reagido a seguradora ? Haveria seguros ? A seguradora terá pago as indemnizações apesar de tanto atropelo à segurança com que o trabalho se realizou ? Tudo o que interessava saber o telespectador ficou sem saber, nem na hora nem meses mais tarde apesar de tantos inquéritos que todas as entidades envolvidas prometeram e despoletaram. Numa primeira fase quer parecer-me que a reitoria só tinha uma preocupação, sacudir a água do capote… “área concessionada, máquina alugada“ como se o pátio e os funcionários envolvidos não pertencessem à UE, logo a responsabilidade também não. «fonte da academia alentejana precisou que o acidente aconteceu num espaço da instituição que está concessionado a uma empresa desportiva para a prática de padel (modalidade desportiva de raquete).»

Mas os meios de comunicação social de nada adiantaram, limitaram-se a papaguear, e mal, as impressões colhidas sem que as tivessem colocado em causa, sem indagarem, sem fazerem perguntas, meras caixas de ressonância da Lusa… De tal modo que pelo menos em três coisas acertaram todos, a hora do acidente, o número de envolvidos e as consequências sofridas, e o local, no restante apresentaram contradições de bradar aos céus…

As entidades envolvidas no caso idem, «…O subcomissário da PSP, afirmou que “tudo aponta para que tenha sido um acidente de trabalho, pois os homens estavam a fazer a limpeza das árvores em cima de uma grua telescópica, a máquina tombou e os funcionários caíram”. “tudo indica que tenha sido uma cedência do muro, onde a máquina estava apoiada”, declinando a hipótese de falha humana. Mas referiu que será feita ainda uma investigação ao acidente...» Portanto falhou a máquina, ou o destino, esclarecedor este comissário que também ninguém colocou em causa … «"Estavam a decorrer operações de poda das árvores quando a grua telescópica tombou", explicou a mesma fonte.»

Quando sabemos que ali em Marrocos qualquer operador de máquinas tem que ter formação, e cuidada, e os reitores sabem o que é a física, o centro de gravidade, alavancas e fulcros, deslocações de massa, inércia, etc etc etc … Cada entidade só procurou marcar presença e tirar o cu de fora, e estiveram envolvidos a PSP, os Bombeiros, Protecção Civil, o INEM, os Sindicatos, o Hospital, acho que helicópteros não, as ambulâncias, carros e mais carros, gente e mais gente, só faltou mesmo foi a previdência…  a caixa de previdência…

É preciso coerência, é preciso que não haja contradições entre as nossas palavras e os nossos actos, até eu levo isso a sério neste blogue onde, por princípio brinco, mas com respeito, respeitando-vos (até quando mando alguém à merda), o respeito acima de tudo. Não é a mim que devem fazer exigências.

Ri-me a bom rir uma vez mais um destes dias, ri-me sozinho mas ri-me, quer dizer, sorri, sorri-me. Vou-vos contar para que também se riam, se riam e vejam até que ponto estamos necessitados de coerência, os que a devem praticar e os que a devem exigir, porque ambos parecem ter esquecido o seu papel, o papel de cada um.

Existe neste reino da Dinamarca um velho jornal, antigo como o papel, o pergaminho, o papiro, tudo ali é velho e respeitável menos uma certa desfaçatez. Um jornal deve respeitar o público leitor a que se destina, e albergar gente respeitável. Mas não senhor, um dia destes dei com esta pérola, um dos subdirectores ou vice-directores, é, em simultâneo e sem que isso o incomode minimamente, vogal de uma instituição privada, propriedade de figura pública cuja filiação partidária é sobejamente conhecida de todos e que, comummente surge reportada (por tudo e por nada) nas páginas do dito diário.

 Que tal desrespeito não incomode os leitores é que me incomoda a mim, a mim que sou uma besta, até embirrante, isto para não vos dar conta de ápodos piores. São 16:25h de quarta-feira 19 de Agosto, acabei de confirmar a pagina pessoal deste amigo “jornalista” onde ainda persiste uma alusão à entidade a que o liguei e à qual por dever de isenção e de oficio nunca se devia ter submetido, que dirá acerca disto a lei de imprensa que tanto gosta o tal jornal de invocar ? Coerência e integridade precisam-se…. Coloquem anúncio… Já no que concerne à tal entidade, não percam tempo, nem um nome lá aparece apesar daquilo tudo tresandar a transparência…

Vou contar-vos o destino desta crónica, fazer espumar de raiva umas quantas pessoas na cidade, e a mim perder alguns amigos mais. Na universidade será fotocopiada às centenas a fim de denegrir a “fitotécnica”, que fora cooptada não por ser a melhor opção mas para evitar que este ou aquela fossem reitores… Isto até que um atrevido qualquer, ressabiado por ter perdido as eleições para a reitoria, dê uma a ler à senhora reitora que, claro, de igual modo exclamará:

                - Mas que grande besta este Baião, quem é este tipo ? … 

               E lá cai por terra a minha veleidade e o grande sonho que tinha de a tornar uma mulher mais inteligente. 

