sábado, 25 de julho de 2015

258 - TODA A MULHER É ÚNICA .............................


              Não há duas mulheres iguais, nem as gémeas o são, nasceram a horas diferentes, por vezes com segundos de diferença, além de que terão tido ao longo da vida experiências diversasdiversas dores, vivências e alegrias esculpindo nelas caracteres e personalidades próprias.

Contudo, todavia mas porém cada uma das mulheres deste mundo cultiva uma peculiaridade que sobressai aos nossos olhos, ou ao nosso coração, e que a torna diferente das demais. Podemos dizer nesse caso que essa mulher é única, é única nesse particular, nesse aspecto, nessa peculiaridade, e é única para nós que a olhamos, porque tal como a questão que o meu amigo Cainha aqui levantou há uns dias, observador e observado influenciam-se mutuamente, interagem a ponto de um poder modificar o outro. Logo, o que eu vejo na faceta que tal objecto da observação me mostra outros poderão não ver, e até talvez vejam nele perspectivas que eu não lobrigara. Portanto, também a mulher objecto de observação (não mulher objecto), será em determinado momento e para quaisquer indeterminadas pessoas um ser único, uma pessoa única, uma mulher única entre os quatro biliões de mulheres que compõem este planeta. Não, não sendo um fenómeno, não deixa de ser coisa fenomenal.

É neste quadro, ou sob esta perspectiva, que todas as outras qualidades que essa mulher possa possuir, e os defeitos ou deméritos, passam também a ser para esse mesmo observador, aspectos secundários, menorizados, aspectos aos quais jamais dará importância, pelo menos não lhes dará importância suficiente para ofuscar o que nela vê de único. Enquanto ela mantiver a peculiaridade que aos olhos dele a tornou única, manter-se-á única, perdida essa particularidade todos os méritos se perdem com ela. Perdido o encanto, diria então que perdeu a graça, ou deixou de ser engraçada, já que neste mundo mais vale cair em graça do que ser engraçado, como todos bem sabemos.

Esta retórica filosófica de hoje nasceu à mesa do café, pois logo cedinho o sol aqueceu como na Grécia e as cervejas escorreram goela abaixo colmatando uma canícula que não se sentia há mais de 80 anos, assim gritava o cabeçalho do jornal que o Amadeu Coelho vinha arvorando na mão mas, fosse qual fosse a tirada, de nada teria valido ao Amadeu já que de imediato alguém que o conhece bem lhe atirou:

- Não venhas com merdas porque qualquer que seja o assunto não te sentas aqui na mesa sem primeiro mandares vir uma rodada, já te conheço suficientemente bem, e nem sou nenhuma das tuas mulheres…

Estava entornado o caldo, não porque a Amadeu Coelho fosse bígamo, que o não era, verdade que tivera várias mulheres, ia na quinta, mas diga-se em abono do desgraçado que apenas uma de cada vez. O caso é que o facto de o Amadeu já ter sido casado tantas vezes lhe pesava, ele era daqueles que não se contentava com o que numa mulher a tornasse única, para ele todas seriam únicas, e nesse particular as quereria a todas só para si, ainda que a malta o castigasse amiúde com picardias do género;

- Tu não podes ser bom, pois por onde tens parado todas têm corrido contigo.

Ao que ele contrapunha buscar e continuar buscando enquanto a saúde e a idade lho permitissem, a mulher ideal, que, sem êxito, há tanto tempo procurava sem que a encontrasse. Embora de poucas falas a Carmelinda nunca perdia a ocasião de lhe atirar à cara:

- Nas Caldas, manda fazer uma de barro e a desejo nas Caldas. (Caldas da Rainha, apresso-me a esclarecer antes que vossas senhorias dêem outro rumo à conversa e que ela não tinha, ou tinha). E rematava emborcando de uma vez a caneca, ou o copo, dependendo do que tivesse à frente, levantando-se e atirando ao Amadeu já de abalada:

- Olha ó perfeitinho, já agora paga a conta, para que pelo menos uma vez na vida alguém te veja a cor, aposto que nem as mulheres por ti tidas a viram meu Coelho de merda…

Nunca havia discussão, por muito que o Amadeu ficasse a espumar e vermelho de raiva a Carmelinda sumia-se num instante pelas escadas do prédio, paredes-meias com o café. Consta-se que certa vez tendo ele ficado sozinho na esplanada ela lhe atirara um alguidar de água acima, a verdade é nunca se ter apurado de que andar a trovoada caíra.

A questão da mulher única, única entre os quatro biliões delas que o mundo carrega tem muito que se lhe diga, estudos demográficos e estatisticos reduzem esse mundo por vezes a uns escassos milhares ou escassas centenas, quando não meras dezenas… Está provado que escolhemos a mulher única geralmente no nosso mundo, e o nosso mundo é a nossa cidade, a nossa vila, a nossa aldeia, e por vezes o nosso bairro, a nossa rua, escola, sala de aulas, a turma, o escritório, a fábrica, ou o café frequentado, e mesmo aí nesse circunscrito universo, fazemo-lo geralmente dentro do nosso escalão social, cultural ou económico. 

