quinta-feira, 18 de agosto de 2011

83 - OBRIGADO EUROPA...



        Já todos esquecemos a falhada tentativa comunitária que, antes do Tratado de Lisboa, franceses e holandeses deitaram por terra com um não. Com a subtileza de uma meretriz, os políticos da Europa e deste país em que cada vez me revejo menos, engendraram manobra que dispensasse os referendos que lhes deitariam por terra as intenções. 

        Travestiram de Tratado a falhada “Constituição Europeia”, fizeram uma vez mais o que sempre têm feito, isto é, prepararam-se para nos respectivos parlamentos aprovarem o que lhes aprouver…

        Curioso que quando se trata de se amanharem, o parlamento serve-lhes, quando não lhes convém referendam-se ou não os assuntos, mas sempre ilibando de quem as assumiu, as responsabilidades que lhes competem, desde que alcancem os resultados almejados, resultados cada vez mais longe dos meus interesses, dos meus objectivos, e evidente e claramente os do povo a que pertenço.

        Bem se lixaram com os irlandeses, cuja constituição, menos permissiva que a nossa, os obrigou mesmo a referendar o que devia ser referendado em todos os países comunitários. Irlandeses que deram nos últimos anos um salto qualitativo graças à UE, que debelaram insucessos escolares, fugas ou abandonos da escola, adquiriram cultura, elevaram enormemente as taxas de crescimento do país, o PIB e o PNB, da balança de transacções e todo e qualquer indicador que nós portugueses tenhamos em baixo, mas que a giga joga de especuladores financeiros vorazmente deitou abaixo quando do arrastão de 2008.

        Ter-me-ia congratulado também, se esta democracia em que me enterram me tivesse permitido te-la votado, ter-lhes-ia dito que não, não a esta Europa que me querem impingir à força, e que cada vez me diz menos.

        Triste é ver a petulância com que nas Tv’s, nos impingiam a Europa. Ainda tive esperança, há alguns anos, que a nossa adesão tivesse constituído o motor que nos faltava, mas há muito me desiludi. Tive esperanças que a transcrição das directivas comunitárias nos obrigasse a adoptar as medidas que há muito se impunham e continuam a impor. Ingenuidade minha, políticos estultos e sagazes deram-me a volta !

        Não somente não foram transpostas dentro do prazo, tendo sido proteladas para além do razoável as suas adopções, ou transcrições, como pura e simplesmente o não são, ou se transcritas são ignoradas, caem em saco roto, ou até desrespeitadas com a maior leviandade.
Não à Europa do capital e das mercadorias, que desde sempre puderam livremente circular no seu seio, mas esquece as pessoas, pessoas para quem as políticas deviam se precisamente dirigidas.

        Não, ao invés do trabalho é o capital industrial e financeiro que está em primeiro lugar, deslocalizando-se a bel-prazer dentro da própria comunidade, buscando-se a satisfação ávida dos lucros, à custa da desgraça dos cidadãos, que para nada interessam a não ser como mão-de-obra barata e descartável ou para dar cobertura ao que lhes interessar no momento, pois é importante que se dê um ar de liberalismo e livre concorrência ás tramóias puramente capitalistas, desumanas, predadoras e eticamente reprováveis, assim soubesse essa gente o que é a ética, acerca da qual já ouvi dizer não dar de comer a ninguém....

        Não sou comunista, nem anarquista, ou bloquista, e já nem socialista, social-democrata ou democrata cristão, tal o nojo que toda essa gentalha me mete e a desconsideração a que a votei. Sou sim, um cidadão informado, vivendo do meu trabalho e não de rendimentos do capital ou de rendas, esperando há mais de trinta anos que as promessas ouvidas sejam cumpridas, essas e outras ligadas à CEE/ UE, coisa em que devem ter percebido não creio já, pois para tal não tenho nem vejo motivos mínimos para isso, muito pelo contrário.

