segunda-feira, 26 de novembro de 2012

133 - O MEU 25 DE NOVEMBRO ...............................


  
Escassos meses após a eclosão do 25 de Abril tinha já fortemente inoculado, como devem calcular, o vírus da liberdade que a todos (?) contagiou, e mesmo que assim não tivesse sido decerto não teria resistido muito mais tempo ao contágio.

O golpe das Caldas, poucos dias antes, dera-me para bons presságios, o livro “Portugal e o Futuro”, do general Spínola, ainda que lido à pressa, só confirmara as minhas impressões e agoiros, as conversas de sindicato, a tertúlia da época apesar da situação condicionada em que se vivia, tinham feito germinar em mim alguma sensibilidade política, e as leituras do Jornal do Comércio e do Jornal do Funchal, menos corroídos pelo lápis da censura, permitiam-me elaborar sobre a situação que se vivia um mosaico mais próximo da realidade. Como muitos jovens de então habituara-me a ler nas entrelinhas dos jornais, lia muito, nada escapava, revistas e livros permitidos, pois os proibidos, esses, eram ávidamente procurados, trocados, emprestados, lidos, digeridos, comentados e secretamente publicitados.

Melhor teriam feito Salazar e Caetano se tivessem pura e simplesmente esquecido o “índex”, a proibição de determinados autores e obras só as tornava mais apetecidas, veja-se o contraste com os dias e em especial com os jovens de hoje, que com toda a liberdade disponível, a que poderão somar todo o tempo do mundo, pura e simplesmente não pegam em leitura nenhuma, de modo que não obstante as condições de liberdade de que desfrutam, são no aspecto político, de longe muito mais ignorantes que os da minha geração. (As estatísticas o confirmam, eu somente me limito a lembra-lo).

Apesar da minha oposição à guerra colonial que se travava nas três frentes de África, que poderia, a exemplo de muitos amigos meus, ter-me tornado parte da comunidade portuguesa em França, ou na Holanda, eram os “Fuzileiros” a força que consciente ou inconscientemente alimentava os meus sonhos de jovem, daí que com expressa autorização paterna tivesse ingressado na Marinha, onde assentei como voluntário mal tinha acabado de fazer os meus dezoito anos.

Marinha significava Lisboa, aventura, viagens, mundo, e por aqueles dias a capital era um verdadeiro caldeirão borbulhante, um autêntico vulcão de movimentações políticas, pelo que os meses que se seguiram ao 25 de Abril foram de intensa actividade, manifestações, comícios, golpes e contra golpes, tendo eu passado por tudo isto enquanto militar, e participado mesmo em algumas acções como o 28 de Setembro, o 11 de Março, e por centenas de " manif’s " a que perdi o conto, dezenas de reuniões de soldados e marinheiros, e digerido em passo de corrida toda a cartilha da esquerda à extrema-esquerda.

Uma vez consegui mesmo mobilizar quatro ou cinco autocarros pejados de fuzileiros, que se deslocaram a Évora, para apoiar não sei que manifestação de operários e camponeses alentejanos, certamente vez única em que a esta cidade foram dados a ver de uma vez só tantos “filhos da escola”, ou da “Briosa”. Diga-se em abono da verdade que no café Arcada não coubemos todos à uma, pelo que tivemos que aguardar vez, em fila, como já era hábito fazermos nos refeitórios das unidades e das bases de onde viéramos. Nunca tantas gaivotas tinham sido vistas em terra, ainda por cima tão longe do mar.

A injustiça para com o Chile e Salvador Allende estava viva no espírito de todos, pelo que havia que evitar em Portugal, idênticas manobras, o que significava que ao menor alarme aí estavam os soldados e marinheiros, filhos do povo, disponíveis, armados e gritando; “a reacção não passará”, “soldados unidos vencerão”, “o povo unido jamais será vencido”, e tantas outras palavras de ordem que fizeram escola e ficarão para sempre gravadas na memória de tantos de nós.

Nem sei como tantas dessas manifestações e tantos dos controlos de pessoas e viaturas não redundaram em mais mortes, foi puro milagre, já que o mínimo incidente era suficiente para gritar; reaccionário ! E atirar a matar, pois as armas, essas, na época andavam quase sempre connosco, à bandoleira. Mas o 25 de Novembro só o entendi passadas mais de duas décadas, o que não obstou que tivesse nesse dia, generosamente, disponibilizado a minha pessoa, e a minha vida, para lutar pela revolução que nos tragava.

Eu, e tantos outros como eu, creio sinceramente não termos percebido na altura qual o lado correcto a defender. Confiava-se nas chefias, pronto, chefias essas que manobravam nos bastidores os cordelinhos da política, que a dominavam, ocupavam, que ditavam o percurso do poder, sempre ou mais que nunca ondulando como as bandeirinhas, que mudavam com a mesma facilidade com que o vento muda de sentido, e que dispunham de nós, a seu bel-prazer, quais peões num tabuleiro de xadrez. Só mais tarde percebi o verdadeiro significado da expressão “carne para canhão”, e muito mais tarde ainda entendi porque não recrutam homens já feitos e maduros, antes jovens, tão generosos quão ignorantes da verdadeira razão por que procurarão a honra, serão patriotas ou darão as próprias vidas por causas quantas vezes a léguas dos seus princípios.