Não há duvida que os predicados da mulher única ficam agora circunscritos a uma galáxia de possibilidades ou escolhas muito mais reduzida, mas igualmente o olhar delas sobre nós, que pudendo recair noutra dimensão provavelmente lhes daria também a elas a hipótese de encontrar alguém com muitos mais pergaminhos, alguém com mais interesse ou interessante que nós para ser mais claro. Que isso nos sirva ao menos para cultivarmos a modéstia, haverá por aí bué de milhares de homens por quem as nossas queridas e únicas mulheres nos poderiam trocar sem pensar duas vezes. Vale-nos o facto do amor ser cego, ou cegar… Parece que com o Amadeu elas abrem os olhos bem cedo e se metem a milhas, alguma qualidade escondida ele terá que a malta ignora…

São tantas as coisas que perante nós poderão fazer de uma mulher única como mulheres há neste mundo, há gostos para tudo, dos olhos profundos ao nariz arrebitado, da covinha no queixo aos seios empinados, ao sinal na face, ou ao cabelo, penteado ou despenteado. Pessoalmente gosto de mulheres modestas, minimamente cultas (muito cultas não, geralmente ninguém dá conta delas, nem na cama são grande coisa, sei do que falo, tive uma assim),* mas há quem as adore pretensiosas, e até dominadoras. Como disse há gostos para tudo e desde que isso não prejudique ninguém, nem nos mate, tudo bem…

O meu amigo Ramires, que enterrámos o ano passado e sobrevivera apenas dois anos à morte da extremosa esposa, faleceu devido à ausência dela, todos nós o sabemos. A amiga Mavilde ia muito além do papel da devota esposa do saudoso Ramires, a Mavilde era mãe dele e sem ela sentiu-se perdido. A terna Mavilde dava-lhe colinho, e mama, não era segredo para ninguém, provavelmente o Ramires já a elegera pelos seios fartos, talvez lembrando-lhe a mãe, sei lá, essa senhora não a conheci eu, este cenário é coisa que imaginamos e até já discutimos todos à mesa do café, e quando digo todos refiro-me à roda de amigos (e amigas). Temos de comum e pacífico que a primeira vez que a Mavilde lhe terá dado ordens após a mama conseguiu o pleno, dois em um, tornando-se para o Ramires a mulher única, a mulher dos seus sonhos, seios fartos, mãe autoritária, epicentro de segurança. Ela morrera de acidente coitada, uma distracção e caíra no poço do elevador da Misericórdia, mas ele morreu de saudades, da falta dela, e todos sabemos quanto e durante tantos anos ela o fizera bem feliz.

Não se casou o Cesário com a Martinha por se ter apaixonado ao vê-la fazer bolos ? Não resistiu ao cheirinho, nem ao chocolate, ou aos morangos com chantily, há pelo menos duas décadas que se enfarinham mutuamente, e sempre felicíssimos aqueles dois !

A sensualidade tem razões que a razão desconhece, agora não, e nem o faço por uma questão de respeito, mas sim porque mudei, as pessoas com os anos mudam, vá lá, concedo que o faço também para a não recordar, nesse aspecto ela fora única, e não posso dizer que a dezena de anos casados não tenham sido de amor e felicidade, a coisa ficava entre nós, não extravasava, a Rorinha adorava gritar, guinchar e falar mal, sim, largar palavrões, abusar do vernáculo. Quando na cama transmutava-se, e transmutava-me a mim. Faleceu numa ocasião dessas, com uma arritmia que a fulminou. Fui muito feliz com a Rorinha, o senhor lhe tenha em descanso a alminha. Não a teria trocado por nada nem por ninguém, mas o apelo do Senhor falou mais alto…

Gosto da que tenho agora, com quem me dou maravilhosamente, com quem embirro casualmente, que me azucrina, a quem espeto alfinetadas, pico, e com quem me zango de vez em quando. É girinha, mais para o pequeno que o grande, adoro-lhe sobretudo os cabelos, os olhos, os lábios, o sorriso, é divertida e alegre qb, e uma boa amiga, sendo sobretudo terna, amorosa e querida. Soube tornar-se numa mulher única, e atura-me, o que não deve ser nada fácil, se bem me conheço.

E vocês que têm de único para oferecer ?
   
* Nota: este parêntesis não se destina a contemplar as minhas amigas que amiúde me sarrazinam a cabeça com críticas descabeladas, aliás, algumas nem perceberiam a piada.



terça-feira, 21 de julho de 2015

257 - ARRANJA-SE EMPREGO * Parte 4…............…


                Agora, que já te vais familiarizando com a coisa, é chegada a altura de dar um avanço na dita e o momento p'ra fazermos um suponhamos. Supõe que tens a formação efectuada e que, mau grado o 9º, ou o 12º ano, ou alguma licenciatura que tenhas não te servem para nada. Ainda tentaste um mestrado, de seguida um doutoramento, igualmente para nada. Neste pais não tens a mínima hipótese de saída profissional, ainda por cima teimas não aderir a um partido… E emigrar não queres… Serás como eu, que sou teimoso e entendo esta terra minha, dos portugueses, e não acho justo que justamente os outros, os estrangeiros, sejam quem nela tem maiores oportunidades e nível de vida… Eles compram tudo e não nos deixam nada…

Olhamos para os Salgados, para os Oliveira e Costa, para os Rendeiro, para os Dias Loureiro, para os Lima e tantos outros e perdemos a fé na justiça. Há muito conclui que nesta terra vale a pena ser sério, sobretudo se esperarmos um lugarzinho no céu. Por isso deduzo que farás as tuas contas, como eu fiz as minhas, cujo resultado foi ainda acreditar nesta democracia. Ela terá também uma oportunidade p'ra mim, assim eu queira, assim eu saiba, assim eu resolva os problemas de consciência que, desgraçadamente me afligem a moleirinha. Toda essa gente que atrás citei, ou não tem problemas ou não tem consciência, ou nenhuma das duas. No tempo de Salazar era tudo mais fácil, nem essa tal gente teria ousado, seriam chamados à pedra de manhã e atirados para o Aljube ou Caxias à tarde, e antes que piscassem um olho os bens estariam confiscados. Agora é diferente, temos democracia e temos justiça, e leis, e buracos, e virgulas, e legalismos processuais que permitem a quem tenha dinheiro eternizar os processos até à prescrição, ou até que os netos morram de velhos…

Subtil, disfarçada, camuflada, a luta de classes aí está para te tornar servo da gleba de novo.  A escolha é tua, sim ou sopas ?