        Ouvi alardear na altura que sem a nossa adesão não resolveríamos nenhum dos muitos e prementes problemas que tínhamos, pois bem, temos mais problemas agora, pelo que compreenderão a minha aversão a esta UE e a este tratado que nas nossas costas cozinharam, porque o que vos quereria dizer é que esta política não nos serve, que a metam num sítio que eu cá sei, os rendimentos provenientes dos salários têm perdido força, o desemprego aumentou, o fosso entre ricos e pobres é cada vez maior, a miséria e a pobreza idem aspas, pelo que obrigado mas os políticos portugueses e comunitários, oportunistas ou corruptos,  ou até as duas coisas...  que revejam de novo as matérias, o ideal seria talvez que Portugal abandonasse este clube de ricos para onde se esgueirou como gaiato rufia iludindo o porteiro da matiné e agora não tem nem tusta p'ra comprar rebuçados no bar.    

        Melhor abandonarmos essa veleidade, pronto, foi uma vaidade momentânea, perdoemos e esqueçamos, não temos nem teremos nunca pedalada p’ra acompanhar com gente rica, o melhor é sair mesmo enquanto é tempo e antes de alguém nos dar um chuto no rabo e nos colocar fora entre impropérios pouco dignos de serem ouvidos.

        Não somos povo para se governar ou deixar que nos governem, Salazar sabia bem com o que contava, não foi por acaso que se aguentou tanto tempo, e eu, que já não acredito nas virtudes da democracia aplicadas ás nossas gentes, da extrema-esquerda até aos nossos dias descrevi um arco, experiência “oblige” que me coloca hoje como saudoso do antigo regime, regime em que ainda vivi e que de longe prefiro ao actual, cá tenho as minhas razões, até porque reconsiderei e entendo algumas mortes no Tarrafal como custos de contexto, aliás gente menos interessante porquanto se tratava de gentalha que, a ter sido deixada à solta teria implantado aqui, como noutros pontos do globo, regimes bem mais odiosos que o que Salazar nos deixou em lembrança, além de terem sido bem menos que quantos morrem diariamente nas ruas, fruto da liberdade, segurança e libertinagem que esta democracia nos confere, pelo que, ponderados os prós e os contras, vou mas é inscrever-me num desses partidos nacionalistas e tentar uma carreira na política.

        Creio firmemente que o que este povo quer e precisa é mão pesada e murros nos cornos, enquanto assim foi sempre andou bem, e não esta democracia de merda com a qual já não posso, falo-vos de coração nas mãos, haja coragem para o afirmar. Trinta anos de desilusões foram demais, convenceram-me do que é bom para nós, e agora sei-o tão bem quanto Salazar o soube, pelo que nem levem a mal se um dia tomar conta desta merda, der a quem minimamente comprometido politicamente dois dias para escolher o país onde viver galhardamente um exílio merecidíssimo, chamar os que estão fora e queiram voltar, para que de novo, orgulhosamente sós, construamos algo nosso e por nós feito, sem o contributo daqueles que nada fazem para além de penhorar a pátria.

        E então verão que, não mais uma greve, não mais um queixume, não mais um desempregado, não mais um faminto, não mais um português sem casa ou sem pão para os filhos, hospitais, escolas e creches acessíveis a todos, lares aos pontapés para os idosos que cada vez são mais, dois empregos para cada um que os queira, e os votos dos funcionários públicos contarão todos a meu favor, e dos amantes da bola também, e dos jogadores de matraquilhos e de gamão, e dos fumadores, activos ou não.

        E a minha amada imagem colorida e digitalizada circulará nos e-mail’s, nos selos do correio, em cromos para as criancinhas e molduras para afixar em salas de aula e então os portugueses saberão que estarei sempre ali, velando por eles, fazendo por eles, governando para eles, e verão de novo a autoridade em acção, o respeito, os valores, pois acredito estar predestinado e ser piamente capaz de muito mais e melhor que os burocratas de merda a quem temos estado entregues.

        Tenhai em conta que falo a vossa linguagem e a realidade me tem moldado à vossa imagem e semelhança, por isso vos prometo ordem e progresso, não esta merda de progresso na continuidade que há décadas vos troca as voltas e fode as aspirações, mas uma coisa a sério, com mandados de captura assinados pessoalmente por mim e passados em branco às carradas, afim de evitar a burocracia ou que fique vivo alguém que deva morrer, o futuro da pátria não é para brincadeiras, nem pode estar como está nas mãos de qualquer artolas que só pensa enriquecer depressa, nem mais leis escritas que só servem para emperrar a justiça e dar pasto à cáfila que à sua custa vive, não, não pode ser, terá que ser de improviso e logo ali, no momento, e bastará um candeeiro, um poste, uma qualquer árvore, uma corda nem velha nem nova, um bom nó corrediço basta, que a pátria urge, e não poderemos estar com contemplações.