Há gente que nasceu com o cu virado para a lua, e há gente cuja ignorância não tem limites. Agora chamem-me lá nomes, já estou habituado, os meus amigos costumam dizer-me que por cada razão que eu apresente perco um amigo algures, talvez sim, talvez não, 

                                              olhem, pelo sim pelo não ide-vos todos foder.

Nota: Regularmente eu visitava a página social do nosso amigo e referido "jornalista", pois bem na visita de hoje, 8 de Setembro, as alusões à sua ligação à tal instituição tinham sido retiradas, contudo, uma análise à secção "sobre" deixa ainda ver essa alusão, agora referida como uma ligação "anterior". Para que saibam que eu não minto, nem tão pouco brinco em serviço. 





domingo, 16 de agosto de 2015

267 - PAF ! TRUZ CATRAPUZ !! * ...........................


PAF !  TRUZ  CATRAPUZ  !!

Oh ! como é linda aqui a vida para qualquer janota
ou idiota…
facilitaram-te as coisas não foi meu zelota  ?

Grande idiota, sem chumbos, sem notas
que só cresceram em ti como no feijoeiro
o tal, o da história de pirlimpimpim
uma ignorância sem fim numa lembrança sem memórias

Agora  cresceste meu artolas e são outras as histórias
histórias escritas por quem  sabe contar, por quem vence e pode
mas que sabes tu disso agora ?
agora que nem sabes o que não sabes?
que nem sabes metade do que devias saber

Depois queixas-te e dizes ser enguiço
ou nervosismo dos últimos minutos
porque o teu clube perdeu aos penaltis
e tu já nada tens  a perder, aliás já não tens nada

Nem nunca tiveste, nem neurónios nem axónios
tens um lombo para a canga
calejado desde o primário, fortalecido no secundário
ao consolidares o caracter, a personalidade
aí começaras descurando as matérias

Apontaste então a vida às asneiras
a traçar uma carreira, de contratado
de precário, de desempregado
de parvo, de parvalhão, eu sou Baião, e tu ?
meu morcão, meu sabichão
sabichão das dúzias
só desconheces como não levar na fúcias
nas trombas

Só não sabes como sacudir o jugo,
a canga que aguentas de cara alegre
de pateta alegre
podia ser Porto Alegre, ou Portalegre
não, para aí não, é lugar sem poesia
e a emenda pior que o soneto sairia
pena não  bazares sei lá pra onde…
nem saberes quando nem quem nem onde
nem  onde fica a Quinta do Conde, ou Vila do Conde

Foi aí que começaste, mas abre os olhos mula
interioriza, relativiza, radicaliza,
aqui não tens futuro nem salvação
nem pão, nem paz, nem habitação,
porque aqui jaz, jazz & bombo
sempre em festa, aqui e em S. Mamede de Infesta
onde também não presta a ementa, o menu
nem tu, mesmo que leves no cu
tu, primo exemplar do homem analógico digital
ou transexual

Sim, nesta democracia podes ser tudo e coiso e tal
mas preferem-te menos lógico meu animal

* Humberto Baião , Évora, 15 de Agosto de 2015 (num guardanapo de café)

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

266 - O QUE DISSE MOLERO *.................................

              

             
Todo o mistério se resumia a um pequeno raminho de hortelã encontrado sobre o banco traseiro da W Kombi dos biscates. A história tem destas peculiaridades, tão aparentemente insignificantes quanto inofensivas ou desinteressantes, contudo todavia mas porém, são elas muitas vezes a ponta do fio que se enrola ou desenrola como um novelo por toda a meada.

À excepção de um insuspeito, ou suspeito raminho de hortelã entalado entre as costas e o banco corrido da W Kombi e que Molero não sabia justificar, nada mais havia a acrescentar, assim terminava o relatório.