Pelo que, animado de tão justos propósitos, eu e mais cerca de cem camaradas de armas oriundos de diversos aquartelamentos e companhias, passámos o dia fatal na “Casa do Marinheiro”, ali para a Rua do Arsenal, armados até aos dentes, tudo acompanhando pela rádio e Tv, e pelas comunicações vindas do nosso comando, nervosos, fumantes, expectantes, na perspectiva de entrarmos em acção, em combate, e só noite dentro, por ordens sensatas do comandante e Almirante Rosa Coutinho, mais conhecido por “Almirante Vermelho”, desmobilizámos e regressámos aos quartéis.

Pergunto-me muitas vezes a mim mesmo que teria sido de mim e dos meus companheiros, se a sensatez desse Almirante não tivesse prevalecido ? Há mesmo quem afirme ter sido medo do confronto, já que na realidade era o poder que estava em causa, o governo da nação, a viragem de rumo, a continuidade ou a morte da revolução e o encarreirar nos trilhos da democracia.

Quantos de nós teríamos tombado ?  Quantos camaradas teriam morrido ?
Porquê ? Que democracia interrogo-me agora.
Por que causa ignorada ?

Sim, porque no reboliço dessa época, saber se a nossa causa era a justa, era tão fácil como hoje desvendar a chave do totoloto, estava-se com um lado ou com outro, como calhava estar-se no passeio esquerdo ou direito de uma qualquer rua.

Por sorte ou por mero acaso uns venceram, mas, tendo vivido a febre por dentro, ainda hoje acredito que só por casualidade tal aconteceu, só por isso.


Ou por medo...  

P.S. – Texto já anteriormente publicado no jornal Diário do Sul,  em Novembro de 2000 - Évora



sábado, 17 de novembro de 2012

132 - TITANIC ...............................



A insónia ferrava-me e, para a contrariar, levantei-me de um ímpeto, corri à sala, aticei os borrões da lareira, enrolei-me na manta da gata e estendi-me no sofá, controlo na mão, zapando até que a National Geographic me fixou as órbitas e a atenção na saga do Titanic, recém descoberto após décadas de segredo no fundo do mar…

O narrador acompanhava as imagens com indolência, essa coisa que me devia ter deixado na cama, mas, em vez do quentinho, ante mim o fundo do mar gelado e os destroços do maior navio do mundo, a festa a bordo, o capitão Edward John Smith, que numa heresia desafiadora jurou estar ao leme de uma nave inafundável e acabou indo ao fundo com ela…

O resto sabemos há muito. O iceberg, o embate, o rasgão, o inundar do formidável paquete, o drama que foi o naufrágio, o mais de milhar e meio de mortos naquelas águas geladas…

Na transmissão tecnologicamente avançada que acompanha a descida às profundezas vejo, sob a luz dos holofotes, os restos da imponente e luxuosa heresia que nem uma semana durara.

Quanto mais o submersível descia e me espantava com imagens nunca vistas, mais a memória me submergia em recordações de infância, no temor a Deus, nas palavras evangélicas de D. Feverónia, na justiça humana do padre Manso, e nas imagens do meu catecismo, testemunho de um Deus vingativo, colérico, cujo código repressivo me tirava o sono e atormentava pelo receio do pecado e do castigo.

O lado bom desse deus viria pela mão do meu mano, meia dúzia de anos a mais que eu, precocemente atirado para o Seminário de Vila Viçosa e cujos desenhos, fruto da sua imaginação, fé ou doutrinação, mas sobretudo da sua paixão e gosto p'lo traço, p'las cores, e me mostrava, num caderninho exemplar, de ilustrações em muito, ou em tudo, superiores às imagens violentas do meu catecismo e que, em simultâneo com a sua voz segura, pausada e amena como só Deus por certo terá, me aplacava os medos a que os meus sete ou oito anos não logravam furtar-me.

Nos seus desenhos Deus era um triângulo colorido rodeado de raios de sol e um olho no meio, que tudo via, a tudo acudia, omnipresente e sempre determinado a proteger-nos, proteger-me do avanço melífluo de Satanás.

Um Deus tri, uno, Pai, Filho e Espírito Santo, ante mim pela primeira vez uma representação do património imaterial da humanidade, do imanente, do que nos transcende mas completa, a tradição, a cultura, o pensamento, o ego, a alma, como pode alguém há tantos séculos ter-nos pensado dessa forma tridimensional ? É uma e meia da manhã de dezoito de Novembro do ano da graça de 2012, sorrio para mim mesmo, curioso que nunca tivesse meditado nem vagamente nisto, terão os deuses sido astronautas ? (sorri Luís agora é a tua vez).