Meio mundo a foder o outro meio mundo, desejas ficar por cima ou por baixo ? Faz como o Catroga que soube escolher bem … Ele e tantos, desde a 1ª República que não se via nada assim…

Continuando o nosso suponhamos, fizeste as tuas contas, fizeste a tua opção, fizeste a tua revisãozinha moral e constitucional, e supondo teres concluído que a democracia jamais se ajustará a ti, irás tu ajustar-te a esta democracia. Muito bem, ou muito mal, já que se há alguém que não deve meter prego nem estopa sou eu, que me devo manter a leste, não influenciar, não meter o bedelho, nada de intromissões, serás tu, terás que ser tu sozinho (a) quem terá que ultrapassar pruridos, se inda os houver.

Pois bem, vamos supor que os ultrapassaste, que leste com atenção o primeiro, segundo e terceiro textos desta série, alegadamente estarás disposto (a) a ir em frente, então entremos noutros campos, o do equipamento pessoal de auto-ajuda e o das relações pessoais e humanas, qualquer deles como verás, igual e extremamente importante para o teu desempenho e futuro, para o teu sucesso, para o aproveitamento de todas as tuas potencialidades. Vamos debruçar-nos sobre o equipamento primeiro por ser atar e pendurar, como no fumeiro, num instante despacharemos esta parte, a outra exigirá mais tempo e atenção.

Começarei pelo primordial, óculos de sol que te permitam ver sem que ninguém se aperceba para que lado ou para onde estás olhando, para disfarçadamente poderes olhar de viés… Bloco-notas, tomar nota é essencial, em muitos casos pode ser a pedra angular de um resultado, deverás observar qualquer situação muito bem antes de agires, não o faças sempre às mesmas horas nem a partir dos mesmo locais, já há dois séculos Darwin se referia e explicava a coisa aludindo à riqueza infinita da variedade, portanto varia, varia para que ninguém te estranhe e ou te denuncie, varia o local, as roupas, as horas e se possível o carro ou a mota, mas varia muito.

Vivenda, apartamento, condomínio, escritório, fábrica ? Aponta tudo muito bem, quantas pessoas, a que horas partem, a que horas voltam, quantos carros, marca, cor, modelo, se estacionam sempre no mesmo local, se frente à casa ou na garagem, voltam ao almoço, um, os dois moradores, nenhum ? Como são as portas, as janelas, existe quintal, portas e janelas nas traseiras, quem são os vizinhos, quais os seus hábitos, a que horas o carteiro costuma aparecer, existem cães ? Este questionário, que pode e deve ser constantemente melhorado e tão extenso quanto possível e as circunstâncias o permitirem e aconselharem nem é o primeiro passo, mas dar-te-á milhares de informações e poderá permitir-te laborar às claras, sem pressas, sem stress, portanto com menos risco e maior proveito. Disse o segundo passo porque o primeiro deverá abranger o “quem” ? Quem observar, quem eleger para fulcro da tua atenção ?

Se tiveres veia voyeurista escolhe gajas boas, ou machos musculosos, eu não tenho que discriminar, se tiveres outros motivos ou intenções então os teus alvos terão naturalmente que ser outros, deduzo eu. Eu que somente uma vez, e há muitos anos espreitei uma vizinha no banho, mas calma, fazia-o porque ela sabia, ela deixava, ela incentivava, e até abria a janela da casa de banho e afastava os cortinados mal acabava de me acenar e dar os bons dias. Eu fui seduzido é verdade, mas não posso dizer que tenha sido enganado, primeiro porque o produto era de primeira, e em segundo lugar porque quem acabou por casar com ela e manter-lhe os gastos caros foi o capitão Evaristo, meu vizinho, que avançou apesar dos seus sessenta e muitos, e que ainda ontem vi, aliás vi os dois (ela amparava-o carinhosamente), saindo do escritório de advogados de Honório & Otário, ali à travessa da Mangalaça.

Mas enfim, sê justo (a) e democrata, nem tudo servirá nem será eticamente indicado para alvo da nossa atenção, ainda que haja mulheres que pela sua beleza a suscitem, ou gajos bem apresentados e que a mereçam, montados em Ferraris mas com salários em dívida a centenas de trabalhadores. Nunca esqueças quão efémera é a beleza, até porque gajas boas haverá sempre, centra-te na justiça, essencialmente na justiça redistributiva, como o Robin os Bosques, ou o Zé do Telhado, para que não digam que excluo a nossa literatura.

Após esta fase de observação e selecção de alvos, sobre a qual muito mais poderás aprender em manuais de treino militares, passemos ao equipamento de uma forma rápida e geral, superficial, pois a prática e as necessidades que sentires em cada ocasião te aconselharão a ir melhorando esse arsenal, até por não haver muitas situações iguais, como concluirás. Já tens óculos de sol, bloco-notas, pois arranja também binóculos bons, anti reflexo, e se possível uns que te permitam tirar distancias e tirar fotos, já estão no mercado uns digitais, ainda caros, mas um must !  Gravam e fotografam tudo, até fazem pequenos vídeos como os telemóveis e gravam as observações verbais que lhes queiras adicionar ! Depois e genericamente, luvas finas de algodão, há baratas em qualquer hipermercado, atenção, nunca as uses mais que numa ocasião e tem cuidado a desfazer-te delas, como aliás do bloco-notas etc etc etc… Todo o cuidado é pouco, assegura-te que essas provas sejam mesmo destruídas.  