Tinha sido arquivado claro, determinara-se após cuidada averiguação, conforme consta nos autos, que o arguido não passava de um pobre diabo, um gato-pingado, eu seria mais preciso e afirmaria tratar-se dum fura-vidas. Concluíra-se dessas mesmas averiguações ser pacífico que o arguido comummente vociferara contra o Estado, todavia menorizaram-se essas ilicitudes criminais em virtude (eu teria antes apelado à falta dela), da ausência de amor-próprio e patriotismo, já que contudo o sujeito em questão nos autos de averiguação;

Um; não possuía cadastro, cousa decididamente abonatória em seu favor e muito valorizada na sociedade corporativa em construção

Dois; vociferava por hábito e permanentemente contra tudo e contra todos, pior que aquilo só mascando tacaco

Três; sobrevivia de pequenos trabalhos ou ganchos, vulgo biscates, que a vizinhança com condescendência lhe atribuía, sendo que o café onde a atitude anómala se verificara e assinalado na denúncia era a única morada que se lhe conhecia, de resto incerta, constituindo aquele lugar poiso certo conhecido, tendo alguns dos indivíduos que lhe entregaram trabalhos a realizar confirmado terem pago os mesmos com notas de vinte escudos, não ficando todavia determinado se novas se usadas dado ter passado já algum tempo sobre o assalto ao Banco de Portugal e também sobre o dito e referido pagamento ao sujeito nomeado Molero, cuidando-se ser essa a razão pela qual pagaria diariamente as bicas com um nota de vinte escudos, inusual, concedemos, contudo em flagrante contraste com as afirmações constantes nas denúncias anónimas e que relacionam o individuo em questão com os acontecimentos ocorridos na agência do B.P. na Figueira da Foz em 17 - 5- 67.

Quatro; na completíssima inspecção e analise à citada camioneta dos biscates, veiculo registado na DGV sob o nº de matricula CE-56-02, de marca Volkswagen, modelo Type II flatbed, nada foi encontrado que permita intuir ou estabelecer qualquer ligação com base em prova legal, e juridicamente aceite , ou quaisquer outras razões que permitam ligar os factos ocorridos e que culminaram na sua apreensão,  como tal foi o dito e citado veiculo devolvido ao seu legal e comprovado proprietário, já que em momento algum era passível estabelecer-se uma relação de causa efeito entre o dito cujo raminho de hortelã e a discrepância de factos verificada. O veiculo estivera parado ou saíra no dia do assalto á dependência do banco de Portugal na Figueira da Foz ?

Esse era o busílis da questão, e os inspectores detestavam ser comidos por parvos, que é como quem diz, que lhes comessem as papas na cabeça. O citado Molero puxando de notas de vinte escudos todos os dias quando até ali mendigava a bica dia sim dia não e protelava o pagamento da mesma para depois do almoço ou logo ao jantar ? Ali havia gato. Que o deixassem ir mas mantivessem sorrateiramente aquele fura-vidas debaixo de olho, tanto mais que o facto de ele ter deixado de apresentar as vintenas para pagar as bicas desde que os interrogatórios destinados aos autos de averiguações tinham tido início, era a prova provada de que ele era culpado.

O inspector Bonifácio, inspector de terceira classe há quinze e chefe de brigada perfazendo vinte e dois anos no activo franziu o senho e ordenou:

- Dêem-lhe tempo, tempo e espaço, mas não lhe tirem os olhos de cima, esse bardamerda anda a gozar connosco e eu gozar só na cama e com mulheres mais novas que ele, a esperteza desse merdas vai ser a morte dele, pela boca morre o peixe. Há-de falar, ou eu não me chame Bonifácio.

Todavia, contudo, fiquem porém registadas as afirmações do que disse o arguido Molero quando mui exactamente afirmou não ter sido usado o referido veiculo na última semana, o que é contraditado pela prova nº 1, o tal raminho de hortelã, fresco, viçoso, isto é colhido há menos de um dia, que foi por nós encontrado (e citado atrás nos autos) entre as costas e os bancos corridos da viatura, o que contraria as alegações do suspeito, inda que não passe de uma prova circunstancial e como tal passível de ser rebatida por qualquer advogado de meia tigela ou até mesmo ignorada por qualquer douto e excelentíssimo juiz em quaisquer tribunais, portanto esta inspecção limitou-se a registar a prova, a qual no futuro poderá ou não vir a tornar-se importante e necessariamente utilizada, o que será consensual, quer como acusação quer como prova.

Nada mais havendo por agora, sublinho por agora, a acrescentar, aos dezassete de Junho do ano da graça de mil novecentos e sessenta e sete, pelas 22:30h é encerrada esta averiguação e inspecção e delas passados estes autos que vão superiormente assinados por mim, chefe de brigada da PIDE e inspector de terceira classe.

A marosca montada em segredo e em redor de Molero nem demorou duas semanas que não surtisse efeito. Um sujeito engomadinho, moreno, porte atlético, cabelo curto à escovinha, à rufia, e cujos modos diga-se de passagem contradiziam o fato e gravata esmerados, apareceu um dia no café, segredou qualquer coisa ao ouvido do Molero e este, sem largar um pio, passou-lhe as chaves da Kombi para as mãos. Evidentemente o nosso engravatadinho engomadinho não mais deixou de ser seguido.