Numa outra página do caderno, igual às anteriores, toda ela cores, uma serpente, a célebre maçã, a tentadora árvore, Adão e Eva, nuvens lindas esbranquiçadas, suaves, tornando leve o céu e encantador, o futuro puro e risonho, ou não vivêssemos na devoção e entrega a Deus.

Ainda hoje não é clara para mim a razão pela qual o mano abandonou o seminário. E, literalmente não posso afirmar se a experiência o marcou (1) ou como o teria marcado. Do universo supostamente concentracionário dos seminários tenho uma visão muito redutora que nem Vergílio Ferreira nem Aquilino Ribeiro me alargaram. (2)

Sei-o um homem bom, com qualidades, ainda que o conheça melhor pelo que cala, pelo que não diz.

É pessoa de poucas falas, mas convincente, adora acompanhar com as mãos os diálogos se emocionado, gesticulando, manipulando-as, olhando-as enquanto fala. É generoso, autêntico, e raramente não convencerá da bondade dos seus argumentos o mais cauteloso.

Um único defeito lhe reconheço, a tolerância, cresce-lhe na razão inversa da necessidade do seu uso.

Contrastando vincadamente com o caderninho bem o recordo, no catecismo um céu ameaçador, o dedo de Deus afundando os hereges do negro Titanic, enquanto no caderno do mano a Arca de Noé brilhando ao sol, plena de animais, de cor, de vida, numa cena anímica que nem Miguel Ângelo teria desenhado nem colorido tão bem. O mar aplacado, azulão, como só uma boa ventura o pintaria, o astro cálido, cintilante, nuvenzinhas como bibelôs, e, num canto superior do desenho a esperança, a bondade, a paz. Uma pomba branca crescendo para nós, ramo de oliveira no bico, Deus é grande, Deus é amor, Deus é cor…

Naquela tarde, 6 de Agosto, dia da Transfiguração de nosso Senhor Jesus Cristo, trovejava, as grossas bátegas de água, os trovões, mas sobretudo os fulgores dos relâmpagos, quase tão ferozes como os que no catecismo tudo fulminavam, fizeram debandar a rapaziada brincando no largo da vila.

Para ser sincero antes do ribombo do terceiro trovão já o Rui distribuía lambadas e ordenava a retirada, anafado, voz grossa, vinda de um arcabouço com o dobro do tamanho das pernas, numa atitude autoritária digna do pai, cabo da GNR e chefe de posto, coisa que naqueles tempos era normal… a autoridade transmitia-se… não podia cair no chão e muito menos em “más” mãos…

O Assudinha foi o primeiro a fugir, depois o Peixe, o Félix, o Fonte Boa, o Tanita, o Ângelo, sumiram-se num repente, um nos urinóis públicos, outro na cantina escolar, outro ainda escondido nas portadas do altar que flanqueava a igreja, os restantes distribuíram-se por cada uma das quatro tabernas que o largo acoitava e eu, o mais assustado de todos, refugiei-me na igreja e, de mãos postas, pé ante pé, aproximava-me do altar quando discerni pelo inusual do confessionário aberto, D. Feverónia, ajoelhada perante o padre Manso, soluçando intensamente, enquanto ele, bonacheirão mas aflito, olhos esbugalhados, a cara num esgar, numa careta, mãos fincadas na cabeça da pecadora, certamente lutando para dela expulsar os demónios, ao ver-me, irado e de dedo em riste me apontou a porta e me expulsou do templo numa cena digna do catecismo que D. Feverónia na sua aflição abandonara caído no chão.

Fugi a sete pés da ira do padre e, em minha casa continuei o susto, uma casa grande, de tectos altos e janelas ainda mais altas a que nem um homem alto chegaria, o que me fazia sentir mais pequeno ainda do que na realidade era.

Durante uma boa meia dúzia de anos não entendi a reacção desmedida do pacífico padre Manso, muito menos a aflição da minha catequista, toda ela por natureza calma, toda ela bondade, toda ela castidade, toda ela sorrisos.

Não entendi até que minha prima Miquelina(3) me tivesse encontrado e surpreendido numa egoísta atitude onanista, deliciado comigo mesmo, escondido atrás das sacas de alfarroba no armazém dos Assudas, se ajoelhou para mim que de surpreendido passei a estupefacto, depois a cúmplice, até que os olhos se me desvairaram, a cara num esgar, num segundo retesei o corpo enquanto lhe segurava os cabelos com a mesma ânsia que nos seguramos aflitos à crina de um cavalo, um estremeção, um gemido… o corpo retornando ao primitivismo fetal, até que finalmente a paz…  

a Miquelina limpando-se, nunca reparara como tinha a boca linda, carnuda, entreolhámo-nos comprometidos e pecadores, por fim entendi o que durante anos não entendera, e prenda de anos não teria sido porque só na semana seguinte faria os quinze.