        Tivesse sido assim há trinta anos e hoje ninguém se queixaria do tempo perdido.


terça-feira, 16 de agosto de 2011

82 - " EGO ACCUSO " * ...........................



É tarde e não durmo. Volto-me e revolto-me na cama e não durmo. Acordo de novo. Impossível. Tantas são as preocupações que não prego olho. O dinheiro não chega para tudo. Estica-se mas não chega. A manta é curta. Tapo os ombros destapo os pés e vice – versa. É uma situação horripilante. E nesta casa continua a gastar-se sem nada me perguntarem, como se não fosse eu a ter que pagar tudo e a trazer o muito que para nada chega.

Acumulo dívidas.

O sorriso em esgar mas acumulo dívidas atrás de dívidas sem que ninguém cuide de ver se eu um AVC, se o coração um enfarte, sempre o mesmo esbanjar, o desbarato, o descrédito.

Nas veias o sangue ferve (-me?)
Um último esforço.
Pedem-me um último esforço.
Hão-de acabar comigo. Acabaram.

Os credores em casa e os meus sorriem como se nada fosse. Eram previsíveis mais dia, menos dia os credores nesta casa. E sorriem todos, um sorriso amarelo mas sorriem, fazem crer aos vizinhos que nada e continuam sorrindo, que não. Qualquer dia falamos todos alemão aqui em casa...

Mero engano decerto. Uma simples confusão.
Amanhã tudo nos carris.
E amanhã tudo de novo na mesma, como a lesma.
A manta é curta.

A alemã entra por aqui e eu pago.
Gritei parem no momento certo, e nada.
E não pararão nunca. Como nunca pararam para pensar se lhes chegava ou como lhes chegava.
Ou quem pagaria.
A manta é curta.

E queimaram alegremente em futilidades a minha pensão. 
A de hoje e desconfio que até as de um dia que já não…
Mas ainda estou…
 E rio-me. 

Só posso rir-me desta corrida alegre para o precipício.
O meu dinheiro ! Mas por que não hei-de ser eu a dizer como gastar ou não o meu dinheiro ?!!

E são estádios e hospitais, e a  manta curta, e os pés ou os ombros e escolhem os estádios, e o futuro ou comboios e querem comboios, e o amanhã ou aeroportos e votam nos aeroportos e a saúde ou hospitais e médicos e despesa e desperdício e apostam no desperdício… Há hospitais para todos e para tudo menos para os doentes. E a manta curta.

Ela são hospitais para a Marinha, para o Exército, para os das avionetas, para a Cruz Vermelha, para o Garcia da Horta, para o Champalimaud, para o SAMS, para os bancários, para os dos seguros, os da guarda, os da policia,  para os da EDP e da PT, para todos menos para mim e para este coração que embolia...  para todos os fdp menos para nós. E o médico que não me dá vaga na fila de espera é o mesmo que na Marinha de manhã… á tarde na Misericórdia… a desoras no privado… á noite na urgência… e só para mim, embolado, o dia tem vinte e quatro horas e ninguém que me acuda, e ninguém na urgência, e nenhuma urgência em me pegar ou me pagar, em me ocupar…

A mim só me vêem para pagar.

Só me vêem para pagar e eu pago, eu pago, eu paguei e irei pagar a vida inteira. E eles nada, nem um obrigado, nem um incómodo, nem uma consulta, nem uma rotunda, um pavilhão, uma piscina. E queixo-me. E ouço que agora é que é. E queixo-me e de novo a cantilena de há mais de trinta anos, vá lá só  mais um, vá lá um último esforço.