Vimo-lo entrar e abalar aos solavancos de embraiagem debaixo do telheiro de onde o Molero afirmara a carripana nunca sair, parou demasiado tempo na bomba de gasolina e no café anexo à mesma, pelo que mal partiu um de nós foi averiguar enquanto os outros se lhe mantinham no encalço sem o perder de vista.

Metera dez litros de gasolina, (refira-se que de acordo com os catálogos do modelo Volkswagen, Type II flatbed teriam ficado com autonomia pra muito mais de cem quilómetros mesmo em circulação urbana) e fizera um telefonema (um nosso homem ficou encarregado de posterior visita aos CTT afim de averiguar o nº marcado e o destinatário, bem como a localização deste último), e tomara uma bica, totalizando a despesa vinte e dois escudos e cinquenta centavos, importância que quitara com uma nota de quinhentos escudos, pois o balconista lembra-se bem da dificuldade para lhe arranjar troco, UMA NOTA DE QUINHENTOS ESCUDOS ????????? Mas esta investigação só lida com notas demasiado grandes e demasiado novas para as despesas que pagam ?

O Asdrúbal ligou para a central, para o inspector de terceira classe e seu chefe de brigada a dar conta dessa estranha e peculiar ocorrência tendo ouvido de resposta:

- Eu sabia ! Eu tinha razão ! Não os percam de vista a esses dois ! Ali há gato ! Eu não me chame Bonifácio caralho !

O quê ? Que diz você Asdrúbal ? Repita lá isso homem !

- É como lhe disse senhor inspector, achei estranho apenas, o nosso homem levar colocado sobre a orelha direita, quero dizer entalado na aba da orelha um raminho de hortelã, ao principio ainda julguei que fosse manjerico embora não seja o tempo deles mas… A gente habitua-se a ver de tudo não é senhor inspector ? Depois quando me aproximei dele p’ra ver se bispava o nº que discara (ele tapou-se com as costas) cheirou-me a hortelã, olhei bem e lá estava um raminho fresquinho todo catita por cima da orelha do bicho, quero dizer do dito cujo sujeito engomadinho.

- Siga-o sem que ele dê por si Asdrúbal !

Chefe, eu fiquei a pé no café para lhe telefonar, quem o seguiu foi o agente novo, o Camilo, aquele agente novo do norte, acho que de Mortágua, ele e o Resende a dirigir as operações.

- Ah ! O Resende está com ele ? Está bem, temi que a sua juventude e inexperiência pudessem trair todo o trabalho que temos tido. Ok, vou já mandar alguém buscá-lo aí, onde é que você disse que estava ? Café Frango Assado  ? Samouco ? Ok vai já alguém, espere e tome qualquer coisa, hoje pago eu.

O engomadinho foi seguido, parou à saída de Alcochete pra deixar entrar uma engomadeira com barraca montada no mercado do Montijo, dirigiu-se à reserva natural do estuário do Tejo, como quem se mete a caminho de Samora Correia tendo a meio caminho metido pelo silvedo, o que fizeram exactamente às 18:37h, e onde permaneceram exactamente até às 19:42h.

O regresso executaram-no pelo inverso da ida. O nosso carro marcava exactamente 87 quilómetros percorridos, ida e volta, passando agora à enumeração de vários factores a assinalar neste relatório e de supino interesse para a investigação em curso.

Um; Ao observarmos a carrinha depois de novamente arrumada no telhal jazia sobre o tablier um viçoso e aromático raminho de hortelã.

Dois; Foram encontrados debaixo do banco traseiro vários lenços de papel e bocados de papel higiénico, recente e com resquícios de sémen, bem como um preservativo usado (bem cheio) de marca Durex, tamanho grande (juntámos a carteirinha prateada do dito às provas), e alguns outros marca Control,  já ressequidos indubitavelmente de encontros anteriores, provas que recolhemos num saco higienizado e foram entregues nos serviços de laboratório desta polícia, com o nº do processo apenso para posterior analise averiguação e identificação.

Três; A dita senhora, que mantém banca de engomadeira no Mercado do Montijo é a D. Clarinda Veiga Pires, Terá à volta de 45 a 50 anos, e vive maritalmente há mais de vinte com o senhor Herminio Palma Inácio, aproximadamente da mesma idade e com talho na rua de Cima, no Cacém.

Quatro; Conforme instruções recebidas nenhum dos intervenientes neste relatório foi detido ou travado nas suas actividades diárias.