D. Feverónia entregara-se à catequese, dedicara-se a Deus e a tomar conta de um oratório da Sagrada Família que semanalmente passava de casa em casa, a fim de abençoá-la, forçando-se deste modo a asfixiar um desgosto sofrido há uma dúzia de anos e na flor da sua idade. Ficara sem o marido, abatido a tiro numa noite de lua nova, no mesmo dia em que pela manhã o padre Manso lhe tolhera os passos no largo e lhe assentara duas galhetas que o haviam deitado por terra. Valeu ao padre o álibi irrefutável de, à hora do tiroteio, se encontrar a oito quilómetros, numa paróquia contígua, oficiando uma Novena.

O padre Manso nada tinha de manso, como constatarão na sua apreciação. Uma única vez lhe gabei o autoritarismo divino que a todos amedrontava. Indo eu para a escola, manhã cedo, e amontoando-se os homens no inclinado e estreito passeio que ladeava a igreja, aguardando o ajuste pelos feitores das herdades circunvizinhas, que lhes ditariam a jorna e o seu valor naquele dia, um dos feitores, conhecido pelo “Caga Notas”, envolveu-se num desacato que o cabo da GNR tomou como seu no mero intuito de lhe agradar, mas que acabou por indignar o padre Manso.

Não entendi o diferendo que opôs o padre ao pai do Rui, divisei de longe apenas um homem caído aos pés da “autoridade”, o padre estugando o passo, vermelho de cólera e gritando ao cabo da guarda que, ao retorquir, nem tempo teve para levantar o braço e proteger-se, encaixando duas das célebres galhetas do padre, que mais pela vergonha que pela dor o levaram a puxar do revolver, mas não antes que o padre lhe tivesse oferecido as mãos em jeito de receberem algemas, e lhe ter gritado e agora prenda-me se tiver tomates e for homem para isso !

O cabo, mais roxo que a túnica do Senhor dos Passos enfiou-se na taberna, e, (ouvi ao meu pai em casa ao jantar), dizia-se que caído de bêbedo, tudo e todos tendo ameaçado de morte, pistola na mão, e em especial aquele padre de merda, protegido do Bispo de Évora, (o reverendíssimo D. Manuel Trindade Salgueiro), mas que não perderia em esperar pela demora, pois protegido ou não havia de pagar-lhas !

Não sei se divindade alguma interveio no conflito instalado, o cabo saiu altas horas da taberna, já a noite ia subida, ouviram-se meia dúzia de tiros, e na manhã seguinte encontraram-no de borco, pistola na mão, um fio de sangue têmpora abaixo.

Segredou-se na vila que Deus escreve direito por linhas tortas, e constou nem um homem ter saído das tabernas para carregar o féretro até ao cemitério, tendo o Saul carpinteiro carregado o esquife na carroça e atirado a uma vala que, durante uma semana ninguém tapou…

               A vida triangulou assim a minha infância, um Deus tenebroso, um pai tirano, em negação mas agnóstico assumido, um irmão bom mas ausente. A puta da vida atirara com o meu mano para o seminário mas, como que escrito nas estrelas, deu-me, a mim, o benjamim de uma família de seis, um sólido ponto de referência pelo qual me guiar e que aos doze anos demandaria sem proveito.

Aprendi, aprendi que na cartografia existem pontos cardeais por onde nos guiarmos, ainda que somente latitude e longitude balizem com exactidão um rumo, um lugar.

Um novelo a existência...

Desenleemo-la …

Um flash repentinamente iluminando a sala penumbrosa, as legendas correndo na tela, o documentário em finish, o som que acelera repentinamente.

Sobressaltado emerjo do oceano de memórias em que naufragara, vaga erguida e acordando-me, qual fria água que o rosto cansado me refrescasse.

  

(1) Eu disse marcou, não disse traumatizou.

(2) Vergílio Ferreira – “ Manhã Submersa “

(2) Aquilino Ribeiro – “ Uma Luz ao Longe “

(3) - Prima Miquelina, vide texto 45 e 66 neste blogue :






terça-feira, 6 de novembro de 2012

131 - MULIER DIVINUM EST ...


Aquele 5 de Outubro foi inesquecível. Vivo cada um com a dor de peito de um democrata republicano, convictamente crente ter sido a república e os seus políticos, e as suas politicas, quem lixou isto tudo. Mas em especial aquele 5 de Outubro, há tantos anos, ficou-me gravado a fogo na memória. Curiosamente calhou igualmente a uma sexta feira, como este último, último mesmo, acham ?

Foi aleatoriamente que o tempo se manteve tal qual, e as festas numa vila próxima, hoje galhardamente cidade, embora tenha perdido todo o encanto que então tinha, estando agora a milhas da animação que antigamente nos apresentava, mas, ia eu dizendo, eram festas que pediam meças muitas léguas em redor. Reunindo-se por hábito a partir das vinte e uma horas no café Portugal, a malta enfiava as bicas e os bagaços enquanto delineava o rumo e afinava a estratégia para a noitada. Milhões de vezes partíramos dali, noite adentro numas dezenas de motas, para regressarmos com a luz da alvorada e bastas vezes com o sol  já bem levantado.