Continuando, uma dúzia de ténis discretos e baratos cuja sola seja sempre desigual, também não devem ser utilizados mais que uma vez, destrói-os sem complacência depois de utilizados, se usares sempre os mesmos qualquer perícia e observação atenta será capaz de provar em quantos e quais os lugares onde passaste ou estiveste…. Um aparte, usa o cabelo curto, (caem menos) e os bolsos tanto quanto possível vazios, tal reduzirá as hipóteses de, inadvertidamente deixar pistas nos locais visitados. Nunca abandones ou atires fora um lenço onde cuspiste, te assoaste ou limpaste, temos tendência a atirá-los fora, quer para o lixo quer para a sanita, e mesmo nessas, nunca urines ou defeques quando estiveres a trabalhar, nem que puxes dez vezes o autoclismo, o ADN agarra-se a tudo, e nunca o vemos…

E finalmente o estojo, deverás compor um com várias ferramentas, um canivete suíço e um apalpa folga adaptados, um busca polos daqueles com fio entre o ânodo e o cátodo (normalmente trazem um fio de 20 a 30 cm), fio que substituirás por outro de 2, 3 ou 5 metros de alcance. Uma ventosa e um bom corta vidro de diamante, digo bom porque os baratos acabam por sair caros… e nunca cortes o vidro do mesmo modo pois isso acabará como sendo uma “assinatura” que te identificará. O modus operandi já tem mandado a baixo resultados muito bons…Habitua-te a usar e a levar roupas justas e discretas, roupas que não prendam os movimentos nem se prendam deixando comprometedores bocados… até um fio nos codilha… as coisas falam... Podes até ter fardas, dos serviços de gás, de electricidade, dos telefones, das águas, não esqueças o boné, cuja pala deve recair sobre o rosto, como não deves esquecer os emblemas dessas entidades e o uso de uma ficha/questionário elaborada por ti e para recolha de informação.

Tais adereços permitir-te-ão entrar nas residências em quaisquer altura em que os ocupantes lá se encontrem, e assim poderás “ver” os equipamentos e, claro, aproveitares para observares outros pormenores, tranca-portas, alarmes, outros familiares que também habitem a casa, gatos, quadros, castiçais, bibelots, porcelanas, pratas, guarda-jóias, estanhos, terás que treinar o olhar até se tornar fotográfico, tens bons argumentos para seguir canalizações, torneiras, tomadas e fios eléctricos, de telefones e cabo, chuveiros e esquentadores, desculpas que te permitirão deambular por toda a casa e, mal saias, registar as peculiaridades no bloco-notas antes que te esqueças do que viste. Atenção a esse bloco, dar-te-á muito, mas também te pode dar uns bons anos de arrelias, o bloco ou imagens que fiquem nos binóculos, telemóveis, máquinas fotográficas ou pc’s. Aprende a limpar tudo, mas a limpar mesmo e não só apagar.

O resto são trivialidades, um alicate, uma chave de fendas forte, ou várias, uma gazua não pois daria muito nas vistas, em vez dela um desmonta pneus preferencialmente usado fará melhor, passará despercebido, e sempre podes alegar ter sido esquecido dentro do carro por alguma oficina onde tenhas estado, uma pequena lanterna de foco fraco e concentrado também será de muita utilidade e não chamará a atenção a partir do exterior, o que para já completará o nosso estojo, a vida e a prática te aconselharão melhor que eu a torná-lo mais e mais completo e bem apetrechado. Ah ! Uma marreta de mão e um punção serão muito uteis para sacar canhões de fechaduras…

Por hoje é tudo, já estou a adivinhar a tal gaja a espumar pelos cantos da boca, na nossa próxima e última aula abordaremos a complexa questão das relações sociais e humanas sob variadíssimas perspectivas, é a parte que geralmente toda a gente adora. Incluindo eu.

* http://mentcapto.blogspot.pt/2015/07/256-arranja-se-emprego-parte-3.html


segunda-feira, 20 de julho de 2015

256 - ARRANJA-SE EMPREGO * Parte 3 ……......…


Parte 3
Ainda a loja não abriu e já começaram a chover criticas, que sou arrogante, que sou convencido, que armo aos cágados, que intimido, que não me despacho com o assunto. O pessoal pode ser do piorinho, nunca comentam em público, fazem-no pelas costas, pela calada, ora se se tratasse de engates e negócios de cama eu ainda perceberia o secretismo, até o recomendaria, mas não sendo o caso só entendo a coisa como cobardia, cobardia de fazerem como eu faço, exponho-me, e qual o problema ? Meia dúzia de ignorantes chamarem-me convencido ? Ok ta bem, eu aguento, com isso eu posso, com isso e com muito mais !

Mas voltemos à vaca fria que esta malta do secretismo é como aqueles tais que toda a gente conhece, empata fodas, nem fodem nem deixam foder… Antes desta polémica estava eu meditando ter aprendido tarde ser a vida curta. Não fosse já ter ultrapassados os cinquenta, daqui a meia dúzia de anos serão já sessenta, enveredaria por esta carreira sem a menor dúvida ou hesitação. Agora é tarde, uma fístula num joelho não me deixa correr, e uma hérnia inguinal obriga-me a usar funda p’ra segurar um tomate, ou andaria sempre pendente, a badalar, a incomodar, a atrapalhar. Sinceramente não me estou vendo um profissional de sucesso e elevado potencial com os tomates pendurados, o que seria pior que pendurado pelos ditos. 