E eu acabado, e eu amargurado, e eu embolado, e eu para aqui mijado e eles sorrindo, sempre sorrindo, e gordos, cada vez mais gordos, e saem uns para entrar outros e sorriem. E eu caído e eles atropelam-se e sorriem, e gordos, entrando e saindo cada vez mais gordos. Eu caído e desfalecido e eles só mais um esforço… e desta é que é, apostámos vivamente na contracção e no endividamento por isso desta é que é. Apostámos como nunca se viu nos últimos cinquenta anos na austeridade e na redução, nunca cortámos assim por isso desta é que é…

… e desta é que é, um ultimo esforço vá lá paizinho, temos que ter a força de vontade que sempre tivemos, a ambição que sempre tivemos, e sempre mais gordos, mais vorazes, menos capazes, e desta é que é, e já nem os ouço, e já nem a dor, e já nem me mexo, e nada, agora é que é e nada, nunca foi, nunca será, e só quero dizer uma coisa… eu só queria pedir-vos que parassem para pensar um pouco antes de o gastarem e onde, e como, e me perguntassem a mim se sim, se não, e agora já nem vale a pena.

Agora já nem os ouço nem os posso ver. E vejo-os sorrir, saltar, mudar, engordar, mas a ninguém já ouço, nem aos gordos, nem sequer aos magros… E eu nada, eu só queria e agora já nem isso, agora já nem vale a pena. Agora já não ouço, agora já não vejo, agora… 

Ó Portugal meu Portugal, se fosses só três sílabas de plástico, que era mais barato...


* http://www.poetryinternationalweb.net/pi/site/poem/item/4720/auto/0/PORTUGAL

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

81 - O JANTAR QUE NÃO O FOI................................




Poucos comensais se debruçavam ainda sobre o repasto àquela hora tardia. Questão pendente ali nos arrastara, mais que a gastronomia anunciada, e, para ser franco, mais os motivos do que a hora, me tiraram toda e qualquer vontade para o peixe que pedira. A coisa andava-me atravessada na garganta há uns dois meses, encravada sim, mas não era espinha que um qualquer bocado de pão mal mastigado levasse garganta abaixo. Já me irritava tanto quanto me tirava o sono. Se bem que sempre durma bem e de consciência tranquila, tal facto mais se devia ao hábito de não deixar arrastar problemas que ao de ignorá-los.

Bem tentaste sorrir, cativar-me, mas, decididamente eu não estava para aí virado, e compreendida a minha postura passaste ao mordomo o sorriso com que o levaste a ler-te todo o menu até te decidires pelo que sempre escolhes, as migas alentejanas que, desta vez te foram motivo e tempo ganho para pensares qual a estratégia a utilizar comigo. Até nisso fomos diferentes, um a procurar arrumar o assunto de vez, o outro protelando os problemas, na aparente ideia de que o tempo se encarregaria de os resolver.

Não resolvera, não iria resolver, não iria esbater sequer as diferenças de fundo surgidas, nenhum de nós se atrevendo a confessar como, nem quais, mas diferenças. E ali, e naquele momento, mais uma diferença quanto ao tempo e ao modo de as diferenças perceber ou explicar. Puxas-te, como sempre fazes quando me queres levar à certa, do teu sorriso número um. A boca, linda confesso, abre-se-te até ás orelhas, os dentes encandeiam de tão brancos, e os olhos tomam o mesmo brilho invulgar e a que eu nunca ficara alheio.

Nem fiquei e, como já esperavas, rendi-me e encostei à tua a minha testa. Cheiravas bem, como aliás sempre cheiraste e cheiras, um odor muito próprio, muito agradável, e no qual se dilui um perfume que tão bem conheço, há tanto tempo conheço, e adoro. Rendido esqueci até o prazenteiro cheiro do peixe grelhado ainda fumegando à minha frente, rendi-me mas não verguei. Bem me tentaste com piadas, nem o vinho que há mais de um ano adoptei e a Petra me recomendara, escapou ás tuas tentativas de colocares a minha mente tão longe dos meus propósitos quanto nós de Castelo Branco ou Portalegre. Passaste os cabelos pela minha mão num menear propositado da cabeça que te é muito próprio, mas desta vez não convenceste.

Sempre adorei em ti a firmeza de carácter e de propósitos, o livre arbítrio de que nunca abriste mão, a independência ferozmente defendida e a arrogante sinceridade de que sempre deras mostras. Não agora, não desta vez, não no momento em que não aceito as tuas razões nem as tuas desculpas, quanto mais esse modo arguto pressentido em ti, mais que evasivo, por vezes até uma defensiva deturpadora ou errada da habitual vivência entre nós. Concordo que por vezes me excedo em conselhos que nem pedes nem precisas, o carinho e o amor que te dedico tornou-me paternalista decerto, mas não vejo que mal possa daí vir ao mundo. Mas vem, não ao mundo mas a mim, o mal da tua ultimamente tornada habitual indisponibilidade. Bem sei não ser o homem mais lindo do mundo, nem provavelmente o furacão que desejarias na cama, sou lento, demorado, meigo, terno, talvez porque seja esse o meu modo de me dar-te, e nem sequer partilhe a ideia de que é a força e a violência impetuosa do querer que tornam melhores os momentos que queremos doces e longamente fruídos.