No inverno o regresso enregelava-me. Enregelava-nos. Comummente alugava a mota a outro para com o pecúlio pagar ao Maurício ou ao Genésio um lugar no carro deles. Outras tantas a emprestei, ou a mim emprestaram se a minha no estaleiro, o que raramente sucedia. Em terra é que ninguém arriscava ficar. A malta da cidade era bem quista pelas garinas nas vilas e aldeias em redor, ainda que mal olhada pelos boieiros de cada terra… natural.

Eu adorava ir com o Maurício do Grémio ou com o Genésio vidrinhos, (as lentes dos óculos mais pareciam o fundo de uma garrafa), não só pelo recato da frieza, mas sobretudo porque cada viagem com eles era uma aula de maturidade e aprendizagem que nem um semestre nas Novas Oportunidades lograriam superar. Mais velhos meia dúzia de anos, ou nem tanto, o que naquela idade fazia imensa diferença, transbordavam sabedoria que a malta ouvia e assimilava boquiaberta. Daí a briga e o voluntarismo de todos para emparceirarmos com eles, qualquer deles, pois sabiam ambos a mesma música…

A diferençá-los apenas o facto de o Maurício ouvir mal e ver bem, enquanto o Genésio ouvia bem mas via mal… e o primeiro sonhar casar com uma velha rica enquanto para o segundo o mais importante era ser fiel á namorada que tinha, a quem era mais leal que um cão de raça. Não será difícil imaginar não ser para aprender a conduzir que disputávamos um lugar no carocha do Maurício, um velho carocha de cor vermelha queimada do sol, ou no Fiat 600 do Genésio. Sabidos e batidos, era a sua experiencia de vida que augurávamos ter e dominar.

O Maurício, alto e magro mais moreno que um marroquino, era conhecido por ser amiúde abandonado no meio dos bailaricos, quando não abandonado depois de um estaladão que ecoava por todo o recinto dos festejos… Não quebrava, antes rematava que sim, que já tinha levado muita estalada, mas que também já saboreara muitas gajas. Gaja no sentido lato de mulher, ainda que o Maurício não estivesse para lhes aturar mais que a beleza, o perfume e o corpinho bem feito. Mirava-as todas muito bem antes de as convidar a dançar, só escolhia trintonas, viúvas, solteironas, e somente se bem boas, as quais após dois passos de dança eram convidadas a não perderem tempo em esfreganços, sendo mais acertado irem até ao carro dele ver os aviões…

Algumas iam, porventura aceitariam com um sorriso e logo ali concertavam modo de não perderem tempo com a demora… outras…. Outras com estalo ou sem estalo, deixavam-no plantado no meio da sala e da risota de todos. O Maurício era gozado, mas compensava respondia ele com um sorriso de orelha a orelha. Ossos do ofício, rematava. Aprendam comigo que não viverei sempre.

Esta era a sua preciosa regra dos 10%. Ficássemos cientes que vidinha fora muito teríamos que bulir para que 10%, somente 10% das nossas investidas fossem coroadas de sucesso. Quem não arrisca não petisca, atirava entre dentes para não deixar cair a beata, ou a prisca, como preferia chamar-lhe. Regras eram com eles. Parecia terem andado na mesma classe. Não sei se andaram, mas fizeram escola… Outra das suas regras que jamais esqueci foi a da “paciência virtuosa”.

A paciência virtuosa devia ser aplicada em simultâneo com a regra dos 10%. Paciência virtuosa era subir degrau a degrau a escada do amor e da conquista. Nunca dando um passo sem que o anterior estivesse consolidado. Se uma mulher recusa tomar uma bica contigo não insistas. É porque não lhe interessas a ponta de um corno, filosofavam. Se ela quiser sair contigo aceitará. Nem que marque o dia e a hora para daí a seis meses. Haja paciência. Depois da bica poderás então fazer nova proposta. Degrau a degrau, passo a passo, e sempre com o obtido anteriormente bem garantido.

Claro que hoje o maralhal começa pelo fim. Não se estudam filosofias. Nem se ouvem os filósofos. Quanto mais têm mais vazia a vida lhes parece… No meu tempo andávamos entretidos meses, anos. Havia até quem nunca esquecesse as regras e lançasse as redes em casamentos, baptizados, funerais festas de anos e tudo o mais que suscitasse oportunidade. 