               A formação e carreira que recomendo destina-se inequivocamente a malta nova, coisa que aposto já toda a gente terá percebido. Quando muito transmitir-lhes-ei a minha experiência de cinquentenário bastante vivido, mas isso é coisa à parte, não será pága e nem consta no curriculo.

Tenho que me concentrar no que interessa porra, hoje estou a afastar-me demasiado, tudo por causa daquela gaja maluca que está sempre a recalcitrar, sempre do contra, tomara que o marido a emprenhe outra vez, ou o marido ou alguém com tomates já que estávamos falando disso, com três filhos restar-lhe-á decerto muito pouco tempo para me azucrinar a cabeça, ou ainda me verei a participar dela às autoridades por assédio moral, ou moralista.

Claro que as conversas são como as cerejas que se comem umas atrás das outras, falou-se em autoridade, autoridade leis, leis códigos, e claro enquadramentos legais, mecanismos legais, formalismos legais, acusação, defesa, prova, contraprova, contraditório, todo um mundo onde quem não se saiba mover ou que o não entenda sairá sempre a perder. Também constitui preocupação minha a cobertura legal da tua actividade. Estudarás alguns elementos do nosso Código Penal, Cível e Criminal, o que só te dará mais bagagem, mais conhecimentos, mais à vontade, mais auto controle, mais segurança, mais confiança e sobretudo tolerância, paciência e sangue frio no exercício da profissão, outros códigos, como o Comercial, por exemplo, não interessam de todo nesta formação.

Esta minha preocupação prende-se com o facto singular de te querer preparado para reagir a toda e qualquer situação, se fores apanhado (a) numa situação inesperada como vais reagir ? Debaixo da razão ou da emoção ? E vais disparar, como fez o cabo Hugo Ernano contra um bandido desarmado ? (a quem por infelicidade matou o filho). Também tu puxarás de uma carabina contra uma mosca ? Também tu irás arranjar-te problemas a ti mesmo (a) desnecessariamente ? E optarás por andar armado (a) ou desarmado (a) ? Há todo um conjunto de normas, regulamentos, leis e medidas que estipulam quem, como e quando, ou em que casos é lícito usar uma arma, e como foi ela usada ? Como defesa ? Como meio de ataque ? O portador tinha licença de uso e porte de arma ou não ? De múltiplos factores dependerá a condenação e a pena, geralmente nestes casos pesa muitíssimo em desfavor a nossa ignorância. Bem, a ignorância pesa sempre, mas nalguns casos pode fazer a diferença entre pena nenhuma, pena suspensa, liberdade condicional ou uma pena dura. Giro não é ? O cabo Hugo Ernano que o diga que não deve achar agora graça nenhuma ao facto de ter infringido levianamente o regulamento de uso e porte de arma por um militar, no caso paramilitar… Eu diria que foi vitima de uma má formação, talvez até péssima, e, é notório que a cabeça também não o ajudou.

Aposto que irás achar graça ao eclectismo das matérias a abordar, aposto que aos poucos te sentirás mais completo (a), mais seguro (a) de ti, mais informado sobre e acerca do mundo em que te movias, moves e moverás. Aposto que passarás a ver com outros olhos muitas coisas que não te suscitavam o menor interesse, e outras que pura e simplesmente nem entenderias e das quais por isso te alhearias, na vida somos como as policias, que só sabem o que lhes contam, a frase não deve ser entendida literalmente mas tem muito de verdade, sendo um aspecto sobre o qual na formação nos debruçaremos detalhadamente, pois quem, ou o que poderá contar imensas coisas à policia abrange um vasto leque de situações, atitudes e comportamentos, já para não falar em provas materiais, as quais, submetidas a uma qualquer perícia, falam pelos cotovelos, contam coisas, e podem ser determinantes no resultado de uma investigação. 

A vida não é como a vês nos filmes, os filmes que vês é que são como a vida, é preciso não confundir as coisas, e sobretudo estar atento. O sucesso ou insucesso de quaisquer acções pode ser decidido por uma beata deixada no local, uma mijadela dada ou uma escarreta atirada com desdém. Uma pegada, uma dedada num copo ou numa garrafa, numa maçaneta de porta, numa torneira, num vidro, são coisas que contam e falam muito. As coisas são como são, e quem procura acha, tal como quem espera sempre alcança. As coisas não são aleatórias, aleatório pode ser sim o pensamento que te passa pela cabeça, e uma cabeça distraída, ou ignorante, ou mal formada, terá razão de queixa de tudo e tenderá a afirmar que tudo e todos estão contra ela, quando na generalidade dos casos, somente de si se poderá queixar.

Prevenir, precaver, terá que, a par do seguimento das normas de higiene e segurança no trabalho, ser uma constante a transformar em modo de ser e de agir. Capice ? Espero que aos poucos te estejas embrenhando no espirito da coisa, porque a coisa não se articula bem com paternalismos ou moralismos serôdios, antes pelo contrário, exigirá de ti uma atitude fundamental, sólida, estruturada, atrever-me-ia a dizer que eticamente irrepreensível. Tudo se resume a uma questão moral, e terás que estar preparado (a) para quando necessário te substituíres neste capitulo ao próprio Estado, que fala, fala, fala, mas não faz nada, não cumpre. Basta olhar em redor e observar como o Estado redistribui a pouca riqueza que o país produz.