Cinco; Toda a equipa está ciente que, quando da sua detenção para interrogatório deve ser evitado todo e qualquer contacto entre eles e enclausurados em celas separadas. Para além dos já nomeados foram detidos igualmente; Emídio Guerreiro, Camilo Mortágua, José Augusto Seabra, António Barracosa e Luís Benvindo, todos suspeitos de ligação e pertença à LUAR, Liga de Unidade e Acção Revolucionária.

Passaram-se alguns dias, triangulações, observações, após os quais as detenções permitiram em pouquissímo tempo esclarecer os factos, recuperar as quase trinta mil mocas e deter todos os intervenientes a fim de serem alvo de acusação, posterior julgamento e prisão.

 Esta brigada orgulha-se do seu laborioso sucesso em prol da Nação, eu, pessoalmente, dirigi todas as diligências que culminaram em mais um espectacular sucesso da PIDE. “ Tudo pela Nação, nada contra a Nação” !

Chiado, 16 de Agosto de 1967
Bonifácio António Maria Cardoso
Inspector, Chefe de Brigada

* todos os factos e nomes são veridicos e podem ser confirmados, existem actas, relatórios, processos, e, sendo mais cómodo o Google, introduza os factos, ou os nomes e dentro do contexto, confirme-os. Obrigado.
            




terça-feira, 11 de agosto de 2015

265 - PEÇA EM 3 ACTOS … Paulo & Esperança ...

                               

ACTO 1 Fala 1 em desespero

- Não há outro modo de lidar com aquela malta, só à bruta, não vão lá com paninhos quentes, para eles tudo é luta, tudo é acção, atitude, politica, até o respirar, nada conseguirás com pedidos, solicitações, boas maneiras. Só reconhecem a força, só temem a força.


Fala 2 com a calma que só o poder concede

- Então tens que lhes atirar com um exemplo de força se os quiseres dominar, senão nunca os terás na mão quanto mais virem-te comer à mão, foi o que eu fiz com os agricultores do regolfo, e foi remédio santo.


Fala 1 de novo e num modo lancinante 

- Já os conheço, e a alguns até conheço bem demais, como saberão, há ali um reviralho, não me parece que consiga levá-los com a força, aquilo cheira mais a coisa premeditada, a contestação silenciosa…           


Fala 3 à laia de quem manda bitates

- Nunca foi uma questão de força pá, estás enganado, é uma questão de votos, afinal em quem é que os eleitores votaram ? Afinal a quem é que o processo, ou a lei, entregou a autoridade ?


Fala 4 num tom de quem domina o hábito de mandar

- Pois, vocês falam muito bem e reconheço-vos razão, mas o senhor no seu departamento também tem problemas, não por acaso os mesmos problemas. Às vezes tenho pena de ser mulher, e não me ficaria bem tomar certas atitudes mas o senhor arquitecto e o senhor presidente sem darem dois murros na mesa e atirarem uns tantos às feras não irão lá.


Fala 5 com maneirismos, como se desenhasse algo no ar

- Ó minha cara amiga são funcionários públicos ! Não podem ser despedidos, além disso tem que se lhes levantar um inquérito, ter testemunhas e provas, e se arranjamos uma coisa já não arranjamos a outra, tapam-se uns aos outros !


Fala 6 com  a barriga e autoridade que só o poder concede

- Não podem. Não podem … Não podem é um modo de dizer, já passei por um ministério onde meti uma dúzia deles na rua e todo o ministério acalmou, acalmou é maneira de dizer, baixou a crista. É certo que mais tarde foram reintegrados, mas um ano e tal de susto e carência foi o melhor exemplo p’ra acalmá-los todos, desculpem-me a linguagem mas vocês dois não têm é tomates para os pegar pelos cornos, essa é que é essa, é aí que reside a questão. Amansavam logo ! Oh se amansavam ! Lá no ministério ficaram que nem cordeirinhos !


Fala 1 nova e tristemente

- Por mim já decidi, é deixar andar o barco, aquilo é um mar ingovernável, deixa andar ao sabor das ondas, ou isso ou uma guerra aberta e permanente e eu não estou p’ra isso. A gente dá-lhe uma ordem directa e ficam a olhar para nós como quem não entendeu, depois viram as costas e vão-se embora rindo, e não cumprem nem se incomodam tão pouco a fingir que irão cumprir. É demais, ando esgotado.

Fala 6 de novo com ar de quem repreende 

- Vocês dois têm que ter calma, calma e autoridade, vocês foram eleitos, não eles, por mim posso garantir-vos o apoio e cobertura da AG, o resto terá que ser convosco.