Mau grado todo o retrato que deles pintei há que conceder que qualquer um divinizava as mulheres. Se havia coisa que consideravam era a mãe as irmãs e as demais mulheres. O resto, e agora por mim falo, eram efeitos das feromonas no ar e da testosterona cujas análises, se feitas, acusariam altos e preocupantes níveis … daí que a frase mais repetida pelo Mauricio, que tinha sido menino de coro, primeiro, e sacristão em S. Francisco depois, era a que dá o título a este texto, mulier divinum est, que ele, fechando os olhos e imitando a voz adocicada do padre repetia até á exaustão, rematando-a com uma gargalhada alarve...

Uma noite, vindos na estrada de Redondo, que tinha umas curvas onde hoje são rectas, o escape do Fiat 600 roncando (um copo em aço tinha-lhe sido soldado como ponteira, copo a que tinham retirado o fundo) alguém, na bazófia, gritou, já no fim da recta que antecede a entrada em S. M. Machede: - Genésio ! Genésio !  curva à direita porra ! Acabámos a madrugada tentando retirar o bólide do atascanço num faval… não havia curva nenhuma, o Genésio é que nem nos seus olhos confiava.

Não sabia dele há trinta ou mais anos. Era vendedor de automóveis mas nunca soube como é que alguém arriscava comprar-lhe um carro. Lembram-se da polémica Nixon - Kennedy em 1960 ?

Encontrei o Genésio há uns dias no face.

Fomos amigos. Nunca deixámos de o ser.

Pelo que vi estará casado com o único amor que lhe conheci, continua igualmente ligado aos automóveis, e a ter sucesso, depois do êxito com um Datsun 1200 partiu para Lisboa, para o Entreposto, foi aí que o perdi de vista...

Já lhe pedi amizade, reconhecer-me-à ? Aceitará ?


A ver vamos, como ele diria…






segunda-feira, 5 de novembro de 2012

130 - MARINHANDO EM TERRA SECA …..............


Depois do esfuziante cumprimento sentou-se só e calmamente naquela mesa que ali vedes. Sorumbático frente ao café que arrefecia, hirto que nem uma estátua, mirei-o então de alto a baixo não sem alguma acrimónia.

Os mesmos olhos acutilantes e vivaços. A mesma cara abolachada, o nariz adunco denunciando provável sangue judeu, a mesma boca sempre sorridente, trocista, zombeteira.

Somente o cabelo, todo branco, nele apelava ao respeito pela idade, de resto nem um pé de galinha nos cantos dos olhos, nem uma comissura na boca, nem uma ruga, ninguém nos diria praticamente da mesma idade, nós, que brincáramos juntos.

Há muito que o não via, talvez desde os nossos “ dix-huit “.

Ele fugira do mau estudante que era e do pai, que o quisera obrigar a pastorear vacas e alma de uma pequena empresa familiar, leitaria e queijaria  …

 coisa que decerto nem lhe preencheria os sonhos nem estaria nos seus horizontes.

E o café arrefeceu à mesma velocidade e têmpera que a vida lhe correria no cérebro. Ali quedado, ali parado, ali sozinho.

Estive décadas sem novas dele, somente há um ano ou pouco mais reatáramos.

Fizera-se no fim da fuga marinheiro e, nesse mar calcorreara calçadas e subira degrau a degrau uma escada que não se abre a todos nem a qualquer um.

Soube-o uma vez em Bissau a bordo do NRP Cmt. João Belo. Mas depois de um mês inteirinho no mato, ao chegar apenas duas garrafas de visqui e um cartão de visita: Do 2º sargento artilheiro Carvalho Araújo, com um abraço. 

Bebi-as nessa noite com a preta que me lavava a roupa, e por ela soube que o Carvalho se guindara a cabo, assentara âncora como sargento, e se preparava, coisa inédita, a ingressar na Escola de Oficiais. Para um mau estudante não estava nada mal, e o 25 de Abril, soube-o mais tarde, abrira aos sargentos as portas da Academia Naval, até aí exclusivas de uma casta de classe superior, diziam-se.

Apesar das limitações da época, da falta de internet, somente inventada  muitas décadas depois, as pretas da base e de Bissau eram tão eficientes quanto hoje o é o Gmail, a informação circulava veloz em circuitos privilegiados e tudo se sabia, fosse na província fosse na metrópole.

Mais das vezes o Carvalho nem forçara nada, limitara-se a aceitar convites dos diversos comandos onde estava para frequentar a especialidade, a Escola de Sargentos, a Academia Naval. Cumprindo ordens superiores arrastara-se enganando o tempo que lhe sobrava e cujo desfastio havia que alimentar.

Como artilheiro, artilheiro-mor, oficial artilheiro e Capitão-tenente, correu este mundo e o outro. Em cada porto uma namorada, em cada banco uma conta. Contou-me ele, não invento. Bom vencimento, bons subsídios, majorados se embarcado, mais majorados ainda se em porto estranja. Cama mesa e roupa lavada. Ganhava mais que gastava, aliás nem tempo tinha, infelizmente, onde gastar a soldada.