A tua expressão varia com a conversa, de sorridente a surpreendida, de meiga a carrancuda, a uma velocidade em que mais parece antecipares o meu discurso que seres surpreendida por ele. Não me admira, talvez tu te admires por estarem sendo abordados assuntos dos quais fugias como gato da água. Nisso sim eu acredito. Amar-te-ei sempre, sabe-lo bem, mau grado os momentos menos felizes da nossa vivência comum, não a trocaria por nada deste mundo, e se é a liberdade que procuras, ou a libertação, por que, como sempre fizeste, mão me confias os teus desejos ?

Sei quanto me falta para ser esperto, quantas vezes te repeti que se fosse esperto seria rico? Talvez riquíssimo? Conheço as minhas falhas e as minhas limitações, mas perdoa-me, convencido não sou, muito menos narcisista, sou Humberto não sou Narciso. Demos tempo ao tempo. Sei que de algum modo limito e condiciono ou condicionei a tua vida, mas que fazer quando os Deuses riem e dispõem delas a seu bel-prazer ? Culpado? Aceito, mas não era um culpado que eu procurava, mas sim uma solução, sim a compreensão do que entre nós corre menos bem, e te faz sentir presa, intimidada, limitada ou condicionada por esta relação.

Não, não vou agora brindar a nós nem ao nosso futuro, tanto mais que o peixe perdeu a graça, está mais frio que as tuas migas.

Aguardemos.

Voltaremos a este assunto.

Olha paga tu que não trouxe a carteira, o assunto deu-me cabo da cabeça.

Beijo.

        Imagem roubada à exposição de Sandra Bravo e José Fonseca no INATEL  - Évora

domingo, 14 de agosto de 2011

80 - PÁGINAS SOLTAS - SIC NOTICIAS TV .......


PÁGINAS SOLTAS - ENTREVISTA DE BARBARA GUIMARÃES, EM 2005,  APÓS O LANÇAMENTO DO MEU LIVRO - " A GUERRA NO IRAQUE - A EXPERIÊNCIA INESQUECÍVEL DE UM VOLUNTÁRIO DE PAZ NA TOMADA DE BAGDAD " - SOBRE A MINHA PARTICIPAÇÃO CÍVICA, VOLUNTÁRIA E DE PAZ, NAQUELE CONFLITO HORROROSO E SANGRENTO PERPRETADO CRIMINOSAMENTE EM MARÇO DE 2003 .

sábado, 13 de agosto de 2011

00079 - A ARTE DA CRÓNICA... by J. P. Coutinho ...




        Recebo convite para escrever texto sobre “ a crónica “. A coisa destina-se a estudantes de jornalismo: Óptimo. Mas, por favor, não é preciso gastar tempo nem palavras. A saber, a arte da crónica resume-se em dez leis fundamentais.

 

Primeiro: a crónica não é um género jornalístico; a crónica é um género literário.

 

Segundo: a crónica pode partir da realidade, mas não raras vezes a crónica cria a sua própria realidade.

 

Terceiro: a crónica não é análise nem comentário; a crónica é confissão e hipérbole.

 

Quarto: a crónica não pretende formar ou influenciar; a crónica deve entreter e se possível opinar.

 

Quinto: a crónica não vive da especialização; a crónica vive da diversidade.

 

Sexto: a crónica vale pelo estilo e pela substância; em caso de conflito sacrifique-se a substancia.

 

Sétimo: a crónica não pondera opiniões contrárias à sua; a crónica pondera apenas uma opinião que seja contrária ás outras.

 

Oitavo: a crónica não está certa ou errada; a crónica, como diria Wilde, está apenas bem escrita ou mal escrita.

 

Nono: a crónica é pessoal; a crónica é um prolongamento do ego.

 

Décimo: a crónica deve ser tão fácil de ler como de esquecer.