Deixo essa avaliação e apreciação a cada um de vocês. A cada um e até àqueles que nunca tiveram trabalho nem nunca terão, nem tiveram RSI nem nunca terão, que já tenham tido, ou não tido subsidio de desemprego mas que nem isso voltarão a ter, e àqueles que nunca conheceram outra situação que não o desemprego, os contractos a prazo de quinhentos euros ou a precaridade. Deixo esse julgamento aos jovens, às mães e pais que nunca o serão e que jamais constituirão família, ou um lar, a menos que fujam daqui …

Deixo isso a vomecês que eu detesto imiscuir-me na política, hoje é domingo, a cerveja ta da cor do sol e o sol queima como estes grelhados que já fumegam na brasa, venha mais uma dúzia para a mesa, loirinhas, fresquinhas, e a espumar c’a malta já se está a babar….

(continuará num próximo texto)  

P.S. – E para a tal personagem recalcitrante de que vos falei ao principio, saia um balde de merda bem, provido, e com gelo !






domingo, 19 de julho de 2015

255 - FRAGRÂNCIAS DE ONTEM E DE HOJE ...…..

              
             Parei a mota no lugar a elas destinado e, ao levantar a cabeça p’ra retirar o capacete quedei-me pasmado, olhando a loja em frente, a fachada e o fundo, um sorriso empático dançando numa boca tinta de vermelho e, assim como que pisando alfombra ou levitando numa nuvem, senti a ilusória frescura do jardim de Hespérides enquanto na minha mente um filme antigo era rebobinado e o passado lembrado como caindo a conta-gotas.

... «Kermesse de France, Phragrancias de Europa para a mulher ideal, assim mesmo, com ph, montra em vidro negro biselado a dourado, decerto da mesma idade,  Paris, loucura, anos vinte, Casa phundada em 1927, ... ta explicada a coisa, a coisa e o estilizado novecentista de uns lábios e de umas pernas no vidro da montra e cujo significado demorei  séculos a entender, ... os lábios retintos de vermelho da velhinha, teria sido bailarina ? aprumada, arranjada, linda, já não há velhinhas assim, um dia plof e a loja para trespasse, mais uma…» * ...

Rejubilei, e quando acordei mirei tudo com redobrada atenção, já que assistia in vivo à ressurreição de um passado, agora sem os limos nem as cores esverdeadas que os náufragos e os mortos invariavelmente arrastam ou trazem agarrados a si.

Depeniquei-me propositadamente p’ra me confirmar acordado, pois se tratava de caso único nos anais do esoterismo, cujo karma decerto atrevidamente me convocara para lhe testemunhar a aura e lhe espalhar a palavra, o conhecimento e a luz delas emanadas. Saibam portanto os eborenses e outros habitantes deste mundo que a “Kermesse de France” * não morreu, está viva, vivinha da Silva, ou da Costa, mais linda que nunca e recomenda-se, passai palavra ou copiai e partilhai este edital.

«Kermesse de France, Phragrancias de Europa para a mulher ideal» * Não tem já a singeleza dos antigos dizeres, ou biselados dourados, mas mantém as prateleiras preenchidas de aromas de encantar, filhos dos mais famosos narizes do mundo, segundo tive ocasião de constatar.

Não fora convidado mas não me fiz esperar, de capacete na mão, c’a boca aberta de deslumbramento, deixei-me levar, deixei-me entrar, recordar, mirar, medir, comparar, embevecer e conquistar. Há menos folhetos agora, menos desperdício de papel, logo mais árvores e mais natureza, há modernos telefones, computadores, programas, tábua de Excel e formação. Há ali muito marketing e muito profissionalismo, sites, forte presença nas redes sociais, campanhas, equipamentos, demonstrações, vendas, agressividade, produtividade. Nada parece ter sido deixado ao acaso.

Enquanto a cidade continua afundando-se, na gruta de Trofônio, ali assiste-se à ressurreição dos mortos, ao pulsar da vida, latejando, lutando, persistindo. A loja mudou de donos, compreensivelmente de marcas, mas não mudou de ramo, provavelmente nem de clientes, certamente dentro de poucos anos poderá dar-se ao luxo de comemorar o seu centenário.

Encostado ao balcão eu remirava tudo, uma cliente foi simpática, longa e exemplarmente atendida pela Marléne de France que, debitando conselhos, olhando o PC advertia-a para a vantagem das campanhas, atenciosa, solicita, paciente. Tudo isso eu vi, numa inusitada deferência de onde somente me restou ajuizar do conhecimento personalizado tido da cliente, que amavelmente foi convidada a visitar e a voltar à loja, e da enorme preparação exigida por tão paciente quão profissional atendimento.

Ao fundo dessa loja outra abelha obreira mexia e completava a larga gama de ofertas da colmeia, enquanto eu, esquecido da exposição do José Cachatra onde inicialmente a intenção me levara naquela manhã, ali jazia embasbacado, de máquina fotográfica na mão, preparado pra captar a alquimia do presente, olhando a sorridente Marléne de France, parecidíssima com a velhinha guardada nas minhas velhinhas memórias precisamente quando eu um catraio e ela velhinha coisa nenhuma … «ainda hoje recordo tudo menos a mulher ideal, que nunca conheci, se me gravou na mente quando do meu exame de acesso à escola preparatória e nunca mais, ... casei com uma santa mas a mulher ideal nunca, ainda hoje sonho conhecê-la, não passa de um sonho, já nessa época a Europa só sonhos, e a única verdade que lembro é a mesma senhorinha linda que desde esse exame segurava  o leme ao balcão da loja, magra como um fuso e elegante que nem bailarina de can-can» *

E eu esperando o alinhamento dos chacras a fim de disparar a máquina e aprisionar para a posteridade o espírito, a essência da coisa, coisa de que afinal me esquecia, tão enfronhado quão distraído estava de mim e da coisa em si que quando acordei pedi à Cátia de France um perfume, “Jardim de Évora”, somente para dar à minha presença maior peso e solenidade, tndo todavia recebido um serviço completo e, hoje sei que tal perfume encerra essências alentejanas e mediterrânicas , nasceu em Chartres, França, a capital do perfume, tendo sido lançado após geminação das duas cidades.