Há uns anitos perdera-se de amores por uma lisboeta, e andar embarcado começara a doer-lhe. Uma mulher em cada porto é frase feita e bonita. Conhecia realmente muitas mulheres, mas na verdade dera-se conta de que conhecer mesmo não conhecia verdadeiramente nenhuma.

As universidades portuguesas reservam, por lei, percentagens para alunos dos PALOP, mas também para militares, que aliás desfrutam nelas de outras incomparáveis vantagens.

Uma vez mais o comando solicitava aos homens que avançassem preenchendo as vagas de lei. Carvalho, desejoso de se fixar em Lisboa, deu um passo em frente. Ganhou a inscrição e mais uma promessa de promoção.

Segredara-me que tanto privilégio começara a aborrecê-lo, mas, havia que aguentar, em nome da nação.

Assim foi que por desenfado, passados anos se licenciou em Geografia, coisa mais indicada para um marinheiro dos sete mares nem havia, atirou-me irónico.

O namoro com a dita e alfacinha senhora foi correndo ao ritmo da licenciatura, melhor esta que aquele e, no fim, da licenciatura, não do namoro, nova imposição do comando, nova inscrição, desta vez um mestrado em SIG, Sistema de Informação Geográfica, (Geographic Information System), e, antes que desse pela maré estava arvorado em Capitão-de-fragata.

Foi só então que se quedou pensando nos dias alvoroçados entre a monarquia e a 1ª República, no “foge cão que te fazem barão ! fugir para onde ? se me fazem visconde ? “.

Tantos galões assustaram a senhora D. Mónica que, não acreditando nas boas intenções de tão prendado marujo, antes crendo ser mais um entre tantos por todo o mundo, lhe calçou uns patins, que é como quem diz o colocou à vela e ao largo.

Assim o meu amigo Carvalho Araújo se viu oficial artilheiro de armas tão tecnológicamente avançadas que delas somente ouviu falar, sabendo-as sem paralelo com os exemplares museológicos que equipam as fragatas em que navegou.

Pensou, pensou, e se bem o pensou melhor o fez, antes que o promovessem a Capitão-de-mar-e-guerra e o prendessem ao ministério e a estratégias e tácticas navais, cousa a que o alto oficialato adora brincar, ele que sempre fora homem de espaços largos, quer nos oceanos quer atrás das vacas, deu de frosques.

Num ápice se inteirou da reforma e rumou a cinquenta nós e levado por ventos favoráveis, à terra que o viu nascer.

Decididamente não estava preparado para a reforma. Nem para o país ou a província, muito menos para a aldeia que Évora é.

Net’s, telemóveis e hotmail’s não lhe encurtam nem aproximaram os amigos. Depois de meia dúzia de chamadas ou mensagens, olá como vais então isso como tá a correr etc. e tal, a realidade impôs-se.

Está a milhas, terrestres ou marítimas dos amigos mais chegados, em contrapartida a solidão cai-lhe em cima sem contemplação e com o peso de um iceberg…

Foi ao banco, sacou umas massas de uma das contas adquiriu uma quinta em crise e investiu em bovinos, holandeses, raça leiteira de primeira, quase cem cabeças.

Agora, chova ou faça sol é vê-lo todos os dias desbobinando memórias e pastoreando as vacas…


Ninguém diga desta água não beberei…



sexta-feira, 19 de outubro de 2012

129 - l'indimenticabile Andreas Bertini ..........................



Foi a fotografia dele num sépia desbotado a chamar-me a atenção.

Há quantos séculos o não lembrava ? Vinte ? Trinta ? Quarenta anos ? Peguei nas folhas daquele inesperado requerimento, também elas amarelecidas pelo tempo, e detive-me exaustivamente analisando-as. Tinha-me levado ali uma tese que já me está dando mais trabalho do que vale, e nada na minha investigação apontava para o que agora me prendia a atenção, regurgitava em mim memórias esquecidas mas, sobretudo, me aplacava uma curiosidade velha de décadas.

Eu olhava o pavilhão por dentro, nem me lembrava de alguma vez o ter visto do exterior. Hoje bem sei qual a razão pela qual ao recorda-lo o associo ao “ Pavilhão dos Cancerosos “ de Aleksandr Solzhenitsyn. Nenhum de nós ali era canceroso, mas a amálgama ia desde o sarampo às bexigas, preenchendo todo o rol da lista que aquela unidade de doenças infecto-contagiosas albergava.

Visitas não eram permitidas, o que se compreende. Que eu, com sarampo, pudesse apanhar varíola, não seria o mesmo que alguém de fora levar contaminação involuntária. Com nove ou dez anos, eu, pouco mais recordo que o canto aberto de uma rede na janela, que não evitava o contágio mas permitia a passagem das oferendas aos doentes trazidas pelos visitantes. Eu era doido por pacotes de bolachas.