Fala 4 outra vez já bufando

- Metam na rua cada um que levante cabelo, e façam-no logo, de imediato, nem lhes dêem tempo, tal como disse o senhor presidente da AG, ai se eu não fosse mulher, haviam de ver como elas lhes mordiam… E esse arquitecto tem que aprender ! Esse e todos ! Têm que levar uma lição.


Fala 1 irritado, melhor, encolerizado

- E é que não fazem nada de nada ! Não mexem uma palha ! Passam os dias a conspirar e a fazer politica, a manobrar, a pensar em manobrismos, a pensarem como hão-de lixar cá o parceiro… E não lhes poderemos levantar processos por não fazerem nada ?


Fala 2 cauteloso

- Isso não ! Isso nunca ! Era coisa que acabaria por se virar contra nós, afinal todos precisamos de uma retaguarda, e com uma lebre dessas levantada deixaria de haver delegações, institutos, instituições, direcções gerais, regionais e locais, politécnicos e universidades que nos acolhessem, ficariam expostas ao receberem-nos quando não estamos exercendo cargos… Isso não, é melhor nem pensar ir por aí…

ACTO 2  Fala 7 impondo a ordem que o tempo esgotava-se


- Ok ! Ok ! Já chega por hoje ! Iremos acompanhando os casos. Que isto não fique em acta, se ninguém tem mais nada a dizer passemos então à ordem de trabalhos.

ACTO 3 
Fala o narrador, rindo da falta de visão e preparação dos personagens

            Constou-me, uns anos mais tarde, ter sido a peça levada à cena por mais duas vezes antes de se ter cerrado de vez o pano sobre ela, mas por essa altura já eu tinha abandonado o grupo de teatro, surpreendido e enojado com as práticas, os encenadores, os aderecistas e os guionistas. Tudo aquilo cheirava a ranço e a pré-cozinhado, ora o estômago fora sempre o meu ponto fraco... Eu inscrevera-me numa formação que me permitiria ser um ladrão honesto, pareceu-me ser profissão com futuro. 


                                      by    Luiza Caetano - Pintora e Escritora

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

264 - GANIMEDES E A CULTURA ...........................

                                 
Está em pleno a pré campanha, nas televisões, nos jornais, nas redes sociais, e inda que o verão e as férias mal tenham começado, cada palrador já encontrou ou preparou o seu registo de molde a impressionar-nos (como se fossemos uma chapa do negativo de uma foto à la minute), ou pelo menos a captar a nossa atenção, quiçá o nosso interesse, este último coisa cada vez mais discutível de obter. Cada um de nós criará uma imagem estereotipada de cada personagem, eu faço-o, pois facilita-me a sua arrumação em prateleiras mentais e sobretudo influi determinantemente na disponibilidade que concederei a cada uma dessas pseudo carismáticas figuras.

A alguns só tem a gente a ganhar nem os ouvindo, há partidos vivendo há quarenta anos em contradição, outros terão um piadão, pelo que a minha atenção oscilará como uma bolha de nível num nível (ri-me de mim mesmo com esta redundância). Mal as investidas se iniciaram e deu para ver de tudo, pelo que fiquei curioso quanto ao que espero ainda rir. O país está mal, muito mal, mas agora está muito melhor segundo uns, ou um tanto ou quanto pior, segundo outros. Quem assuma a trampa que fez e nos colocou na difícil situação em que nos encontramos é que não o admite nem aparece, com a agravante de, muitos dos que a este buracão nos trouxeram estarem aí de novo, prontos a dar-nos a mão e a salvação, como se nada do que se passou fosse com eles. Há partidos que com a sua inanidade e insanidade, em doze anos são capazes de atrasar uma cidade vinte e quatro.

Um destes dias até sonhei que Mussolini ressuscitara e se candidatava de novo a conduzir a nação à glória plena, e antevi nele o mesmo espírito de corpo, o corporativismo que tantos anos nos alimentou os dias e as vidas, “tudo pela nação, nada contra a nação”. O mesmo porte garboso apesar de ressuscitado, o mesmo ar descomprometido dos kosovares, esses sim, nada têm que ver com a fossa onde nos encontramos, o mesmo ar desinibido do tempo em que as vacas eram gordas e sorriam, a mesma desfaçatez que tão bem demonstrada foi por Bernardo Bertolucci no filme “1900, ou Novecento”, cujo link directo para o Youtube vos ofereço no fim do texto. (Mussolini morreu a 28 de Abril de 1945 às mãos do povo, juntamente com a amante Claretta Petacci na vila de Giulino di Mezzegra no Norte da Itália, fuzilados dois dias antes do suicídio de Hitler).