Meia hora mais tarde, conversando com alguém que encontrara à saída da exposição do Cachatra, era-me dito ter a cidade concorrido a verbas dos Fundos Comunitários Europeus, ou da Fundação Luso Americana Para o Desenvolvimento, c’o fito de levantar e reparar o piso de quase todas as calçadas e ruas da velha urbe, velhas de séculos e, mais coisa menos coisa obra para uns dez anos ou mais. A fonte era suspeita, mas a minha esperança na recuperação do nosso querido burgo levou-me a acreditar. Secalhando nada acontece aleatoriamente ou por acaso, secalhando terei mesmo razões para crer no inacreditável.

Na mudança do século os astros parecem ter-se conjugado de modo especialmente desfavorável para Évora, a cidade definhou abrupta e visivelmente com más vibrações desde então. Alimento esperanças que a ressurreição esteja aí, para que, tal como quando eu gaiato, possa rejubilar como no passado e voltar a ver em cada dia novas lojas e empresas florescendo como cogumelos. Agora encerram diariamente a um ritmo alucinante, e não é nenhuma miragem.

Recordo ainda a abertura das oficina do Xico dos Pombos e do Espingardeiro, até a do Pássaro Gago, numa ruela apertada e que depois foi passada ao Picaró, como lembro o tugúrio na rua do Muro de que o Z.L. Zurzica (infelizmente deixou-nos há bem pouco) transformou numa empresa de eleição, ali mesmo ao lado estava o industrial mais simpático que conheci, Varela Tenório de sua graça e pessoa nos antípodas do correctíssimo senhor Abêbora, em cuja oficina no Lº. de S. Domingos andávamos de patins, tão comprida era.

Secalhando será verdade que, de cinquenta em cinquenta anos o alinhamento dos planetas oferece, ou permite que tal conjugação seja a espoleta de mudanças nesse sentido, e secalhando a morrinha que tomou conta da cidade principie cedendo e aquela loja seja o primeiro sinal de mudança, de regeneração, de resiliência.

Dantes vinha gente de Lisboa apostar aqui, o Graça, o Guerra, que com ajuda do Fernando Maudslay e do Carreira deram mais vida àquela empresa que ritmo hoje presenciamos numa feira. Depois, mais abaixo, o Rodrigues e o sô Manel mais o Tremezinho deram um empurrão valente na ajuda à agricultura, e não só eles, os irmãos Silva atingiram a órbita sideral por esses dias, lançaram-se nos tractores Hanomag, furgões comerciais, ceifeiras Laverda, tal como o Peleiro (a quem muitos por ouvirem mal chamavam Poleiro), que desposou o Liberato e em vez de peles se puseram a vender Toyotas a toda a gente. 

Raro era o dia em que meia dúzia de novas empresas não fossem inauguradas, alguém que o tente agora e verá os trabalhos em que se mete, pagamentos por conta, taxas, taxinhas, derramas e regulamentos, não há Município que não caia em cima do desgraçado, até o Estado, que já não vive à custa de quem pode, agora complica a vidinha a toda a gente sem excepção, é mais democrático. E dentro dele a constelação ASAE, um estado dentro do estado. Tornámo-nos um país enleado nas suas próprias leis e contradições, de tal modo que a iniciativa em vez de aplaudida acaba por ser combatida.

Antigamente qualquer um amealhava uns tostões, aventurava-se por sua conta e abria uma empresa, agora mal ganhará para comer quanto mais para juntar poupanças, isto se não estiver dependente da sopa dos pobres… Ganhámos, em Portugal acabámos com todos os capitalistas, agora mendigamos investimento a estrangeiros e qualquer dia seremos todos metecos deles. Os que “matámos“ eram certamente capitalistas, mas eram os nossos capitalistas. Não imagino, mas será que ser escravo do capital estrangeiro é um outro luxo ?…

Deve ser verdade que a democracia nos fica curta nas mangas, o pior é que está a matar-nos, mas ao contrário do que eu mesmo imaginara, esta loja sobreviveu à hecatombe que sobre este país se abateu, é que, sabem, nasceu há mais de cem anos sob um outro astral…











254 - ARRANJA-SE EMPREGO * Parte 2 ……..….


Parte 2
As linhas apresentadas no texto anterior* são, modo geral, as directrizes que balizam e possibilitam a formação de um profissional independente, de resto, a vontade de adquirir um talento, e ser senhor de si mesmo, ou senhora de si mesma, dependerá de ti, é uma especialização destinada a altos voos, largamente remunerada e garantida, pelo que abraçar ou não uma carreira free lancer de elevado potencial como os publicitários costumam dizer e exagerando até, pois tantas vezes se referem a um qualquer lugar de caixeiro-viajante, o que nem é o nosso caso. Caixeiros-viajantes aqui, só se for “A Morte de Um Caixeiro Viajante”, de Arthur Miller, que aliás te aconselho vivamente a ler, como distracção.