Li e reli os documentos na minha mão. Coisa simples que explicava muito mistério. Um requerimento solicitando reconhecimento e deferimento (acreditação) do Termo de Responsabilidade anexo e seus apêndices, a saber, um diploma em língua italiana atestando a posse de determinados conhecimentos ao signatário, signor Andreas Livorno Bertini, emitido pelo Ufficio Scolastico Provinciale di Milano, (Istituto per le Opere di Religione), città di Milano, corria o ano de 1963.

Sorri. De documentos na mão, sorri.

Mas não sorri sem que desse primeiro uma olhadela a toda a volta, como que para me assegurar que o signor ingegnere Livorno Bertini não me apanharia sorrindo, pois era apanágio dele surgir por detrás de quem fosse, sem ser apercebido até que estivesse a um passo.

Jovem, adolescente, pensei de início que o fazia por maldade ou matreirice. Não. Fazia-o por ser seu modo, como o era envergar permanentemente um sorriso que só os tolos ou os mouquinhos costumam arvorar. Não, ele não o era, embora ficasse a remoer o que lhe diziam, demorando por vezes tanto as respostas, que cheguei a pensar que não ouvira as perguntas, não traduzira facilmente a nossa língua, ou era tolo. Não era defeito, era feitio. O estratagema permitia-lhe ganhar mais tempo para responder, não responder mesmo, fingindo não ter decifrado ou ouvido sequer a questão colocada mas, particularmente, fazer com que à sua chegada, não calassem as conversas, ou que durante as mesmas lhe fossem atiradas piadas que simulava não entender, mas certamente entendia, lance que lhe permitia “enrolar” com facilidade e apesar da sua cara de tolinho o interlocutor menos prevenido.

Curei o sarampo no pavilhão, não descansei, não me recordo de o ter conseguido. Recordo sim as luzes ligadas toda a noite, e todo o dia, os gemidos dos acamados nas dezenas de camas, o cheiro a febre e a fénico. Nem das injecções me recordo. Mas não olvido as deusas de branco, sorridentes, meigas, carinhosas, simpáticas e, que me lembre, foi a primeira vez que gostei de alguém a sério.

Também por essa ocasião seria pela primeira vez na vida enganado.

É curioso como recordamos sempre as nossas primeiras vezes de qualquer coisa, mesmo que, passados anos, essa coisa, essa recordação, tenha tanto valor como o lembrar-me do que almocei sexta-feira da passada semana. O Monginho frequentava a minha escola numa outra classe. Éramos colegas de recreio. Não sei já com que ardil surripiou-me vinte e cinco tostões que me deixara a tia Joaquina na visita da tarde, para que comprasse, se conseguisse, meia dúzia de pacotes de bolachas quando se acabassem os que me trouxera. Nunca mais esqueci essa trapaça. Nem o Monginho, que há trinta ou mais anos não vejo.

As primeiras vezes marcam.

Entre os documentos, um deferimento de vereador do pelouro na altura. Confirmava-se em termos legais a capacidade técnica do senhor Andreas Livorno Bertini para assumir responsabilidades no ramo da electricidade e electromecânica, em obras até ao valor deliberado em reunião de câmara, de cinquenta mil escudos. Não imagino quanto essa importância significaria agora. Lembro é que o engenheiro Bertini estava em todas as obras, das maiores às mais pequenas, trabalhava incansavelmente, e era considerado e respeitado na urbe. Cedo deve ter abandonado a sua zona de conforto para se instalar entre nós, aproveitando as oportunidades que este país de sol, como o dele, tinha para lhe oferecer. Foi dos primeiros e quase únicos conterrâneos a ter um automóvel Mercedes, o que na época não era, como hoje, coisa que qualquer gato-pingado tivesse. Curiosamente não me recordo de o ter ouvido designar-se a si mesmo de engenheiro.

Agrafado ao processo nas minhas mãos um seu cartão de visita apelava ao favor de uma resolução rápida, e nada de engenheiro, nada de diplomado nisto ou naquilo, diplomado sim, diplomado pela Scuola Professionale di Ingegneria, Elettrica e Electromecânica di Milano, Ufficio Scolastico Provinciale di Milano.  Hoje, olhando os documentos na minha mão, duvido que a razão não estivesse do lado dele. Chamavam-lhe senhor engenheiro, atribuíram-lhe capacidades idênticas, nunca solicitou que como tal o creditassem, embora respondesse ao chamamento.

Aqui chamam engenheiro a qualquer um deve ter pensado…

E, contemplando os papéis, mais me convenço que o nosso engenheiro Bertini, de quem muitos dos profissionais mais velhos na área se lembrarão e terão sido aprendizes, foi, entre nós, o primeiro caso, a primeira vez que um aluno de um curso das Novas Oportunidades apresentou sucesso.

Em terra de cegos quem tem olho é rei.

O nível de aprendizagem, a natureza das matérias e a origem da entidade formadora não me deixaram dúvidas.

Frente a elas um vereador desta cidade, há quarenta ou mais anos, assinou de cruz.

Terá sido a primeira vez ?

Sarampo ?


Nunca mais tive…