O meu amigo Ganimedes é que não concorda de todo comigo e está sempre:

- Não sejas parvalhão Baião… Deixa a politica para os políticos… Ainda não reparaste que por cada vez que tenhas razão perdes um amigo meu parvalhão ? …

O que me irrita é o seu ar de sabichão e as reticências, porque conhecendo-o como eu conheço sei o que implicitamente escondem, e ainda que ele se iniba numa mesa onde estamos meia dúzia, senão mais, adivinho-lhe a aspereza da observação e da crítica que implicitamente as reticências ocultam.

Involuntariamente vou observando os movimentos políticos dos personagens e das massas, já não involuntariamente vou anotando, catalogando, classificando, escrutinando, desde há uma dezena de anos a esta parte, a fim de mais tarde dar à estampa um estudo sociológico sobre movimentos de massas e personagens críticos ou cruciais, diria determinantes em cada caso, e faço-o criteriosamente, para ser mais preciso e explícito, desde o “movimento cultural” que arregimentou populações sob uma causa comum dirigida contra a única pessoa que parece não ter percebido a questão. 

            Pessoa que aliás nunca terá percebido nada de nada a não ser que um especifico e peculiar tubo com 20 cm de comprimento estaria coberto e submetido às agruras de um processo degenerativo de oxidação, vulgo ferrugem. Para ser franco, no estudo que elaboro e que pretendo submeter à apreciação dos sábios num futuro mestrado em Sociologia, e que me propus levar avante na nossa universidade, adianto várias pistas, ou hipóteses, todas viáveis, entre elas uma manifestada incompreensão pelo apoio do partido proponente, que reiterada e continuadamente apostou nessa figura, claramente deslocada do seu meio, incompreensivelmente incapaz de se assumir, de se relacionar com as massas, irrevogavelmente sem a mínima tendência ou capacidade de gestão de recursos, entre os quais os humanos, e de quem a história nem virá sequer a lembrar-se. Curiosamente lembrou-se Cavaco e Silva, desse e de um outro a quem são devidos trinta ou mais anos de imobilismo e obscurantismo.

Mas enfim, c’est la vie, parece que certas figuras por mais que se esforcem nunca farão história e rapidamente caiem no esquecimento, e antes que a vaca esfrie continuemos, onde íamos nós ? Na tese de mestrado e nos “movimentos culturais”, coisa que eu vi logo não ser o que parecia, até por, na história, jamais um movimento cultural ter conseguido o que queria, em Évora sim mas só o conseguiu nas suas reivindicações menos claras, quer porque não tivemos a nossa revolução cultural, (tivéramos simplesmente saneamentos), nessa época longínqua, como hoje, já éramos avessos à cultura, incluindo a cultura da tolerância, da aceitação, do respeito, do convívio e da partilha (ficou a da conivência, que como todos sabemos tem trazido imensas excursões a Évora), quer porque por cá a cultura enobrece mas dá de comer a poucos, coisa que Putin sabe melhor do que ninguém, pelo que lamentará não se ter insurgido mais cedo contra o revanchismo acoitado debaixo da perestroika e da glasnost que estraçalharam a mãe Rússia, levando-a a entregar as suas riquezas de mão beijada a uma direita oligopolista com a qual Putin agora se vê a braços.

Foi a fome, e não a cultura, quem despoletou a revolução russa de 1917, ainda que gente maledicente a atribua a uma monumental bebedeira que o exército popular, chamemos-lhe assim, terá apanhado nas caves do Palácio de Inverno em S. Petersburgo, cuja conquista significou um marco oficial na revolução. Bebedeira dizem, sem a qual não teriam sido capazes de quebrar as correntes culturais, cá está a cultura (da submissão) que os ligava à burguesia nobre a quem em estado normal seriam incapazes de desobedecer, tendo sido unicamente debaixo do efeito inebriante dos vinhos franceses e italianos, recheando as ditas caves, que ganharam coragem para fazer à realeza e seus muchachos o que nós deveríamos fazer à troika e seus acólitos. Isto da cultura tem muito que se lhe diga e serve para muita coisa, também na China fora a fome uma vez mais, não a cultura, que despoletou a revolução e a Grande Marcha, inda que mais tarde não tenham desdenhado e baptizado de “Revolução Cultural” tempos de vingança e inveja que ficarão eternamente escritos a negro na sua história. Revoluções culturais só me ocorrem a escrita e o Iluminismo.