Por falar em ler, terás que ler algumas coisinhas, não te assustes que não te recomendarei o Eça de Queirós, até por pressupor que já o tenhas lido. A bibliografia recomendada ser-te-à a seu tempo indicada, não é muita, nem fácil de obter ou arranjar. Alguém anda evitando que de um qualquer modo adquiras formação nesta área, penso já te ter confessado ser o segredo a alma do negócio. A lista andará à volta de dez obras essenciais (estou a puxar pela cabeça), sendo que o primeiro que poderás adquirir e encetar já, é de Pierre Joseph Proudhon, “O Que É a Propriedade”, e te abrirá imenso os olhos, a Editorial Estampa editou em tempos um livrinho que nem chega aos dez euros e encontrarás facilmente na WOOK, na FNAC ou em qualquer alfarrabista. É um livro rico, cheio de conteúdo e estimulará os teus princípios morais, detesto gente mal formada ou inculta, banal, e já agora deixa-me avisar-te, nunca me venhas com citações de Paulo Coelho, Rui Zink, Miguel Esteves Cardoso ou Pedro Chagas Freitas por favor. Há mais alguns como o Walter Hugo Mãe o Tordo, o Lucas Pires ou o Peixoto, mas a seu tempo saberás quais abomino.

O Capital, de Marx, e leituras de David Ricardo, Keynes e Adam Smith também farão parte da bibliografia recomendada para as matérias teóricas, se te digo tudo isto é para que avalies já um pouco as coisas e faças as tuas contas, este aviso tem-me poupado dissabores e a aturar gente que nem aprecia ler e aprecia ainda menos o saber, enfim, gente sem estofo para uma formação desta envergadura e que acabou por reclamar de mim avenças já pagas, o que naturalmente gerou atritos, me fez perder tempo e paciência, e só por não haver cheques passados nem recibos não me fez perder dinheiro. Nos tempos que correm todo o cuidado é pouco, quando aldrabões chegam a ministros já podemos fazer uma pequena ideia de como se “estará cá fora na selva”…

Nunca será demais insistir na ideia de que todo o valor que me seja pago será investimento a recuperar 10, 20, 50, ou mil vezes, tanto mais que se trata de um sector dinâmico e dos que, na nossa economia têm registado um crescimento exponencial, ainda que haja gente já instalada há espaço para gente melhor, ou bem preparada para fazer face à concorrência. No nosso mercado o que abunda é sobretudo a iniciativa desorganizada, baseada no improviso, muito à maneira portuguesa e que nem precisamos abater, funcionam noutra escala, num patamar muito abaixo daquele em que pretendo introduzir-te, pelo que se te esforçares e aplicares, guindar-te-ás a uma altura onde pura e simplesmente a concorrência nem sequer existe, ou conseguiu chegar.

De vez em quando é-me confidenciado por este ou por aquela já ter enviado, 100, 200, 500 currículos, e penso que uma até enviou mil ! Estará tudo doido ? Pensem ! Desistam de mendigar, criem a vossa própria oportunidade e tornem-se independentes de sucesso, atirem o desemprego para trás das costas. Libertem-se de salários mínimos ou de 500 euros, libertem-se de contratos, tornem-se empreendedores e inovadores de elevado potencial. Em vez de semearem currículos disfrutem dum mercado de trabalho amplo e à espera dos melhores, giram a vossa própria carreira, concentrdem-se em experiencias relevantes para a função, tornem-se profissionais qualificados (as) de low profile. Prestem contas somente a vocês mesmos. (garantido que nem ao fisco as prestarão).

Mas por falar em potencial, potencia, força, capacidade, agilidade, como vai a tua forma física ? “Mente sã em corpo são”, nunca ouviste dizer ? Fumas ? Chutas na veia ? Cheiras cola ? É bom que não, porque tudo isso, por junto ou separado, te impedirá de passares do meio da tabela adiante e sem isso não há diploma p’ra ninguém. Não é disciplina da minha lavra, mas é-o a apreciação e classificação, que não descuro. Toma nota e providencia se necessário.

Várias vezes aludi aqui ao cultivo de um low profile, pois não será despiciendo que a par da tua formação adquiras o bom hábito, repito bom hábito, de não dar nas vistas e passares despercebido (a). Isto não é um casting nem uma passagem de modelos, neste caso concreto passar anónimo (a) na multidão será uma mais-valia considerável. Deverás apresentar um ar limpo, nem demasiado asséptico nem enxovalhado, usar cores discretas, que não chamem a atenção nem pela cor nem pela forma. Um dia ajuizarás da vantagem de não ser visto nem lembrado. Idem para algum carro que tenhas, porque uma mota que não nos envergonhe dará sempre nas vistas. Pergunta-me, ou pergunta ao Varoufakis… 

A parte da formação que me cabe é, naturalmente, toda a área teórica, e já nem é pouco, porém não te assustes, corre a par uma parte prática cuja responsabilidade, não sendo minha, eu não tenho condições para leccionar, nem a nível de conhecimentos práticos nem de equipamento ou de materiais, todavia em momento algum descurarei o teu acompanhamento e progressão, até porque uma parte, sem a outra, nem faria sentido.

Penso já ter abordado a bibliografia, fi-lo de um modo geral, e, para sermos mais explícitos, adiantarei que terás que te debruçar, estudar, os rudimentos da Psicologia, da Sociologia, da Economia, o estudo da arte e dos materiais nobres, seria uma pena que, por ignorância, um dia te visses com muito dinheiro e alguém te aldrabasse com uma filigrana de pechisbeque ou te vendesse gato por lebre, uma qualquer falsificação por um Picasso. Mas não desesperes, nessa área sou entendido e fá-lo-emos com facilidade e como distracção. 

                Todo este trabalho te dou porque se não passares de um grunho (a) por muito bonito (a) que sejas, nunca facturarás nada de jeito, e até por haver necessidade de entenderes o mundo em que te moves e que, ao contrário do que pensas, concluirás nunca ter visto. Diria que se adapta perfeitamente às circunstâncias aquele velho aforismo popular “vícios privados, públicas virtudes”, terás que ser exemplar, sem dar nas vistas ou chamar a atenção sobre ti, um camaleão.

(continuará num próximo texto)