Mas encontro-me em condições de garantir-vos, em Évora temos precisa e exactamente 372 pessoas cultas, trezentas e setenta e duas, ou 744, setecentas e quarenta e quatro se contarmos os pés e dividirmos por dois. Não me incluo a mim nestes números, eu era o que estava em cima do cavalo e confesso ter-me esquecido de mim próprio, até por nem ver razão para me incluir no universo em questão. Como disse tenho feito as minhas observações, anotações, catalogações e classificações, num escrutínio que já leva anos, a fim de não colocar em causa a exactidão dos números. Sim, contei-as e bem contadas. Trezentas e setenta e duas pessoas que possamos conotar à cultura tem a minha terra, demorei mas consegui ou penso ter conseguido, foram anos de trabalho de campo activo e exaustivo, anos em que uma completa e extensa metodologia empírica foi posta em prática e elevada à última potência toda a subjectividade permitida pela indução das mais rigorosas classificações e deduções, observadas a partir da enorme variedade que as amostragens obtidas em cada uma das múltiplas categorias analisadas consentiu.

Não me poupei, como seria lícito em minha defesa advogar, nem a esforços nem às premissas exigidas durante o dilatado período decorrido, em que examinei e diagnostiquei com honestidade o objecto desse trabalho, que curiosamente nem envolve , engloba será mais correcto, 80%, oitenta ou mais por cento dos que engrossaram os movimentos de massas “pela cultura” a que o trabalho alude. (será então caso para nos perguntarmos que estariam lá fazendo ?)

O meu amigo Ganimedes sabe-lo, por isso me diz reiteradamente que me cinja ao estudo e à tese, mais que isso é comprar inimigos gratuitamente, e di-lo-á certamente com alguma razão. Muitas vezes é ele quem por mim recolhe os dados, formula até hipóteses que posteriormente procuramos comprovar ou comparar com situações idênticas para aferirmos da sua validade, como é dele também, devemos fazer-lhe justiça, a hipótese de o 25 de Abril não ter resultado de um movimento cultural e sim de uma preocupação com o pré ($$$ para os mais novos e ignorantes), sendo que a prova de que nem sabiam o que faziam ou no que se estariam metendo é este resultado à vista de todos e que nem toda a cultura do mundo evitou nem resolverá nos próximos cinquenta anos.

Pena que não tenhamos alguém com a craveira de Putin, que restaure o orgulho pátrio como ele está restaurando o orgulho da mãe Rússia, sim, mesmo ordenando o esmagamento de todos os alimentos importados evitando a colonização da Federação russa pelas empresas imperialistas de fast food. Sim, por vezes é preciso que alguém pise forte inclusive a cultura, para que se possa acorrer a mais graves contingências. Ou era isso ou (assistir como nós), ao atrofiar e definhar da agricultura russa. Até porque não era o russo médio ou médio baixo quem tinha acesso a esses bens nas caras lojas e supermercados das grandes cidades, o russo de que falo e de quem Putin assumiu a defesa intransigente está condenado a uma dieta de batatas e até isso somente quando a neve e o gelo não o impedirem de esgaravatar o chão para as desenterrar.

Lá deixará de ser como aqui, em que tudo chega de fora pelo paquete como diria Eça, populista ou não Putin sabe haver só um caminho, e esse caminho é a cultura, na cultura é que reside a salvação, a cultura dos próprios bens de consumo em doses industriais, a agricultura. Era isso ou a fome, por cá escolhemos a fome.

Em relação ao trabalho em causa adiantarei somente que dos louros que me sejam devidos, somente aceitarei os que exclusiva e comprovadamente sejam fruto do resultado da metodologia usada, e claro, deverão ser-me igualmente creditados os provenientes da originalidade propiciada pela interdisciplinaridade das várias ciências envolvidas e de que me socorri. Tão poucos cultos, pensarão vocês, e estarão a cair no mesmíssimo e errado plano de observação de que ao princípio inquinei.

Lembrai pois a natureza subjectiva mas unívoca do que estava em observação.

         Obrigado parvalhões.



Sinopse:
O filme faz uma retrospectiva histórica da Itália desde o início do século XX até o término da Segunda Guerra Mundial, com base na vida de Olmo, filho bastardo de camponeses, e Alfredo, herdeiro de uma rica família de latifundiários. Apesar da amizade desde a infância, a origem social fala mais alto e os coloca em pólos política e ideologicamente antagónicos. Através da vida de Olmo e Alfredo, o filme retrata o intenso cenário político que marcou a Itália e o mundo nas primeiras décadas desse século, representado pelo fortalecimento das lutas trabalhistas ligadas ao socialismo em oposição à ascensão do fascismo. "Novecento" tornou-se um épico aclamado no mundo inteiro, sendo considerado pela crítica internacional como uma das principais obras do grande cineasta italiano Bernardo Bertolucci.